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14 de dezembro de 2023

AzMina publica política de uso de Inteligência Artificial

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AzMina está usando inteligência artificial (IA). Você certamente também está. Isso ficou mais evidente para nós quando nossa equipe de arte passou a testar a geração de imagens para ilustrações frente aos limitadíssimos bancos de imagens disponíveis, com pouca diversidade de corpos, etnias e identidades no geral. Mas a verdade é que, um ano após o lançamento do ChatGPT, é ingenuidade acreditar que o jornalismo - e AzMina - não estão sendo impactados pela inteligência artificial. Sim, estamos testando, aprendendo, refletindo. Mas esse editorial, que acompanha a publicação da nossa política de uso da IA, é nosso voto de transparência perante nossa comunidade.
Arte: Giulia Santos

AzMina está usando inteligência artificial (IA). Você certamente também está. Isso ficou mais evidente para nós quando nossa equipe de arte passou a testar a geração de imagens para ilustrações frente aos limitadíssimos bancos de imagens disponíveis, com pouca diversidade de corpos, etnias e identidades no geral. Mas a verdade é que, um ano após o lançamento do ChatGPT, é ingenuidade acreditar que o jornalismo – e AzMina – não estão sendo impactados pela inteligência artificial. Sim, estamos testando, aprendendo, refletindo. Mas esse editorial, que acompanha a publicação da nossa política de uso da IA, é nosso voto de transparência perante nossa comunidade.

A automação de processos não é nova n’AzMina. Um dos nossos projetos basilares, o Elas no Congresso, foi pensado para automatizar o monitoramento da tramitação de projetos de lei no legislativo brasileiro. E já utilizávamos a IA na transcrição de entrevistas em apurações de texto e vídeo na redação. A grande diferença agora é a IA generativa: “algoritmos que podem ser usados para criar conteúdo, incluindo áudio, código, imagens, textos, simulações e vídeos”, como descreve a consultoria McKinsey.

Se você ficou assustada quando usou o ChatGPT pela primeira vez, acredite, nós também. Posso pedir a ele uma sugestão de pauta, de título, de texto, e até sugestões de estratégias de distribuição de conteúdo. Mas se hoje, em dezembro de 2023, eu perguntar a ele quem é o presidente do Brasil, ele ainda me responde o nome daquele que ocupava o cargo em janeiro de 2022. Esse é só um exemplo do quanto a IA generativa é limitada. Para usar um tema mais cotidiano para nós: a lista de países onde o aborto é legal na América Latina também é datada. Não, não dá para confiar no ChatGPT.

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Há ainda outras dezenas de perguntas que nos fazemos sobre as IAs generativas. Elas são éticas? Essas ferramentas estão coletando dados de quem? Como? Se são treinadas com dados e trabalho alheio, não estão se apropriando deles? Quem as está treinando? Sob qual remuneração? E sob quais vieses? Quais estereótipos as IAs estão criando ou ajudando a perpetuar?

Também não dá para ignorar que o avanço da IA é um avanço capitalista. Mesmo dentro da OpenAI, a criadora do ChatGPT, há um confronto entre aqueles que querem que o aprendizado de máquina progrida mais rapidamente – pelo bem dos negócios – e aqueles que querem desacelerá-la – pelo bem da humanidade. Um feminismo anticapitalista deve, portanto, fazer uso da IA?

N’AzMina não é incomum brincarmos sobre “hackear o sistema”. Se não podemos viver fora dele, usamos o que é possível a nosso favor para implodi-lo. Não vamos ignorar a inteligência artificial – nem querendo muito a gente conseguiria. Mas vamos: 1) fazer um uso ético e consciente dela; 2) advogar pela ética não apenas no uso da IA, mas na sua construção; 3) ser transparentes quanto a isso.

Sim, estamos testando o uso de inteligência artificial em tarefas cotidianas como correção ortográfica, sugestão de títulos, cortes de texto para redes sociais e tarefas de SEO. No audiovisual, seguimos transcrevendo entrevistas com IA. Nos nossos projetos de tecnologia, ela pode nos ajudar a corrigir e otimizar códigos. E diante da limitação de imagens e dos estereótipos retratados em bancos de imagens, nossa equipe de arte segue testando o uso de IA para atividades de criação. Aliás, curiosidade importante: esse movimento todo começou diante da dificuldade em achar imagens de casais inter-raciais para a produção dessa reportagem

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Mas garantimos: absolutamente nada disso será publicado nos canais AzMina sem revisão humana. Seguimos cientes de que todo o conteúdo publicado em nossos canais de comunicação é de nossa inteira responsabilidade. E apesar de óbvio, é importante ressaltar: não importa quais ferramentas utilizemos, estamos certas de que elas não tornam nenhuma pessoa da nossa equipe dispensável.

Estamos olhando para a inteligência artificial com curiosidade, mas também cuidado e responsabilidade. Em 2021 tivemos a primeira experiência treinando uma IA para identificar misoginia nas redes sociais. Nos últimos anos, publicamos reportagens que mostram o poder dos algoritmos e problematizam a exclusão digital que afeta majoritariamente mulheres. Recentemente, publicamos uma newsletter com a produção científica de mulheres sobre o tema da inteligência artificial. Seguiremos olhando para a IA com um olhar crítico.

Todas as maneiras de usá-la ainda são testes, e justamente porque nada é definitivo, nossa política de uso será constantemente atualizada. Não temos respostas sobre o futuro da inteligência artificial no jornalismo e no mundo, mas nos comprometemos a acompanhá-la com a ética feminista que permeia todo o nosso trabalho. 

Política de Inteligência Artificial AzMina

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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