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22 de fevereiro de 2018

#AconteceuNoCarnaval: Meu namorado me agrediu pra me ‘proteger de mim mesma’

'Ele deixou marcas roxas nos meus braços, pra me defender da minha infantilidade. Dos meus ciúmes exagerados'

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Foto: Pexels,com

Divã de hoje é anônimo. Também tem uma história de assédio ou violência no Carnaval? Compartilhe em #AconteceuNoCarnaval

‘Meu namorado era um cara maneirão, popular, gente boa, cheio de amigos. Eu sempre tive uma queda por ele. Me apaixonei rápido. Quando a gente começou a ficar ele ‘ficava’ comigo e com outra menina, e as duas sabiam de tudo. Ele tinha certeza que não machucava ninguém, afinal, ele era sincero. No fim ele machucou a menina, deixou ela esperando por ele. Ele chorou no meu colo por fazer alguém especial sofrer, ele não queria, ele nunca quer, não é mesmo? Eu consolei. Eu acreditei (boba) que aquilo não me atingia.

Ele era muito ciumento. Ele brigou comigo duas vezes por que outros homens chegaram em mim, e eu ‘não tive postura’. No carnaval ele falou que, dependendo da roupa que eu usava, poderia ser mais ou menos assediada. De vez em quando ele fazia piada com meu peso e eu brigava, chorava. Ele achava um exagero. O problema de auto-estima era meu. Eu que me entendesse com meu corpo. Era só uma piada.

Sempre que a gente brigava ele era machista comigo pra ganhar a briga. Ele falou pérolas como ‘você está me oprimindo’ quando eu disse que não aceitaria nenhum comentário dele sobre meus pelos pubianos. Afinal, era só uma opinião, e ele tinha direito de dar.

Mas, depois, ele pedia desculpas, assumia o erro, dizia que ia aprender, que eu que não tinha paciência, que eu não era leve com ele. Que queria mudá-lo, impor minha opinião. E tudo virava uma grande lua de mel.

Muitas outras coisas aconteceram e meu namoro foi me intoxicando. Eu comecei a me sentir julgada, feia, nunca boa o suficiente.

Isso existe, gente, com o cara maneirão. Ele destrói sua auto-estima, ele te machuca pra te destruir. Por que ele lidava com a insegurança dele acabando com a minha, por que quando ele ficava inseguro ele me atacava. Mas na verdade a louca era sempre eu.

Segunda de carnaval ele saiu com uma ex, que agora é amiga dele, de quem eu tenho ciúmes, e me contou que fez uma massagem nos pés dela quando eles chegaram na casa dela depois do bloco pra retribuir todo o afeto que ela tinha dado pra ele. Eu tive ciúmes, sim, me senti um lixo, me senti traída.

Afinal, até quando eu não gozava, só ele, também era eu que não tinha feito a minha parte. Quando ele me falou da massagem, sentei no chão e chorei, disse que estava tudo acabado. Que não ia perdoar nunca. Que ele tinha me traído. Traído um pedido meu, de não ter contato físico com ela.

E sabe o que meu namorado maneirão fez? Cuidou de mim, claro, eu era a louca sentada no chão, ele estava me protegendo daquele local perigoso. Você imagina que ele fez isso me consolando, ou sendo afetivo? Não, ele gritou. Ele disse que ia ligar pra minha mãe. Ele disse que eu era louca. Paranóica. Que sexualizava tudo. Que ela merecia.

Ele tocou em mim de forma agressiva várias vezes. Eu apenas chorei e disse que ele tinha me traído. Que fosse embora. ‘Agora não vou te deixar aí abandonada na sarjeta chorando, pra depois você falar que eu te deixei chorando no meio da rua. Você vai entrar no táxi e depois pode ficar tranquila que você nunca mais vai me ver.’ Aí tentou me botar no táxi à força. E deixou as marcas dos seus dedos no meu braço.

Até que ele parou duas meninas e pediu pra elas me ajudarem. Eu pedi que elas apenas fizessem ele ir embora. E ele foi. E elas sentaram no chão comigo e me abraçaram. E eu parei de chorar. E de tremer. E fiquei um tempo ali abraçada com elas. Depois elas me levaram no táxi. E eu fui pra casa.

Terça feira de carnaval, meu agora ex-namorado maneirão deixou marcas roxas nos meus braços, pra me defender de mim mesma. Da minha infantilidade. Dos meus ciúmes exagerados. Depois de eu ter tirado ele do sério. Na verdade a culpa foi minha. Por ter ciúmes. Por chorar. Por deixar ele nervoso. E agora por expor ele. Certo?

O agressor mora no homem comum, no cara maneirão, no cara que eu amo. No filho amado. No bom irmão. Mas esse cara maneirão não conseguiu dessa vez, por que eu não estou sozinha, eu não sou louca. Eu sou livre. Como diz Elza Soares, ‘você vai se arrepender de levantar a mão pra mim'”.

Também tem um desabafo para fazer ou uma história para contar? Então senta que o divã é seu! Envie seu relato para liane.thedim@azmina.com.br 

 

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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