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Aymê Brito
24 de fevereiro de 2025

Beleza Fatal e as influenciadoras trambiqueiras da vida real

A nova novela apresenta um universo familiar para mulheres que usam redes sociais: a influência digital irresponsável e os procedimentos estéticos

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Colagem digital mostra as atrizes Camila Pitanga, Giovanna Antonelli e Camila Queiroz do elenco de Beleza Fatal

Beleza Fatal é a nova novela da Max, do roteirista Raphael Montes, que estreou em janeiro de 2025 e ganhou o gosto do público. A trama é realmente ótima, traz a clássica disputa entre vilã e mocinha, é cheia de reviravoltas e tem um roteiro que não cai em clichês, nem tem medo de mostrar a realidade.

A novela gira em torno de Lola, personagem de Camila Pitanga (aliás, ela está maravilhosa na personagem), que, após cometer crimes e humilhar muitas pessoas, se torna dona de uma grande clínica estética, enriquece e passa a acumular milhões de seguidores nas redes sociais.

Cada passo de Lola e a vida dos seus sonhos são fotografados, filmados e publicados para suas seguidoras — claro, tudo roteirizado, ensaiado e manipulado. O principal assunto da influência de Lola é a beleza, e um universo de procedimentos apresentados como salvação da sua aparência e, consequentemente, da sua vida.

Muitas pessoas que assistiram à série relacionaram Lola com outras influenciadoras e criaram teorias sobre quem teria inspirado a personagem. A  influenciadora e empresária Natalia Beauty, dona de uma clínica de estética, em que cobra R$ 12,5 mil para fazer uma sobrancelha, gravou vídeos dizendo que acredita ter sido uma das inspirações para a novela.

Claro, é chocante imaginar que exista alguém capaz de tantas maldades e sem empatia como Lola, mas isso se torna familiar quando lembramos que seguimos e acompanhamos diversas influenciadoras que mostram seu dia a dia, com seus empreendimentos milionários e vidas perfeitas. Elas, assim como Lola, não apenas realizam várias cirurgias e procedimentos estéticos, mas fazem publicidade (na maioria das vezes não sinalizada) de todo esse mercado da beleza que, como sabemos, pode ser mesmo fatal.

Farra de procedimentos 

O Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). Nos últimos anos, vimos casos de cirurgias e procedimentos irresponsáveis e mal sucedidos que resultaram em mortes. Se você é mulher e está online, é comum passar os dias não só vendo propagandas de procedimentos, mas também observando influenciadoras divulgando, mesmo que indiretamente, intervenções estéticas que teriam mudado suas vidas. Mesmo com uma boa autoestima, é quase impossível não se pegar pensando que um procedimento aqui ou ali poderia ajudá-la a conquistar o tão desejado amor próprio.

Não é novidade que a cultura influencia os padrões de beleza de cada época. Hoje, com as influenciadoras digitais, o padrão é ser uma empresária bem-sucedida, que prioriza acima de tudo a sua beleza e tem dinheiro para pagar por ela, além de ter a tal “energia feminina” e uma pitada de devoção a Deus. 

São mulheres que lucram em cima da pressão estética – antiga inimiga da nossa emancipação -, mesmo quando se dizem bem-intencionadas. A novela nos chama atenção para o quanto lucrar em cima da baixa autoestima das mulheres é um nicho promissor na criação de conteúdo e, consequentemente, para o seu negócio, que fará sucesso entre as seguidoras. Afinal, é preciso que existam muitas mulheres tentando conquistar algo que ainda lhes falta, para que você consiga vender ou divulgar produtos, procedimentos e estilos de vida.

Leia mais: Modelos ultramagras e remédios para emagrecer em falta. É o fim do body positive?

Status social 

Ser uma mulher que faz procedimentos estéticos virou um status social e as redes sociais validam isso. Afinal, nem todas nós podemos pagar para estar na ‘moda’. Muitas influencers propagam que comprar produtos ou fazer procedimentos é autocuidado. Essa ideia errada sobre o que bem-estar significa para as mulheres em um país com tantas desigualdades de gênero. Vale lembrar que, assim como na novela, por trás dessas “mulheres de sucesso”, há investidores e sócios. A maioria deles é homens ricos e brancos. 

Pode parecer óbvio, mas ainda assim é preciso dizer: seguir qualquer recomendação de produto, procedimento ou intervenção que prometa salvar a sua autoestima é uma cilada. Ninguém tem a receita para isso, muito menos as pessoas que você segue. Talvez, o seu maior autocuidado seja parar de seguir influenciadoras trambiqueiras. 

O choque com o mau-caratismo de Lola na novela é justamente enxergar como a personagem se comporta quando não está na internet. Infelizmente não conseguimos ter essa mesma visão sobre as influenciadoras aqui de fora.

Não se trata apenas de parar de seguir influenciadoras irresponsáveis, tampouco de afirmar que é errado fazer qualquer tipo de procedimento. O ponto é que, mais do que simplesmente ignorar, nós, mulheres, enquanto coletivo, precisamos nos posicionar contra esse tipo de conteúdo. Lembrando sempre que, no limite, ele pode até tirar as nossas vidas.

Leia mais: Estamos nos cuidando mesmo ou é pressão estética?
* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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