Não é novidade para ninguém, inclusive algumas vezes já falei nesta coluna, sobre as incansáveis dietas que acompanham a pessoa gorda por toda sua vida. Na maior parte das vezes NADA saudáveis. Sob o pretexto de uma vida fitness, esses comportamentos alimentares super restritivos levam a um emagrecimento que não se sustenta e, pior, causam uma série de malefícios. No entanto, aos olhos da gordofobia é apenas o emagrecimento que importa e quem emagrece passa a receber parabenizações pela nova imagem corporal que pode ser exibida por aí. Mas este texto não é sobre isso.
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Tem gente que resolve emagrecer, isso não se pode negar… E as motivações não importam aqui. Admitir que pessoas querem e seguem por esse caminho não desfaz anos de pesquisas sobre gordofobia, nem a luta contra ela. Dito isso, nesses casos, quem opta pelo emagrecimento procura acompanhamento médico, nutricional, e de condicionamento físico para gradativamente perder peso. Quando “chega lá”, no entanto, ao invés dos parabéns, vêm a crítica: “mas você estava tão bem antes!”.
“Não era isso que essa gente queria, meu deus do céu? Que eu perdesse peso?”, é o que pode pensar quem sofreu com a gordofobia e agora sofre com o que gente sem noção chama de “gordofobia ao contrário”, ou “gordofobia reversa” – que, óbvio, não existe. Na prática, essa é mais uma face do preconceito. Tem dúvidas? Pois explico:
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Primeiro, é preciso considerar que há duas variáveis nesse contexto. A primeira delas é o gênero e a eterna fiscalização do comportamento da mulher. “Comportamento e não beleza, Agnes?” Sim, com-por-ta-men-to. Como a gente bem sabe, padrões de beleza vêm e vão, mas a necessidade de controlar o feminino com toda a sua força é uma demanda que o patriarcado não esquece nunca. A mulher que emagrece na sociedade gordofóbica, em tese, deixaria de ser fiscalizada e estaria livre para viver sua vida no corpo que foi almejado para ela. Já pensou o perigo? – Contém MUITA ironia.
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A outra variável é a questão da mobilidade social que a pessoa emagrecida se privilegiaria, poderia circular pelas camadas da sociedade padrão sem questionamentos. Em uma coluna passada, falei sobre como ter o corpo padrão é um privilégio de classe, e isso tem tudo a ver com o que quero dizer agora. A verdade é que, em última instância, ninguém quer que a gente emagreça.
A pessoa gorda do rolê é o expurgo social do momento e, se ela não existir mais, de quem vão tirar sarro, fazer piada, maltratar e ignorar, tudo sob o pretexto de que “é para o nosso bem?”. Parece viagem ou exagero? Pois é sempre bom lembrar o caso do comediante que, depois de um emagrecimento severo, foi acusado de “ter perdido a graça”. Mas, afinal: ria-se com ele ou do corpo dele? Fica aí a pergunta, nem tão retórica assim.