Mulher
Mulher GORDA
GORDA
GORDA feminista
GORDA feminista e bissexual
*Antes que me questionem, não há problema algum em ser gorda sapatona, feminista do sovaco cabeludo. A questão é totalmente outra; ou melhor, são várias questões:
Gorda sapatona, feminista do sovaco cabeludo;
putinha aborteira, odeia os homens.
Suja, não toma banho, fede;
com seu sangue de menstruação
sempre a postos para chocar a sociedade.
Quer destruir os valores tradicionais
a família, os lares.
Parece exagero que de um ponto a outro as coisas escalem tão facilmente, mas gostemos ou não, o preconceito funciona desse jeitinho. Não importa o quanto a gente grite, o que querem ver e dizer sobre nós costuma falar muito mais alto que qualquer coisa que a gente queira mostrar.
A cada informação adicionada sobre nossa identidade, os estereótipos relacionados a ela vêm de carona, e muitos deles, no geral, são construídos à base do preconceito.
No contexto da opressão é assim: se eu sou uma mulher cis, branca e de classe média, isso é menos importante do que o fato de eu ser gorda, bissexual e feminista (ainda que eu goze de privilégios).
Uma vez identificadas, essas características são associadas às referências sociais e midiáticas que se têm delas. O que parecem apenas palavras de descrição se tornam violência.
Leia mais: Como a mídia cria estereótipos que impulsionam a gordofobia
Que mal há em ser gorda? Que mal há em ser bi? Que mal há na luta pela justiça de gênero? Pois é… Em uma estrutura social fundamentada no patriarcado, na LGBTfobia e na gordofobia (ou na lesbogordofobia), apenas ser quem a gente é se torna um problema.
Quando a mulher que se relaciona afetivamente e/ou sexualmente com outra mulher se encontra com o estereótipo da gorda, o buraco passa a ser muito, muito mais embaixo.
Isso porque o que entendemos como feminilidade é, na verdade, uma performance. Para sermos entendidas como mulheres nesta sociedade precisamos, às custas de muita dor e dinheiro, tirar de nossos corpos pelos, menstruação, gordura…
Os estereótipos das mulheres gordas já são para lá de pejorativos. E os das mulheres lésbicas e bissexuais gordas parecem atender a um único propósito: nos masculinizar. Você vai ver isso neste estudo científico que acabou de ser publicado na revista Iluminuras, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Nessa masculinização, as mulheres lésbicas e bissexuais gordas também são associadas aos estereótipos da gorda nojenta, repulsiva, violenta, com dificuldades de controlar a própria raiva, intimidando outras mulheres, inclusive sexualmente, a partir do tamanho de seu corpo.
Como origem disso tudo, temos uma hipótese: a performance patriarcal e capitalista de feminilidade não contempla o corpo com seus volumes e curvas. Para a lésbica/bi gorda, então, a masculinização impede que ela seja o que é: mulher.
Não tem parte boa nessa história, mas no meio do caminho, a ressignificação começa justamente pela demarcação desses pontos: gorda sapatona do sovaco cabeludo é meu lugar de fala, e dele não abro mão. Que falemos!