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17 de junho de 2019

Já ouviu o novo disco da Alice Caymmi?

Com um repertório corajoso, que vai do fado ao samba, e acompanhada apenas por um piano, Alice Caymmi mirou em nós e acertou

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Alice Caymmi

Se você que está lendo esta coluna ainda não ouviu o novo disco da Alice Caymmi, tudo bem! Quem sou eu para sair cobrando hábitos de escuta musical por aí. Mas vou comemorar se, quando chegar no fim desse texto, você correr para apertar o play.

E seguem os detalhes sobre o disco!

Electra, 2019

selo Joia Moderna

direção artística de Zé Pedro

Depois de umas três escutas apaixonadas, pesquisei críticas do disco publicadas por aí.

Li aplausos e constatações de que Alice é a maior ou uma das maiores cantoras da última década. Acho exagerado. Que mania dessa crítica masculina querer hierarquizar e premiar aquilo que se considera bem feito.


Não me interessa comparar o canto de Alice com outras vozes contemporâneas tão interessantes quanto.

O que me move é a coragem com que ela escolheu o repertório, de Maysa a Letuce, de Walter Franco a Candeia, de Ana Terra a Tim Maia.

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A cantora em pleno ano de 2019 ousar lançar um disco com dez músicas acompanhada apenas de um piano (tocado como quem abraça por Itamar Assiere) em tempos de sons computadorizados (nada contra, também adoro, mas senti pulsar o contraste).

É sobre a intensidade da voz que ela não economiza e investe no samba, no fado, no soul, no que quiser. É nos ares de voz rouca que nos fazem minguar junto no fim da canção Mãe Solteira (Tom Zé/Elton Medeiros). Ou nos vocalizes nas canções Fracassos (Fagner) e Aperta Outro (Danilo Caymmi/Ana Terra) que me lembram de cantarolar e fazer da música parte do meu dia.

É na interpretação do fado Medo, já gravado por Amália Rodrigues e Mariza, com um sotaque que visita levemente Portugal de quem entendeu que a expressão está nas consoantes e com uma dramaticidade que de tão grande, cabe – ai de quem ousou criticar o fado! Minha veia portuguesa só soube ser aplauso.

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É com a decisão de não negar seu sobrenome e atropofagicamente o engolir e vomitar, usando a mitologia grega de Electra para portar um punhal e matar o que a assombrava.

É na capa de imagem diabólica vermelha que reflete as muitas camadas que o repertório mira.

Há quem diga ser romance. Há quem diga ser família. Há quem interprete como uma triste e assertiva crônica do que vivemos politicamente.

Não é preciso escolher. Alice mirou em nós e acertou.

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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