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Jamille Anahata
25 de novembro de 2022

O avanço do garimpo é a morte das mulheres indígenas

Relatos da Hutukara Associação Yanomami (HAY) mostram o estado vulnerável em que se encontra seu povo; Ter a vida das mulheres e meninas indígenas em risco é um perigo para toda a sociedade brasileira

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Colagem de mulheres e crianças indígenas em tons de preto, azul e amarelo. Na cena principal, uma mulher indígena chora.

O ano de 2022, além de ter sido marcado pelas eleições, também é quando a Terra Indígena (TI) Yanomami completa 30 anos de demarcação. Antes do decreto, nos anos 80, garimpeiros estavam alastrados pela TI, retomada com muito esforço. De 2019 para cá, o desmonte das políticas em prol dos povos indígenas e da natureza permitiu que o garimpo retornasse com mais força para a região.

Isso significou maior contaminação dos rios e de peixes pelo mercúrio. E mais: os garimpeiros usam as mulheres indígenas como moeda de troca, para dar comida às comunidades que não conseguem mais se alimentar de maneira autônoma – por meio da floresta e dos rios -, devastada pelas pistas de vôo clandestinas e destruído pelas dragas, respectivamente.

Nesses quatro anos, nenhuma demarcação de terra indígena avançou. E os povos que já tinham suas terras demarcadas foram atacados.

No caso dos Yanomami, as investidas do garimpo miraram as mulheres indígenas, em especial. Relatos da Hutukara Associação Yanomami (HAY) mostram o estado vulnerável em que se encontra seu povo. Sem a possibilidade de cultivar suas roças, famílias inteiras se tornaram reféns de trocas desiguais com garimpeiros.

No relatório “Yanomami sob ataque” é possível ler:

[Os garimpeiros pedindo]O que você pensa a respeito de sua irmã? Se você fizer deitar sua irmã comigo, eu vou pagar para você 5 gramas [de ouro]. Faça o que eu digo! Se você quiser cachaça, eu vou dar também cachaça. Você vai ficar bêbado na sua casa!”

e também

“Após os Yanomami solicitarem comida, os garimpeiros rebatem sempre. (…) ‘Vocês não peçam nossa comida à toa! É evidente que você não trouxe sua filha! Somente depois de deitar com tua filha eu irei te dar comida!’. ‘Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer! Você se alimentará!’.

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Ainda fazem parte dessa rotina de terror, crimes como estupro de meninas e prostituição de mulheres, inclusive imigrantes da Venezuela.

Não por acaso, Bolsonaro teve uma votação expressiva em Roraima, onde se localiza boa parte do garimpo descrito no relatório da Associação Yanomami. Dados do Mapbiomas mostram que a expansão do garimpo nos últimos anos superou o espaço garimpeiro total dos anos 80. Embora a atividade extrativista e predatória nunca tenha acabado completamente, a tensão nestes locais só aumenta.

A luta pela proteção da natureza — importante para não agravar os efeitos da mudança climática (também conhecido como “aquecimento global”) para todos — precisa, urgentemente, passar pela proteção de indígenas e mulheres. São os povos originários que mantêm a nossa biodiversidade e floresta em pé.

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Os últimos quatro anos de um governo permissivo com o crime foram avassaladores para os indígenas. Ter a vida das mulheres e meninas indígenas em risco é um perigo para toda a sociedade brasileira.

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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