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mulher indigena com colares e arco na cabeça, cabelos pretos lisos e longos
5 de agosto de 2024

Esporte indígena tem ouro, prata, bronze… e cor de urucum e jenipapo

O que os atletas indígenas precisam é de investimento e oportunidade; talento há de sobra 

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Ilustração mostra uma mulher indígena usando kimono e outra mulher indígena jogando futebol. Elas usam penas e pequenos cocares. Plantas e vistas do planeta terra aparecem ao fundo.

Mais um ano olímpico chegou. Particularmente, amo Olimpíadas, e toda essa atmosfera esportiva faz a gente querer sair dando piruetas na rua, se matricular na natação, comprar um skate, virar atleta, nem que seja amador. O esporte tem essa magia. E só uma parte é vista! Você sabia que temos muitos atletas indígenas? E que alguns esportes possuem origem ou semelhanças em práticas indígenas, como o tiro com arco, a canoagem, o surfe e até mesmo o futebol e o badminton, com suas petecas. 

Da relação dos povos indígenas com as práticas esportivas nasceram os Jogos Indígenas, que tiveram sua primeira edição em 1996, idealizados por Marcos e Carlos Terena, fundadores do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena (ITC). A 1ª edição mundial do torneio foi realizada em Palmas(TO), e contou com a participação de 23 etnias brasileiras e delegações de 24 países. Um total de 2200 atletas disputaram 16 modalidades como natação, canoagem, arco e flecha, cabo de força, futebol, corrida de tora, entre outras.

Dentre os diversos atletas indígenas podemos destacar alguns como Graziela Santos, arqueira do povo Karapãna (AM), a primeira mulher indígena a compor a equipe brasileira de tiro com arco. Ela e seu irmão Gustavo fazem parte do projeto Arquearia Indígena, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). 

Nanda Baniwa, do povo Baniwa (AM), é atleta de Va’a – canoa polinésia – e representou o Brasil no TE AITO, em 2023 no Taiti. Agora ela segue para o Campeonato Mundial de Canoa Havaiana, no Havaí, que será realizado neste mês de agosto de 2024.

Atletas indígenas estão em várias modalidades

Ivanete Xerente, do povo Xerente (TO), foi a primeira jogadora de futebol indígena a assinar um contrato profissional. Ela foi contratada pelo Ferroviária de Araraquara, interior de São Paulo, na categoria sub-17. No futebol masculino temos outros exemplos: o ex-seleção brasileira Paulinho, de origem Xukuru do Ororubá (PE), e o ex-Corinthians José Sátiro do Nascimento (Índio), do povo Xukuru-Kariri (AL).

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Ainda representando o povo Xukuru de Cimbres (PE) temos Mirelle Leite, campeã brasileira sub-18 e sub-20 no atletismo. No surfe temos Diana Cristina, a Tininha, campeã brasileira, sul-americana e pan-americana. E ainda Samuel Igo, vice-campeão brasileiro e latino-americano, e Elivelton Santos, vice-campeão brasileiro Junior. Todos pertencentes ao povo Potiguara da Paraíba. 

Eu não poderia deixar de mencionar a pequena gigante Juliana Felipe, judoca do povo Yanomami (AM), que emocionou a todos nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), em junho de 2024. 

Faltam investimentos e oportunidades

Poderia ficar horas elencando os grandes atletas originários que elevam o esporte e o nome de seus povos; mostrando que, sim, esporte é coisa de indígena. Como muitos outros atletas, eles só precisam de incentivo, investimento e oportunidade. O esporte verdadeiramente transforma vidas.

As Olimpíadas de Paris já entraram na história com a maior participação de atletas mulheres. Que continuemos a tocar esse barco de romper barreiras e abrir espaço para a diversidade e pluralidade, quebrando tabus também acerca dos povos indígenas.

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Esperamos que nas próximas Olimpíadas – e em outros eventos esportivos- possamos ver não só as cores das medalhas, mas também a cor do urucum, do jenipapo e da argila.

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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