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2 de outubro de 2015

Vou de táxi

Como eu transei com um taxista desconhecido, pedi que ele me pagasse pelo sexo - e não me sinto uma biscate por isso

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D evia ser umas duas da manhã. O bar em que eu estava com os amigos fechou, todo mundo foi embora. Mas eu, bêbada, queria continuar. E continuei por mais ou menos meia quadra, até me dar conta de que a noitada já estava de bom tamanho e que era hora de ir pra casa. Parei um táxi e dei a rota de casa.

Contar os fatos não vai fazer você entender como é que, cerca de uma hora depois, estávamos os dois trepando no banco de trás. Mas como essa foi, de fato, uma loucura para a qual eu não tenho explicações, nós vamos ter que nos contentar com os acontecimentos.

Como muitas mulheres, eu tinha (tinha?) a fantasia de transar com um completo desconhecido. Acho que tem aí um lance de sentir tesão no subjugo mesmo. Demorei pra admitir isso, porque sou feminista e batalho muito pra acabar com o subjugo que as mulheres sofrem em tantos aspectos da vida. Não é nada fácil reconhecer que implantaram isso tão bem dentro de você que isso se torna algo que o corpo pede. Não é fácil, mas é bacana. É que depois de muito conflito interno fui perceber que a verdadeira liberdade passa por você se aceitar do jeito que é, com suas estranhezas e com os efeitos que esse mundo torto imprime na gente.

É fácil culpar a bebida, mas naquela noite eu estava com vontade de sexo como poucas vezes na vida. Logo que entrei no táxi, pensei que poderia ser minha oportunidade de saciar o desejo e a fantasia. Se ele era bonito? Devia ter uns 55 anos, cabelo grisalho, liso, corte estilo Javier Barden em “Onde os Fracos Não têm Vez”. Em suma: o homem era um desastre estético. Para agravar o caso, era argentino e falava com um sotaque totalmente caricato. Mas eram duas e tanto da manhã, eu estava bêbada, queria um pinto e ele tinha um.

Não sei explicar como as coisas foram acontecendo. Eu estava usando um micro short e, papo vai, papo vem, de repente eu estava com uma das pernas entre os dois bancos da frente.

Chegamos à minha casa, ele encostou, eu paguei R$ 20 e, na sequência, ele já foi logo enfiando a mão no meu short. Eu fiz com que ele soubesse que eu queria, mas não podia ser ali, na minha rua. Pedi pra que ele dirigisse até um drive-in, mas não sem antes passar na farmácia pra comprar camisinha – juro.

Foi um sexo do caralho e da buceta. Eu me senti no comando e fiz questão de não deixar a coisa ganhar nenhum aspecto de intimidade.

Sexo oral? Muito! Beijo na boca? Nem pensar!

Ele tentava, eu desviava – eu lá queria beijar aquela criatura? Ali, naquele momento único, ele era meu objeto. Não tenho orgulho de ter agido dessa forma, porque como quase toda mulher eu sei como é ser o objeto descartável de alguém. Mas ali, naquele momento, eu era puro poder, era senhora de mim e comandante da cena – e foi um tesão.

Terminamos e o homem queria ficar abraçado, fazer cafuné me dizendo que sou linda, que sou linda, que sou linda… Acho que ele não entendeu que eu o escolhi pra ser meu objeto, então resolvi explicar da forma mais clara que me ocorreu naquela madrugada bêbada: “Agora você tem que me pagar”. Vi no rosto dele a decepção de quem perde a medalha de ouro. Pois é, colega, você não é especial e não, não está rolando um clima. Você é só um pinto.

Ele se recusou, ofendido, e eu disse que pelo menos a grana da corrida ele tinha que me devolver. Ficamos assim, no zero a zero, e quando ele me deixou em casa eu fiz o homem jurar que nunca mais iria me procurar, expliquei envergonhadíssima que aquela não sou eu e que ele deveria esquecer que eu existia – coisa que eu duvido.

Nos dias seguintes, veio o conflito: Eu sou mulher! Eu tenho que me preservar! Será que eu estava louca, será que aquilo era algum tipo de doença? Eu sabia que sair pela cidade no carro de um desconhecido era perigoso e que eu tinha corrido riscos, mas o incômodo era por conta do meu comportamento sexual. Ao mesmo tempo, eu me sentia bem, dona de mim mesma, e toda vez que eu me lembrava do episódio, a lembrança era boa. Esse conflito eu fui resolver na terapia:

– Eu me sinto bem, foi um experiência incrível, somos dois adultos e estávamos ali por livre escolha, trepamos com camisinha o único problema que eu tive foi a ressaca do dia seguinte. Mas eu não consigo deixar de me perguntar se o que eu fiz foi certo, se eu não deveria me sentir culpada.

Meu terapeuta, um senhor de quase 70 anos, respondeu na lata:

– Se você fosse um homem que tivesse trepado com a taxista em uma madrugada bêbada, você acha que essas perguntas estariam passando pela sua cabeça?

IMAGEM: "Eleven AM", de Edward Hopper
IMAGEM: “Eleven AM”, de Edward Hopper
* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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