
As notícias de mulheres que morrem ou têm graves complicações de saúde após realizarem procedimentos estéticos ou consumirem medicamentos com a intenção de perder peso são cada vez mais comuns.
A prática não é exclusividade de quem não tem acesso à informação ou a tratamentos… Mas com tantos riscos, nada velados, por que AINDA acreditamos em milagres para emagrecer?
Quando notícias como essas vêm à tona e geram repercussão, há até uma certa discussão sobre o assunto, mas que logo passa. No caso de mulheres magras, vira e mexe ouvimos algo como: Era tão bonita… Nem precisava disso!
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Além de responsabilizar a vítima pela sua própria morte ou sequela – que na verdade é consequência de uma intensa pressão social pelo corpo magro -, frases como essa reforçam a ideia de que existe alguém que de fato tem a necessidade de se submeter aos riscos para ser magra.
Outra reação comum que vemos é a de espanto, principalmente nos casos relacionados àquelas que adotam dietas extremamente restritivas. Espantam-se quando essas pessoas consomem medicamentos ilegais e/ou de procedência duvidosa, ou se submetem a procedimentos estéticos invasivos em clínicas clandestinas.
O que ninguém tem coragem de dizer é que essa surpresa é de fachada. Afinal, atire a primeira pedra quem não reproduziu, ou ao menos cogitou ter esses mesmos comportamentos visando a recompensa do corpo sonhado.
Não é só ter força de vontade
O que chamamos de ‘cultura das dietas’ é consequência do discurso motivacional que afirma: “é só ter força de vontade”; “é só querer”, como também de suas variantes mais agressivas: “é só fechar a boca” ou “é só ter vergonha na cara”. Fazem parte disso ainda as abordagens invasivas de quem mal conhece a gente e já vem oferecendo as receitas mirabolantes para “secar”.
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Depois de uma vida sendo influenciada por esses estímulos, dentro e fora de casa, no trabalho, na escola, nos relacionamentos amorosos e até nas amizades, como julgar quem se submete a tudo isso?
Se o pior acontece, é a mulher fútil e irresponsável, que só liga para a aparência, e é criticada por sucumbir à pressão. No entanto, se há o custo do risco há o emagrecimento. O que os elogios à magreza reforçam é que não há mal maior que o mal de ser gorda… A velha hipocrisia dos que pensam: “saúde em primeiro lugar”.