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1 de agosto de 2019

“Minha saga no Tinder por uma foda digna”

"Lancei mão dos famosos aplicativos de relacionamento. E comecei a questionar meus níveis de exigência sexual", diz a mina que senta no Divã

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“Ele fingiu um oral de alguns segundos, só colocou camisinha porque eu mandei e gozou em menos de 3 fucking minutos”, conta a mina que senta no Divã (Foto: Unsplash)

“Depois de 23 anos de casamento eu me separei. Fim do casamento, recomeço da vida de solteira.

Pra explicar o que veio a seguir eu preciso fazer um flashback e explicar que eu casei bem jovem, com 20 anos, com o meu primeiro namorado e conhecia feminismo apenas como um assunto de mulher chata e “malamada”.

Tivemos ao longo da vida diversos problemas de incompatibilidade, entre eles o sexo. Veja bem, meu ex-marido não foi o primeiro cara com quem eu transei.

Conheci, biblicamente falando, uns cinco caras antes dele. Bom, esta vasta experiência não foi suficiente para me garantir uma base de comparação no quesito desempenho sexual. Também não foi suficiente para que eu desenvolvesse minhas próprias habilidades.

Assim, dois jovens se casaram e, contra todas as probabilidades, sustentaram essa relação, cheia de insatisfação, por 23 anos.

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Então, quando eu me separei, primeiro eu fiquei em lua de mel comigo mesma. Depois de alguns meses meu corpo começou a gritar que tava faltando alguma coisa! Parti para pornografia, o que não ajudou muito, só me fez subir pelas paredes mais ainda.

Os matchs do app

Então, lancei mão dos famosos aplicativos de relacionamento.  E agora começa a segunda parte da história…

Tive um primeiro encontro que foi incrível. Especial mesmo, em vários aspectos, e principalmente no sexo! Me disseram que era sorte de principiante. Eu não acreditei. Infelizmente, por motivos que eu não sei, essa pessoa se afastou um pouco depois de alguns encontros.

Eu, que já tinha até desinstalado os aplicativos de relacionamento, reinstalei e voltei à busca. Decidida a provar que aquele primeiro encontro não era mera sorte de principiante.

Agora a história se assemelha a um calvário.

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Segundo encontro via aplicativo. Marcamos um encontro na casa dele (isso mesmo, eu sou esse tipo de mulher louca e irresponsável que marca encontro na casa de homem hétero), vinho e queijo. Conversamos, ele acendeu a lareira… beijo. Ok, estava indo bem.

Depois de UM beijo ele começou a tirar minha roupa. Ficamos numa situação ridícula de eu dizer não e segurar a roupa e ele insistir como um moleque de 15 anos com tesão. Fiquei constrangida com a situação, parecia que eu estava fazendo gênero de moça virgem.

Acabei cedendo e foi uma grande bosta. Ele fingiu um oral de alguns segundos, só colocou camisinha porque eu mandei e gozou em menos de 3 fucking minutos. Minha cara de mal comida era indisfarçável!

Vesti minha roupa enquanto ele fazia um convite polido para que eu dormisse lá. Minha vontade era de fugir. Declinei educadamente do convite e saí aliviada pelo fim daquilo. No dia seguinte eu tinha ódio de mim mesma.

Por que eu cedi?

Passei o dia inteiro tentando entender porque não consegui me esquivar daquela situação. Então eu relembrei os fatos e percebi que eu disse NÃO várias vezes! Minha recusa em fazer sexo naquela situação foi completamente ignorada.

Com mais de quarenta anos, agora feminista, tinha meu carro na porta, estava vestida que nem um caminhoneiro (calça comprida, larga e camisa jeans). Percebi que meu condicionamento para ser “educada”, gentil e dócil é muito mais forte do que tudo o que eu tenha lido sobre ser feminista, empoderada, etc.

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Fiquei pensando nas mulheres mais jovens ou em situação mais vulnerável do que a que eu me encontrava, para quem seria praticamente impossível repelir esse homem.

Não desanimei. Fiquei alerta para não mais me sujeitar contra a vontade.

3 minutos, parte 2

No terceiro encontro tive um jantar excelente, a conversa foi super agradável, o vinho estava ótimo e eu até fiquei meio alcoolizada. Depois do jantar fomos pra casa dele, eu estava interessada e nem pensava em dispensar o ómi.

Novamente, UM único beijo e a minha roupa já estava no chão. Dessa vez o oral não foi fake, mas foi rapidinho. De novo, quem lembrou da necessidade da camisinha fui eu, e 3 minutos depois estava eu pronta pra me vestir e vazar. Novamente um convite para o pernoite recusado educadamente.

Dessa vez não fiquei com raiva, a companhia foi agradável a maior parte da noite. Comecei a questionar meus níveis de exigência sexual, recém adquiridos no meu primeiro encontro pós separação.

Antes do quarto encontro eu tive em papo erótico com um match que terminou mal. A gente passou um dia inteiro falando putaria no WhatsApp e o encontro era promissor.

Contudo, num momento de distração eu fiz um ligeiro comentário de cunho político. Ele retrucou que não era de esquerda! Se eu tivesse um pinto teria brochado, tentei resgatar o clima de safadeza mandando um funk light, nada de baixaria pesada, só um “ela senta de frente, ela senta de costas…” Coisa simples!

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O “liberal” ficou horrorizado e reclamou da escolha musical. Fiquei tão brochada que resolvi mandar a real dizer que não curtia cara neoliberal e conservador. Ficou putíssimo da vida, me descascou, falou que gozava horrores (nessa hora humilhou mesmo) e me bloqueou! Fiquei pensando se teria sido bom negócio pra mim, mas duvido que eu continuaria com tesão nele. Parti pro próximo.

Encontro número 4

No quarto encontro, a conversa novamente foi agradável, aprendi a selecionar melhor o date neste aspecto. O beijo foi bom, animou uma ida ao motel. Chegando lá, pá pum, menos de 3 minutos depois eu estava com cara de paisagem doida pra desmaterializar daquele lugar. Nem oral fake pra disfarçar teve!

A situação constrangedora só acabou quando eu dei um pulo da cama e disse que tinha que acordar cedo no dia seguinte, o que até era verdade. Na hora de pagar eu ameacei abrir a carteira, mas, como ele se adiantou, fiquei na minha e grazadeus não tive que pagar pra ser mal comida novamente.

Gente, eu podia tá roubando, mas eu só estou no Tinder tentando encontrar uma foda digna.”

O Divã de hoje é anônimo.

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* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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