Tá chegando um dos meus eventos favoritos: os Jogos Olímpicos. É aquele momento em que o mundo inteiro vibra em mais de 30 modalidades esportivas. O encanto olímpico é tão grande que muita gente que não acompanha nenhuma modalidade durante os outros anos se emociona junto com os atletas nos pódios.
De 26 de julho até 11 de agosto, Paris será a grande sede olímpica e veremos mais de 300 eventos emocionantes. Novos esportes chegam pra somar, como o breaking, um estilo de dança urbana e um dos elementos da cultura Hip Hop, que fará sua estreia na capital francesa.
Medalha de ouro para a paridade de gênero
Essa edição já começa histórica. Além das novas modalidades, esse ano o COI (Comitê Olímpico Internacional) promete outra novidade. Pela primeira vez, em 33 edições, teremos exatamente o mesmo número de homens e mulheres nas competições: 5.250 do gênero feminino e 5.250 do gênero masculino.
Já a delegação brasileira, pela primeira vez, terá maioria feminina. Serão 153 mulheres e 124 homens.
Confesso que essa separação binária me deixa com dúvidas, já que temos pessoas como Quinn, atleta não-binária da Seleção Feminina de Futebol do Canadá. O país é o atual campeão no futebol feminino e Quinn, a primeira pessoa trans a receber uma medalha, sempre é um nome na lista de convocação.
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Por agora, vamos focar na importância desse passo para a paridade de gêneros no esporte. No futebol brasileiro, por exemplo, atletas homens e mulheres que vestem a camisa da seleção recebem o mesmo valor de diárias – em compensação ao abismo que existe quando vestem as camisetas dos clubes.
A Seleção Feminina de Futebol dos Estados Unidos também lutou por esse direito de equiparação salarial e conquistou apenas em 2022. Espero que a paridade de gênero entres os atletas se reflita também em equiparação salarial e reconhecimento em todas as modalidades esportivas.
Brasil chega nas Olimpíadas para bater mais recordes
Embora o tempo de preparação dos atletas tenha sido menor para Paris – as Olimpíadas de Tóquio deveriam acontecer em 2020, mas foram adiadas para 2021 por conta da pandemia do coronavírus -, o Time Brasil deve trazer mais medalhas olímpicas para casa. Inclusive, inéditas.
Vamos relembrar Tóquio? Nosso país bateu o recorde, com 21 medalhas (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes). Ao todo, foram 13 modalidades no pódio, com medalha em esporte estreante (skate e surfe), esporte coletivo (vôlei feminino) e individual (maratona aquática e judô).
Pra gente entrar no espírito olímpico com a expectativa lá em cima, listei minhas apostas de ouro olímpico neste ano entre as nossas atletas mulheres, que devem dominar os pódios. Bora nessa?
Vôlei
As mulheres do voleibol brasileiro sabem como ninguém o gostinho do pódio olímpico. Bi-campeãs olímpicas em 2008 (Pequim) e 2012 (Londres), a seleção comandada por José Roberto Guimarães voltou de Tóquio com a medalha de prata.
Agora tem mais uma chance de conquistar o tricampeonato em Paris. Na Liga das Nações deste ano, elas ficaram em quarto lugar, mas entregaram uma atuação impecável e invicta até a única derrota para o Japão.
Elas chegam em Paris favoritas e prontas pra mais uma competição histórica – embora o clima esteja caótico, ultimamente, devido aos rumores do término do relacionamento entre Sheilla Castro e Gabi Guimarães. Sheila esteve nos dois ouros brasileiros e atualmente faz parte da comissão técnica. Gabi é a capitã e grande estrela da seleção atual.
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Futebol
Outra seleção que pode, finalmente, trazer o ouro é a de futebol. Depois de duas medalhas de prata, em 2004 (Atenas) e 2008 (Pequim), o Brasil foi eliminado em 2021 pela equipe do Canadá, que se consagrou campeã olímpica.
Em Paris, a seleção chega agora renovada, para espantar a eliminação precoce, ainda na fase de grupos, na Copa Feminina. Essa renovação vem do técnico e da postura das jogadoras em campo.
A nova comissão técnica era um sonho dos apaixonados pelo futebol feminino, que agora tem o comando de Arthur Elias, ex-treinador do Corinthians e o mais vitorioso da modalidade no Brasil.
Mas, para trazer esse ouro, a seleção vai enfrentar grandes desafios já na fase de grupos, contra Nigéria, Japão e Espanha (atual campeã do mundo).
E tem um gostinho a mais: será a última chance de Marta, a maior jogadora da história do futebol feminino no mundo, ser campeã olímpica.
A estreia da seleção será dia 25 de julho, antes mesmo da abertura oficial.
Skate
Depois de empolgar a torcida brasileira em 2021, quando estreou como esporte olímpico, o skate veio para ficar. Ainda bem! E o Brasil tem muitas chances de medalhas no skate feminino, já que temos três atletas classificadas no skate street e três no skate park (aquele das rampas).
No street, teremos Rayssa Leal (prata em Tóquio), Pâmela Rosa e a estreante Gabi Mazetto. Rayssa é a grande aposta para o ouro olímpico, já que ela ganhou diversas etapas da SLS (Street League Skateboarding) de lá para cá. Foram dois ouros nas etapas de San Diego (EUA) da SLS e na etapa da China do Circuito Mundial.
