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3 de fevereiro de 2020

Por que não pensar em um SPC para homens agressores?

Sejamos rede de apoio, acolhimento e informação umas com as outras, sempre!

Nós fazemos parte do Trust Project

Autorretrato “Nan One Month After Being Battered, 1984″, da fotógrafa Nan Goldin, que sofreu violência doméstica do companheiro (Reprodução)

Bora aos números e fontes: o Brasil é o 5° país que mais mata mulher no mundo segundo a ONU; a cada 2 horas uma mulher é assassinada, de acordo com o Monitor da Violência; e de quatro em quatro minutos uma dama é agredida em nosso território tupiniquim, segundo o Ministério da Saúde. Basta! 

Primeiro recado: Homens, vocês precisam aprender a lidar com mulheres mais inteligentes, mais espertas, mais interessantes, mais articuladas, mais estudadas, mais focadas, mais atraentes e mais fodas do que vocês. Lidar sem agredir, lidar sem se irritar, lidar sem matar.
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Mas o que é violência e onde é que ela começa? Compreendam que o abuso e agressão dão a largada no que ainda é tido por muitos como inofensivo. Um “cala a boca”. Um “mulher, não me irrita”. Mulher, isso não é normal, não aceite um cala a boca, tentar te silenciar verbalmente é uma agressão.
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Empurrar, apertar e te segurar firme durante uma discussão: sabe aquele cara que não aguenta o diálogo e parte para a esfera física? “Me exaltei amor, desculpas”. Não aceite. É uma agressão que pode vir mascarada como “não consegui me segurar porque gosto muito de você”. Não.
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Manipulação: no início fala exatamente o que você quer ouvir, concorda quase sempre com tudo, faz o tipo bonzinho, ótimo filho, sensível… Então começa, aos poucos, querer te podar (ideias, posturas, companhias, roupas), te diminuir (“Sério que você acha isso?”), controlar, distorcer (“Eu nunca disse isso, você está confusa), mentir (“Imagina, ela que estava me dando mole e super interessada, nem fiz nada”).

Leia mais: Conheça o PenhaS, app de enfrentamento à violência contra a mulher

Violência psicológica: mentir, manipular, xingar, ameaçar, constranger, inventar e divulgar qualquer coisa a seu respeito.

Violência sexual: falar “não” para o cara (que pode ser o seu companheiro) e mesmo assim ele forçar é estupro. Esperou você dormir e fez, é estupro. Viu que você estava alterada (bebida/drogas) e fez, é estupro. Sem mais. 

Violência moral: entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Jogo nesse bolo também a violência psicológica.

Violência patrimonial: pegar seus documentos, objetos, roupas, celular, dinheiro e não devolver. Ou destruí-los.

Negligência e abandono: intencionalidade no ato.

Tortura: castigo, crueldade e controle do outro.

Leia mais: Violência doméstica, o que é e quais são os tipos

Quem são os agressores? O Mapa da Violência Contra Mulher nos detalha algo que já estamos cansadas de saber, mas nem por isso menos chocadas: 

  1. Marido/companheiro; 
  2. Namorado; 
  3. Ex; 
  4. Irmão/cunhado; 
  5.  Pai 
  6.  Mãe (fica para um próximo momento o papo sobre Mãe Narcisista, um transtorno grave que muita gente nunca ouviu falar).

Daí que me peguei refletindo o seguinte, já que só as leis não são suficientes, né? Pensei que poderia existir, como medida preventiva obviamente, não como solução, um sistema nos moldes SPC/Serasa para agressores. Questão de segurança pública mesmo, sabe?
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Tu conhece o sujeito, papo vai, papo vem, antes de qualquer coisa para além da conversa, você vai lá munida com o nome ou o número do CPF do cara e joga no sistema que te apresenta, caso tenha, os BOs de agressão do cidadão. Antes de saber o signo e ascendente do rapaz, que não revela caráter de ninguém, você vai perguntar “Qual o seu CPF, querido?”. Para alguns, pode ser motivo de gelar a espinha.

Leia mais: Conheça os serviços previstos na Lei Maria da Penha

Sabendo que muitas, muitas mulheres não denunciam os agressores por medo, vergonha, baixa autoestima, falta de informação e abrigo, teríamos mais um sistema que não garante 100% da realidade, mas poderia ser uma alternativa de novas estratégias para auxiliar na nossa proteção contra agressores.

Continuo achando que temos muito ainda para evoluir nessa jornada, todxs. Chega de naturalizar qualquer tipo de violência, o patriarcado (e o capitalismo, nunca se esqueçam) ferra com tudo e todos.

Sintonizem com a intuição e busquem ajuda, qualquer tipo de ajuda. Falem, contem o que está rolando para alguém de confiança, se algo aparenta estar errado, possivelmente você está certa. Sejamos rede de apoio, acolhimento e informação umas com as outras, sempre!

Mulheres, não aceitem de forma alguma menos do que vocês merecem. Não aturem nem por mais 20 minutos a companhia de um macho que não suporta saber e te ver brilhar, pois isso o incomoda. 

Leia mais: Entre o machismo e o racismo

Não é sobre um ser mais do que o outro. É sobre caminhar juntos, lado a lado. É impulsionar o outro sempre para o melhor e vice-versa. É se orgulhar de quem tem a sorte de partilhar a vida conosco, porque não PRECISAMOS estar com alguém, a gente topa e QUER estar. E que seja uma ótima e desafiadora caminhada. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Como diz Beyoncé: “Okay ladies, now let’s get in formation!”.

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* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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