Depoimento de A.R., 35 anos, dado a Gislene Ramos
Ano passado, conheci um rapaz em um barzinho, foi uma conversa interessante, rolou clima e combinamos de sair depois. No nosso primeiro encontro, ele passou pra me pegar em casa. Foi uma energia ótima. Conversamos bastante, boas risadas e senti que as coisas fluíram. Gostei. Ficamos e nos demos muito bem. Depois nos falamos algumas vezes e combinamos um segundo encontro em um restaurante. Pelo teor mais íntimo das nossas conversas, já estava entendido que iria rolar sexo. E eu estava bem afim!
Chegando o dia, ele foi me buscar e ainda no carro quando fui comprimentá-lo já não senti a mesma energia boa que havia sentido na primeira vez. Não sei explicar muito bem, mas parecia que naquele dia não tinha mais química. Essas coisas acontecem, né?
Então percebi que eu não estava mais afim de ficar com ele e, não tive dúvida, falei. Como a gente já conversava, me senti à vontade para falar a ele que havia mudado de ideia e que não estava afim de transar. Ele ainda tentou me convencer a continuar, mas eu não estava afim mesmo. Ficou na cara a insatisfação dele, mas eu não podia fazer nada, tinha que respeitar a minha vontade, né?
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Ter feito isso me fez muito bem. É que eu já tinha passado por essa situações de topar sair e depois perder a vontade, mas nunca tinha tido coragem de dizer não. Na verdade eu não sabia dizer não. Saía com as pessoas e por medo de sei lá o que, eu me submetia mesmo não querendo.
Quando isso acontecia,eu me sentia péssima, querendo que terminasse logo e aquilo me machucava até nos dias seguintes. Mas na hora, eu achava que, poxa, o cara está aqui, se disponibilizou para estar comigo, mudar de ideia não me parecia certo. E também por medo de sofrer alguma agressão, de que ele não aceitasse.
Acho que isso acontecia porque eu tinha um complexo muito grande, achava que eu era inferior. Mas com o tempo, maturidade e muito autocuidado, percebi que sou muito mais que pré conceitos femininos ou de outro tipo. Percebi que não valia a pena me agredir pra tentar agradar a ninguém.
Então desta vez foi diferente. No meu pensamento, se eu transasse com ele percebendo que a energia não estava boa, me sentiria um objeto descartável. E por isso, decidi que não iria contrariar a minha vontade, nem me machucar para agradar ou não ferir o outro. Ele respondeu que entendia minha decisão, mas a expressão dele não era das melhores. Como ele estava de carro, me levou para casa.
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Ele ainda me procurou algumas vezes, mas deixei claro que não queria mais e ele acabou desistindo.
No final de tudo, eu me senti muito bem, sem peso na consciência. Não me senti usada e a sensação foi incrível, libertadora. Percebi como posso ser dona das minhas escolhas e do meu próprio corpo.
Se ame antes de mais nada. Não maltrate seu corpo para alegrar outra pessoa. Corpo maltratado é sinônimo de mente machucada. Cicatrizes e feridas da alma doem muito mais que do corpo físico.