Rayssa também conquistou o campeonato do Super Crown, que é a finalzona da SLS, e rolou em São Paulo em dezembro de 2023 – eu tava lá na arquibancada torcendo por ela.
Uma boa notícia para a torcida brasileira é que a atual campeã olímpica Momiji Nishiya não se classificou para os Jogos Olímpicos. Mas as japonesas ainda serão um desafio para as nossas atletas, já que Coco Yoshizawa, Liz Akama e Funa Nakayama se classificaram.
Quem também se classificou para os jogos em Paris foi a australiana Chloe Covell, um dos fenômenos do skate e que disputou muitos pódios com Rayssa de 2022 para cá.
No park, as brasileiras classificadas são: Dora Varella, Isadora Pacheco e Raicca Ventura. Raicca foi a brasileira com a melhor classificação para os jogos, na sexta posição. Vamos torcer para ela subir mais alguns degraus e chegar no pódio.
Ginástica artística
Outra modalidade que o Brasil vai muito bem é a ginástica artística. E temos uma adversária à altura de Simone Biles, maior ginasta do mundo: Rebeca Andrade.
Rebeca faturou 2 medalhas olímpicas logo na sua primeira disputa, em 2021, voltando pra casa com um ouro no salto e uma prata no individual geral. Ela se tornou a primeira ginasta brasileira a ganhar um ouro olímpico e a primeira atleta brasileira a ganhar duas medalhas na mesma edição.
De lá para cá, Rebeca também conquistou o bicampeonato mundial no salto (2021 e 2023), campeonato mundial individual geral de 2022 e diversas outras medalhas de ouro, prata e bronze nos Jogos Pan-Americanos e outros campeonatos.
Agora ela chega em mais uma edição dos Jogos Olímpicos para uma disputa mega saudável e emocionante com Biles.
E teremos mais quatro atletas disputando medalhas na ginástica: Flávia Saraiva, Lorrane Oliveira, Julia Soares e a veterana Jade Barbosa, que vai para a sua terceira olimpíada.
Judô
O judô é o esporte que mais trouxe medalhas olímpicas para o Brasil. Até agora foram 24 medalhas (4 ouros, 3 pratas e 17 bronzes). A primeira medalha veio em 1982, nos Jogos de Munique, um bronze conquistado pela judoca Chiaki Ishii, japonesa naturalizada brasileira. O primeiro ouro feminino veio em 2012, em Londres, com a judoca Sarah Menezes.
Hoje Sarah é a treinadora das mulheres no judô brasileiro, ao lado de Andrea Berti. A seleção feminina será representada por Natasha Ferreira (-48kg), Larissa Pimenta (-52kg), Rafaela Silva (-57kg), Ketleyn Quadros (-63kg), Mayra Aguiar (-78kg) e Beatriz Souza (+78kg).
Rafaela Silva retorna às Olimpíadas para sua terceira participação, depois de ficar fora dos Jogos de Tóquio por doping. Ela busca sua segunda medalha olímpica de ouro -a primeira foi no Rio, em 2016. A judoca também conquistou o bronze em Londres (2012).
Mayra chega em Paris para buscar sua quarta medalha olímpica – ela foi bronze nos últimos três jogos (2012, 2016 e 2020). Já Ketleyn busca sua segunda medalha, depois de ser bronze em Pequim (2008).
Esportes aquáticos
Rainha das águas abertas, Ana Marcela Cunha chega em Paris para lutar pelo bicampeonato olímpico. Considerada uma das maiores maratonistas aquáticas da história, Ana soma 7 campeonatos mundiais, 5 campeonatos sul-americanos e 1 campeonato pan-americano.
Os esportes aquáticos também podem trazer mais medalhas para o Brasil, com a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, na vela. Agora elas brigam pelo tricampeonato olímpico.
Na canoagem, quem deve brigar por medalha é Ana Satila, que disputará três provas. Na Copa do Mundo deste ano, Ana conquistou uma prata e um bronze.
Pra fechar o time das sereias, a surfista Tatiana Weston-Webb tem grande chances de trazer sua primeira medalha olímpica. Ela foi vice-campeã do ISA Games e finalista no Circuito Mundial em 2023 e 2024.
Vôlei de praia
Não é só nas quadras que o vôlei brasileiro vai bem. A dupla Ana Patrícia e Duda terminou 2023 liderando o ranking mundial, com cinco títulos das etapas do Circuito Mundial e a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, e chegam favoritas em Paris.
Uma curiosidade da dupla é que elas começaram a carreira jogando juntas, tiveram uma série de conquistas e se separaram. Em Tóquio, elas competiram separadas: Duda com Ágatha e Ana Patrícia com Rebecca. Agora a dupla original está junta de novo e pronta para brigar pelo topo nos Jogos de Paris.
Boxe
Outro ouro encaminhado é o de Bia Ferreira. Há quase dois anos sem perder, ela foi campeã mundial de boxe olímpico no ano passado, e de boxe profissional há dois meses.
Bia também foi campeã na Copa do Mundo da Holanda e do Grand Prix de Brasília.
Para conquistar o ouro em Paris, Bia precisa bater (literalmente) a irlandesa Kellie Harrington, atual campeã olímpica.
Muitas possibilidades hein?! Eu já comecei a torcer e a contar nossas medalhas femininas. Vou cobrir essas Olimpíadas daqui do Brasil e trago novidades!