
Quem já fez uma reportagem ou algum conteúdo mais aprofundado sobre aborto já deve ter percebido o quanto pode ser complexo encontrar os dados e as informações necessárias. Há muitos estudos, levantamentos, estatísticas e trabalhos de qualidade disponíveis, mas eles estão espalhados em diferentes plataformas, muitas vezes inacessíveis. Pensando nisso, AzMina desenvolveu o site AbortoNoBrasil.Info para reunir tudo sobre o tema num mesmo lugar e ajudar, sobretudo, as pessoas que não são familiarizadas com produções sobre direitos reprodutivos.
Narrativas bem fundamentadas contribuem na formação da opinião pública. A sociedade precisa estar informada com conteúdos confiáveis para acessar direitos básicos e para que se possa elaborar novas políticas públicas sobre o tema. Em tempos de desinformação e falas rasas, e até irresponsáveis, o bom jornalismo, a apuração e a ciência éticas são as melhores armas de combate. O projeto AbortoNoBrasil.info chega para somar nesse trabalho, trazendo materiais atualizados de forma didática e transparentes sobre tratamentos, estatísticas e contextos relacionados ao aborto no país.
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No site, é possível encontrar dados oficiais sobre procedimentos – internações, despesas hospitalares e mortes – em situações de abortamento; registros de aborto legal, métodos abortivos seguros; perfil das pessoas que abortam, número de processos por aborto. Também estão disponíveis informações sobre as legislações e os níveis de acessos aos direitos reprodutivos no mundo, além de pesquisas, guias, projetos, artigos, fontes especializadas e organizações que tratam do tema. Quem quer escrever ou entender melhor sobre justiça reprodutiva, tem o AbortoNoBrasil.Info como uma ferramenta de suporte, baseada em evidências científicas que se contrapõem à superficialidade e ao desserviço visto frequentemente sobre aborto.
Público e impactos esperados
AzMina espera que os direitos sexuais e reprodutivos sejam pautados com mais frequência e não só em efemérides, quando alguma autoridade brasileira é questionada sobre o tema ou quando meninas e mulheres são expostas em situações de aborto na mídia.
Há uma lacuna na formação sobre como abordar o tema com uma linguagem sensível aos direitos humanos. Produzir conteúdos informativos de qualidade sobre aborto impacta diretamente a saúde da mulher brasileira e o acesso aos direitos previstos em lei. Também alimenta um debate público mais aprofundado, fomentando discursos políticos, acadêmicos e sociais sobre aborto no Brasil. Com isso, evita-se, por exemplo, os questionamentos simplistas sobre ser “contra ou a favor do aborto”, sem embasamento.
O site é direcionado a comunicadoras/es, produtores de conteúdo, formadores de opinião, jornalistas e pesquisadores. E chega em um momento em que a discussão sobre aborto no Brasil está em cada vez mais em evidência, com a recente ação (ADPF 442) que pede a descriminalização pautada no Supremo Tribunal Federal (STF) – e segue em tramitação.
Políticos da extrema-direita e religiosos ultraconservadores, contra os direitos das mulheres e de pessoas com útero, constroem argumentos deturpados e falsos, deslocados da realidade, para se promoverem. Isso é observado sobretudo em períodos eleitorais, como mostrou a pesquisa do NetLab (UFRJ).
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Movimentos e parcerias
A epidemiologista, doutora em saúde pública e pesquisadora Emanuelle Góes defende a importância do acesso facilitado aos dados promovido pela plataforma. “Eu sou sempre favorável ao acesso à informação, a sociedade precisa saber. E a gente precisa ajudar nisso, principalmente para o movimento feminista”, afirma.
O Brasil caminha para avançar nos direitos reprodutivos, na comunicação e na equidade de gênero. Países vizinhos fizeram movimentos estratégicos e importantes pela descriminalização e despenalização do aborto.
Para gestar essa plataforma, organizações brasileiras uniram experiências, conhecimentos e repertórios dentro do assunto, a partir da demanda percebida ao lidar com os direitos reprodutivos. Participaram da construção estratégica e de conteúdos: Anis – Instituto de Bioética, Campanha Nem Presa Nem Morta, Grupo Curumim, Coletivo Margarida Alves, Rede Feminista de Saúde, CEPIA, Católicas Pelo Direito de Decidir, CFEMEA, Portal Catarinas.