Já fez a lista de livros que você planeja ler em 2020? Pois a gente tem uns pitacos para dar. As editoras e colunistas d’AzMina indicam livros escritos por mulheres de todos os temas, de literatura a política, passando por teoria feminista e economia. São 12 livros, uma sugestão para cada mês do ano – mais uma indicação bônus para as leitoras vorazes.
Literatura
1. Redemoinho em dia quente (Jarid Arraes)
Conhecida por seu trabalho como cordelista, Jarid Arraes lançou em 2019 seu primeiro livro de contos. Na obra, a autora escreve a partir da perspectiva de mulheres da região onde cresceu, o Cariri, no Ceará, misturando realismo, crítica social e fantasia. As protagonistas criadas por Arraes desafiam a representação tradicional dos personagens do sertão, como no conto “Sacola”, em que uma senhora católica encontra na praça um saco com pílulas suspeitas e resolve experimentar. Começa aí uma viagem psicodélica que a faz ver seu Padim Ciço.
2. O peso do pássaro morto (Aline Bei)
Quantas perdas cabem na vida de uma mulher? A pergunta provocadora, que abre o texto da orelha desse romance de estreia da escritora Aline Bei, meio que traz uma linha narrativa para o livro, que conta a história de uma mulher dos 8 aos 52 anos, com os impactos das perdas e as vivências da menina até se tornar adulta. Recomendamos uma caixa de lenços. E talvez um omeprazol para o estômago.
Feminismo
3. Feminismo para os 99% – Um manifesto (Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser)
Lançado simultaneamente em oito países no 8 de Março de 2019, esse manifesto convoca mulheres a defenderem um feminismo mais amplo e participativo ao discutir temas como moradia, salários precários, saúde pública e mudanças climáticas, questões que afetam a maioria das mulheres em todo o mundo. “Nosso feminismo só será mesmo urgente se for por inteiro palpável e real para a maioria das mulheres brasileiras e do mundo. Se for popular e verdadeiramente emancipador”, diz Talíria Petrone no prefácio do livro.
4. O feminismo é para todo mundo (bell hooks)
O ano é 2020, mas o feminismo ainda é mal interpretado por muita gente. O que mostra a urgência e importância desse livro de bell hooks, uma das mais importantes feministas negras da atualidade (a grafia do nome em minúsculo é uma preferência da autora para que atenção seja concentrada em sua mensagem ao invés de em si mesma). Nessa cartilha, hooks mostra como a luta contra o sexismo pode mudar para melhor a vida de todo mundo, o que inclui os homens na parada. Apesar da primeira edição ter sido lançada em 2000, o livro só foi traduzido para o português oito anos depois.
Maternidade
5. Mama (Marcela Tiboni)
Quando Marcela e sua esposa Melanie decidiram ter filhos, começaram a pesquisar como fazer isso. “Quando decidimos engravidar, não tínhamos informações e eu fui em uma livraria pedir um livro sobre esse tema e o vendedor me falou que não existia. Eu pensei que não existisse naquela loja apenas, mas descobri que realmente não ainda tinham escrito um livro sobre maternidade homoafetiva”, conta Marcela. Após o nascimento dos filhos ela, então, resolveu escrever sobre a maternidade lésbica nesse livro que rompe com o tabu que existe ainda hoje acerca do amor e da gravidez entre mulheres.
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6. Gestar, parir e amar: não é só começar (Tayná Leite)
Não é só aqui na coluna Meu nome não é mãe que Tayná Leite causa polêmicas sobre a maternidade – em seu texto mais recente enfureceu umas mães ao comparar maternidade a trabalho doméstico. Pesquisadora do tema, neste livro ela verbaliza que a maternidade, tão desejada também por ela, é no fundo o principal grilhão que aprisiona as mulheres. Tayná acredita que enquanto as mulheres não desmistificarem a ideia desse amor instintivo, e o processo de culpa alimentado por ele, nunca serão verdadeiramente livres.
Biografia
7. Eu, Travesti (Luisa Marilac e Nana Queiroz)
Já avisamos: há relatos de pessoas que passaram do ponto de ônibus porque estavam agarradas nesse livro, nascido do feliz encontro entre uma mulher com muita história para contar e uma jornalista que sabe contar histórias como poucas. A vida de Luísa é (infelizmente) representativa de muitas travestis: ao iniciar a transição na adolescência foi expulsa de casa, viveu na rua e encontrou na prostituição o único meio de garantir a vida – constantemente ameaçada pela violência e transfobia. “A todas as travestis que nunca viveram para contar a sua história: esse livro também lhes pertence”, escreve Luísa na dedicatória.
