Caras leitoras (e leitores), desculpem minha ausência, estive concluindo um mestrado.
E como já comecei o texto em clima de divã, introduzo o tema da vez com uma história pessoal: era 2007, eu cursava o segundo semestre de música na Unicamp e colegas me chamaram para dirigir um show. No dia da apresentação, um arranjo que fiz de “Berimbau” (de Baden Powell e Vinícius de Moraes) agradou tanto um amigo que seu elogio foi “isso deve ter dedo do seu namorado”.
Me lembrei deste fato recentemente ao receber em minha casa o livro “Pequeno Guia de Incríveis Artistas Mulheres (que sempre foram consideradas menos importantes que seus maridos)”, da Beatriz Calil (editora Urutau).
Li o título e antes mesmo de abrir o livro, uma coisa me pegou: eu, mulher artista em 2018, tenho essa e tantas outras histórias em que minhas autorias foram questionadas, confundidas ou até mesmo destinadas a outros homens.
Antes de culpar aquele amigo por ter elogiado meu arranjo daquela forma – e tantas outras pessoas que já fizeram algo parecido – penso que uma coisa é fato:
um histórico de apagamentos existe e persiste, e questiono: o que fazemos para mudá-lo?
Paremos um pouco para pensar quantas mulheres pintoras, escultoras, dramaturgas, escritoras e compositoras conhecemos. E ainda: a quantas destas ainda nos referimos como “mulher/amante/irmã/filha/mãe de fulano”?
Lançado há três meses, a capa do guia de Beatriz Calil é provocativo: apaga as imagens dos homens artistas com quem essas mulheres se relacionaram e as coloca em evidência.
Assim, podemos saber de onde são, que formação e trajetória tiveram e conhecer algumas de suas obras.
Camille Claudel, Zelda Fitzgerald, Françoise Gilot, Jeanne-Claude, Lee Krasner, Dorothea Tanning e Gabriele Munter estão nas páginas – entre outras.
Deu curiosidade?
Não pretendo resumir tais histórias aqui, pois acredito que a pesquisa é um ótimo caminho para a assimilação de um novo conteúdo.
Por isso, pensei em sugerir: busquem na internet.
Mas esse spoiler eu vou dar:
Como despatriarcalizar os algoritmos?
Comecemos pelas nossas cabeças.
Sorte para nós.
PS: aproveitando o tema, fizemos uma playlist só de compositoras latino-americanas do século 20. Se liga: