
Quando a gente fala sobre relacionamentos amorosos e sexuais e a relação com a gordofobia, uma associação bastante comum é a de que a mulher gorda, por não atender aos padrões sociais estéticos, não está apta a se relacionar.
Não está apta, não é digna, não merece… Seja qual for o pensamento, ele vem carregado dos estereótipos da gordofobia que fazem com que as relações dessa mulher estejam relegadas a um espaço repleto de vergonha e de culpa. A gente já falou aqui na coluna sobre os caras que querem a gorda, mas só se for escondido.
É só você denunciar esse tratamento que vira e mexe aparece algum cara para falar que “quem gosta de osso é cachorro”, e que ele, alecrim dourado desconstruído, “adora uma gordinha”. Nos aplicativos de relacionamento e paquera, então, esse tipo aparece aos montes!
O problema, ao menos na primeira frase, já está anunciado… Mas ainda há quem ache que “gostar de gordinha” é um elogio, apenas uma questão de gosto… E daí é importante olhar para isso com um pouco mais de atenção.
Do escondido ao fetiche
Dos que escondem a relação (afetiva e sexual) com uma mulher gorda aos que têm fetiche por elas, ambos representam duas faces da mesma moeda, que é a gordofobia. São pontos extremos, mas perpassam por essa afirmação de “gosto” que, sabemos e entendemos, é construído socialmente.
A vontade genuína de se estar com uma mulher gorda existe, óbvio. E reivindicamos sua naturalização. No entanto, colocada como um algo fora da curva, coloca-se a gorda em uma categoria à parte, uma não-mulher.
Para além da objetificação do corpo feminino – esse estigma que todas nós carregamos -, faz parte do fetiche em relação à gorda uma completa desumanização, intensificada pelo clima de “proibido é mais gostoso”.
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A essa mulher-coisa também estão associados estereótipos que dizem que, inclusive, ela deve se esforçar mais durante o sexo para agradar o cara na cama. Essa performance fenomenal garantiria a presença do abençoado em sua vida.
Tem-se aí a associação com outro estigma do patriarcado: o de que a mulher sozinha não se basta, de que ela precisa de um homem para ter sua existência validada. Na intersecção com a gordofobia, esta imposição se torna ainda mais violenta, em especial no contexto cisheteronormativo.
A verdade é que quando se fala no corpo da mulher gorda, independente da configuração do relacionamento, o que ainda se tem em mente é “que ele não deveria estar ali”. E é essa raiz profunda do preconceito que precisa ser arrancada. Afinal, parafraseando bell hooks, “não sou eu uma mulher?”