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19 de novembro de 2016

Banda de uma mulher só: americanas e brasileiras contam como é

O estilo conta com uma multi instrumentista que canta e toca simultaneamente, usando suas mãos e pés

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A multi-instrumentista Allyson, DD Dagger, dos EUA, arrasa com seu sax e sua guitarra. Foto: Allan Almeida

V ocê já ouviu falar de “one-woman band”? Como o próprio nome diz, é uma “banda de uma mulher só”, em que uma multi-instrumentista canta e toca simultaneamente, usando suas mãos e pés, munidas de mecanismos eletrônicos e/ou analógicos.

Os primeiros registros de vários instrumentos musicais sendo tocados ao mesmo tempo datam do século 13 e começaram com a toona (flauta simples de três furos que pode ser tocada com uma mão) e o tambor. É uma xilogravura da era isabelina que mostra um palhaço tocando toona e tambor.

Foi justamente a temática circense que trouxe duas “one-woman band” à festa “Hard Grrrls – O Espetáculo”, neste final de semana: Bloody Mary Una Chica Band, de São Paulo-SP, e DD Dagger, de Austin, nos Estados Unidos.

Bloody Mary Una Chica Band é um projeto de Marianne Crestani que, munida com sua guitarra e bateria, destila garage noise com som distorcido, batida certeira, voz rasgada e embriagada. Já a multinstrumentista, DD Dagger, Allyson, aposta em base feita em seu computador ou em seu pedal, ora com seu sax e ora com sua guitarra, trazendo um mix de indie, erótica, rock e pop.

Conversamos com as duas para saber como é a experiência de subir aos palcos sozinha, aproveitando essa conexão São Paulo x Texas. Bloody Mary contou que o formato é extremamente desafiador, já o show depende fisica e sonoramente apenas de você:

“É bem diferente estar sozinha. Com uma banda, você divide a energia, a sonoridade, o improviso”.

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Bloody Mary Una Chica Band é um projeto de Marianne Crestani de São Paulo. Foto: Allan Almeida.

DD Dagger, que vive na cidade que respira festivais musicais, nos conta que acaba se cobrando e trabalhando mais para combater a ideia de que mulheres não podem tocar tão bem quanto homens. “Dizem que precisamos ser incríveis para mostrar nosso talento no palco. Para algumas musicistas mulheres isso não atrapalha, mas o meu empoderamento demorou a vir.”

No primeiro semestre de 2016, Bloody Mary fez uma turnê pela Europa e, após presenciar uma porção de atitudes machistas nos lugares em que passou, “em umas cidades mais, outras menos”, não se deixou intimidar.

“O fato de alguém falar que não posso fazer algo, só me estimula ainda mais”

“O espaço da mulher deve ser todos os lugares! Temos que quebrar esse paradigma a cada dia, fazendo o que temos vontade”, provoca. Através de suas músicas, essas grrrls ajudam no empoderamento feminino. “Seja no simples ato de compor minha própria música ou subindo no palco, sinto que inspiro outras mulheres”, afirma DD Dagger. Aqui no Brasil, onde temos muitas mulheres no rock and roll, Bloody Mary dá o exemplo de que o grito da revolta nas músicas riot girls dá o combustível para continuar lutando por uma vida melhor para todas.

Ambas começaram muito cedo na estrada musical e presenciaram muitas mudanças. “Eu vivi a transição da comunicação por cartas e do boca a boca pra internet, que permitiu um fortalecimento dessa troca de experiências e informação”, conta Bloody Mary.

DD Dagger destaca que uma mudança muito positiva é que, hoje em dia, vemos muito mais mulheres envolvidas em bandas. Um projeto que tem gerado muitos frutos para elas é o Girls Rock Camp, do qual tanto a Bloody Mary quanto DD Dagger participam em suas respectivas cidades.

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Gravação de discos

Não muito diferente do que ocorre no Brasil, DD Dagger enfrentou problemas de orçamento quando foi gravar seu primeiro álbum. A grana demandada era muito maior do que a que ela tinha. A solução foi apostar no “DO IT YOURSELF” (faça você mesma). Ela gravou, escreveu, tocou e produziu seu primeiro álbum “Femmie Auteur” em uma garagem de banda.

Para Bloody Mary, a gravação do compacto “Heart Disease” foi feita inteira por ela e ao vivo. Segundo ela, dessa forma é mais fácil chegar nos timbres que tem em mente, além de soar de forma mais orgânica. Sobre planos pro futuro, Bloody Mary conta que está com uma banda nova, Pantano Bay, em que toca bateria. Em breve eles lançarão o primeiro compacto.

Enquanto isso, DD Dagger desembarcou no Brasil em novembro e está super animada com a gravação que vai fazer com o produtor Bruno Serroni. “Eu estou escrevendo e reunindo todas as músicas enquanto falamos sobre o projeto. Espero que quando eu estiver indo embora do Brasil, em dezembo, eu já tenha uma nova gravação para me orgulhar”, conta DD Dagger.

Para finalizar as meninas têm um recado para nossas leitoras:

“Para as meninas que estão aprendendo a tocar: sejam pacientes consigo mesmas. Comecem devagar e fiquem firmes. Tocar música é muito sobre disciplina e não desanimar. Saiba que o verdadeiro prazer de escrever ou tocar (ou qualquer empreendimento artístico) está no momento, não no futuro. O verdadeiro prazer é a linguagem da música e da comunidade que compartilhamos”, atesta DD Dagger.

“Mulheres lésbicas, trans, negras, latinas, radicais, interseccionais, liberais, enfim, todas vamos nos alinhar e respeitar cada vez mais nossas pautas e nos unir”, finaliza Bloody Mary.

Escute Bloody Mary Una Chica Band:

Escute DD DAGGER:

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* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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