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8. Mamãe & Eu & Mamãe (Maya Angelou)
Último livro publicado pela escritora, cineasta e ativista Maya Angelou, este é um relato autobiográfico que tem como fio condutor a relação dela com a mãe, Vivian Baxter. É sobretudo a história da jornada de mãe e filha em busca de reconciliação, amor e cura. Tudo isso tendo como pano de fundo os Estados Unidos da segregação racial e da luta por direitos civis. Com uma vida atravessada por muitas violências, Angelou descobriu logo cedo o poder de sua voz. Aos sete anos, foi estuprada por um namorado da mãe e após contar o ocorrido, ele foi encontrado morto. Com medo do poder das suas palavras, que ela entendeu como capaz de matar alguém, ela passou cinco anos da infância sem falar.
História
9. Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria história (Giovana Xavier)
O título já dá o tom da narrativa e deixa claro (ou melhor, escuro) a inovação de sua autora, a historiadora e professora da UFRJ Giovana Xavier: contar a História em primeira pessoa. E faz isso de forma divertida e irônica (por que não?). Entre teorias complexas (que ela torna acessíveis) a referências que vão de bell hooks a Conceição Evaristo, Giovana teoriza sobre rap, rebolado, orixá e Baco Exu do Blues (assim mesmo, tudo junto e misturado). Leitura essencial para quebrar um pensamento enraizado.
10. Mulheres e caça às bruxas (Silvia Federici)
Ao ler a historiadora Silvia Federici a sensação é de aprender uma outra História, bem diferente da aprendida na sala de aula. No já clássico “Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva” ela resgata a história da caça às bruxas e mostra como ela foi fundamental para o sistema de produção capitalista e na definição do lugar da mulher na sociedade. Agora, a historiadora revisita assunto no “Mulheres e caça às bruxas”, lançado em 2019, para mostrar como acusações e punições contra mulheres se repetem na atualidade, num movimento semelhante a caça às bruxas ocorrida no fim da Idade Média.
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Política
11. Amanhã vai ser maior (Rosana Pinheiro-Machado)
O que está acontecendo com o país é uma pergunta que todos nós já nos fizemos – e que vem se renovando ano a ano com acontecimentos que nem a ficção teve criatividade suficiente para inventar. O que aconteceu com o Brasil dos protestos de 2013 até as eleições de Bolsonaro – e possíveis rotas de fuga para a crise atual – é o que esse livro da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado se propõe a decifrar, tanto no campo político quanto social. “No Brasil de hoje, o derrotismo tende a tomar conta de todas as esferas da vida social. Lamentamos a vitória da extrema-direita, não enxergamos saídas e deixamos que essa angústia nos imobilize. Outra alternativa – para a qual este livro convida – é transmutar a dor em luta, e fazer da esperança uma opção política”, escreve a autora no último capítulo do livro, que você pode ler aqui.
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Economia
12. Valsa Brasileira (Laura Carvalho)
O livro já tinha sido um sucesso no seu lançamento, em 2018, mas ganhou uma forcinha (e sua oitava reimpressão) no fim do ano passado depois que foi criticado por Bolsonaro. Em Valsa Brasileira, a economista Laura Carvalho explica com linguagem acessível e sem economês a montanha russa econômica que o Brasil viveu entre 2006 e 2017, entre o segundo mandato de Lula ao impeachment de Dilma Rousseff, em que passou por alguns dos anos de maior prosperidade de sua história, mas também viu uma crise sem precedentes na história do país.
Bônus: Tudo de bom vai acontecer (Sefi Atta)
Nem só da (incrível) Chimamanda Ngozi Adichie vive a literatura nigeriana. A amizade de duas meninas em um país em guerra é a história desse romance de estreia de Sefi Atta que venceu o Wole Soyinka Prize, um dos principais prêmios da literatura africana. O conflito é a guerra civil de Biafra, que deixou 1 milhão de mortos em seus três anos de duração e se sucedeu por golpes militares. A amizade é entre Enitan e Sheri, marcada pelo confronto entre o peso da tradição e o desejo por mudanças.