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12 de dezembro de 2019

“Deixei minha filha ir no baile de Paraisópolis. Você deixaria?”

"Não adianta lutar contra o funk. Não é só música!", diz a mãe que senta no Divã hoje

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baile funk dz7 paraisópolis
Protesto pelas mortes de 9 jovens em ação policial no baile funk da DZ7 em Paraisópolis (Foto: Reprodução/Mídia Ninja)

“Eu deixei minha filha de 16 anos ir neste sábado no baile funk da DZ7, em Paraisópolis. Você deixaria? Ela foi com uma turma de uns 20 amigos, eu era a única mãe que sabia que eles estavam indo. Você deixaria? Ainda mais com essa responsabilidade de saber que todos os outros pais não sabiam? Nove jovens morreram no fim de semana passado no mesmo lugar e eu a deixei ir. O que você faria? Você deixaria?

Não somos da comunidade, pelo contrário, moramos numa parte do bairro bem privilegiada. Minha filha estuda em escola particular, faz inglês, natação. Aquela história toda. Na primeira vez em que ela foi a este baile funk, foi escondida, e caiu a casa. Chamou um táxi pra voltar, era um amigo do pai dela. Nunca mais mentiu.

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A turma de amigos dela do nosso bairro é colossal, mais de 60 adolescentes, todos se conhecem, se frequentam. Têm grupos gigantes no WhatsApp. A maioria bate cartão no DZ7 todo fim de semana. E muitos deles estavam lá no dia do ataque. Minha filha foi poucas vezes, ela é cautelosa. Não bebe, se cuida, cuida dos amigos.

Mas sábado a tarde ela me disse: “mãe, vou pro baile. Vai geral, vamos todos de branco. A Globo vai estar lá e eles precisam ver que não é coisa de bandidagem! É adolescente que quer se divertir. Temos que protestar, mãe, a polícia não pode fazer isso”.

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Deixei ela ir, pedi que a turma passasse em casa antes para eu falar com todos. Falei sobre prestar atenção, se posicionar em um lugar não muito cheio. Montei um grupo com eles e passei a madrugada acordada, recebendo as imagens e vídeos deles. Só dormi quando chegaram, às 6 da manhã.

“Mãe, está lindo. Estamos chorando”. A frase veio acompanhada de um vídeo com todos de branco com as lanternas dos celulares ligadas.

Dormiu uma penca lá em casa. Acordei comprei café da manhã e comecei a sabatina. Cheguei a algumas conclusões:

Falta espaço para a cultura de rua poder se expressar. Não dá mais pra ignorar isso. O mundo mudou, a internet, os adolescentes. Chega dessa coisa “no meu tempo”.

Não gosta de funk? Aceita que dói menos. Caminho sem volta, gente. Respeita, entende, nem todo mundo precisa ser igual a você. Discute o assunto sem empáfia. Mostra outros sons para seus filhos. Mas não adianta lutar contra funk. Não é só música!

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Eles me disseram no café da manhã: “sabe o que a gente sentiu ontem? Que esse ataque da polícia fortaleceu o baile. Não tinha briga, não tinha clima tenso. Eram mais de 5 mil pessoas fortalecidas”. Alguma dúvida de que esses ataques da polícia jamais vão conseguir acabar com esses bailes? E nem vão impedir os seus filhos de irem?

Fico orgulhosa da minha filha ser consciente, raciocinar. Se cuidar, mas também querer protestar, fazer parte. E mais ainda de poder dividir isso com ela, de saber que pelo fato de termos conversas francas e abertas, eu era a única mãe que sabia do bonde para o baile.

Drogas e bandido tem na porta das faculdades, no centrão, nos bairros nobres, na perifa. Tem nas festas de político. No encontro da firma que você foi na semana passada.

Se somos responsáveis pela integridade física e educação de nossos filhos, temos que antes ser conscientes da realidade. Deixar ela ir nesse baile foi forte. Mesmo tendo certeza absoluta de que seria veementemente rechaçada por todos se eu contasse.

E você como agiria?”

O Divã de hoje é anônimo.


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* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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