O Brasil é o país que mais comete crimes contra pessoas trans no mundo, ao mesmo tempo que é também quem mais consome pornografia com essa população, conforme dados cruzados nesta reportagem da Superinteressante. E isso não me surpreende, assim como o termo “BBW” ter se tornado um dos termos mais buscados pelos usuários em sites de pornografia – eu não me espantei.
Em inglês, BBW é um acrônimo para Big Beautiful Woman; ou seja, Mulher Grande e Bonita. Há ainda as variações “SSBBW”, na qual SS abrevia Super Size e faz alusão às mulheres de tamanho maior. Para as menores, o termo usado é chubby, algo como “cheinha”.
A notícia não é nova; é lá de 2019 e a gente falou sobre ela aqui. Contamos que para pegar mulher gorda, as coisas precisam ser feitas escondidas, no sigilo, senão pega mal. Outro ponto dessa discussão também foi trazido recentemente nesta coluna: quando “gordinha” vira uma categoria especial para que possa ser assumida como preferência pelos caras.
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Tratar a pessoa pelo que ela
São dois lados da mesma moeda da gordofobia, principalmente se a gente pensar no contexto da categorização da mulher gorda. Óbvio que, como mulheres em uma sociedade machista, não escapamos da objetificação a que somos condicionadas. O que chamo à atenção, no entanto, é para a dificuldade imposta pela gordofobia em tratar a pessoa pelo que ela é: gorda.
E não, definitivamente, não queremos que em sites de pornografia os termos BBW e suas variantes sejam simplesmente trocados por “gorda”, “gorda maior” e “gorda menor”, como solução para um problema tão sério quanto o da pornografia.
O que se espera é justamente esse olhar atento para como as mulheres gordas são tratadas em espaços diversos. Dentro da própria causa antigordofóbica, as gradações para o corpo gordo são obrigatórias na hora de se fazer uma regra da opressão – contém MUITA ironia.
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E essa é polêmica. Isso porque é evidente que, quanto maior o corpo, mais dificuldades físicas serão enfrentadas. Adicione ainda uma sociedade sem qualquer estrutura para comportar tamanhos maiores que os determinados pela faixa do Índice de Massa Corpórea, o IMC.
No entanto, há interseccionalidades nas quais não é ser maior ou menor que vai determinar a experiência do preconceito, mas simplesmente o fato de SER GORDA, sem complemento algum para isso.
Torço que, para a nossa dignidade, a gente não precise mais se apresentar em categoria.