Alfonsina é uruguaia, poeta, compositora, multi-instrumentista e coprodutora de seu último álbum “Pactos” que foi lançado em meados de 2017. Ela começou seu trabalho na música em 2010, depois que o artista Tricky (ex-Massive Attack) a convidou para sair em turnê como sua vocalista. Ela nos conta em entrevista que considera a poesia “como um relacionamento de formas e silêncios, sem importar a disciplina (podem ser palavras, cores, arranjos de bataria e baixo, o que seja)”.
Esse ponto de vista foi criado pelo relacionamento com o avô que se dava à distância, “meu avô enviava cartas pra mim, porque vivia longe. Ele cultivou em mim o gosto pela palavra escrita e também junto a meu outro avô, o gosto pela pintura. A música é uma continuação da poesia“. Para ela, a carreira musical não implica em obstáculos e sim em pacto:
“Não falaria de obstáculos, mais sim de uma investigação constante, um interesse desde cedo sobre a estranheza de estar viva e de engajar um diálogo poético com o mundo”.
Luísa Nascim é frontwoman de Luísa e os Alquimistas, natalense, e consolidou sua carreira artística dentro do universo e da linguagem circense. Foi a partir dai que começou a se interessar por direção, figurino, produção de espetáculos e música. Recorda-se que “foi na trilha sonora de uma cena em que atuava como acrobata que comecei a cantar em público e me expressar através da voz. Sempre gostei de cantar, desde pequena, mas era algo muito íntimo, que fazia em casa.” E revela, “o primeiro obstáculo pra mim foi me considerar capaz de compor e de assumir o lugar de frontwoman em uma banda” – desafio comum à muitas de nós, mulheres, em qualquer âmbito da vida.
A banda é formada por Luísa (compositora e vocalista), Zé Caxangá (synth e guitarra), Gabriel Souto (bases eletrônicas, mpc e efeitos de voz) e Pedras (baixo e samplers) e conta com dois discos na carreira, sendo o último, Vekanandra, lançado em novembro do ano passado. É fortemente influenciado pelo pop underground da música eletrônica surgida nas periferias do Brasil, passando pelo soul e traz também influências jamaicanas.
A banda demonia (escreve assim mesmo, tudo minúsculo), também de Natal-RN, representa o punk rock no seu estado puro trazendo letras tanto com temas políticos e agressivos quanto ácidos e divertidos, além de um repertório curto, e intenso. Formada por Quel Soares (bateria), Nanda (guitarra), Isabela Graça (guitarra), Karina Moritzen (vocal) e Karla Farias (baixo).
O single de estréia, Reptilianos Malditos, foi lançado em todas as plataformas streaming neste ano. Segundo elas, todas têm um pé na música desde sempre: Karla e Raquel tocam há uns 10 anos, Karina tem uma produtora independente (Brasinha), já Nanda e Isa tinham algum projeto musical desde cedo.
Karina revela que a banda foi formada por conta da necessidade de expressão, “a música surge na vida da gente pela necessidade de se expressar, e essa necessidade às vezes é mútua e daí nasce uma união“. O principal obstáculo encontrado foi o de ser uma banda independente no Brasil, “e mais ainda, no nordeste, porque tudo que precisamos fazer depende inteiramente de nós”, desabafa Quel.
Sabemos que o Brasil e o continente Sul-Americano é muito rico em música e cultura. No entanto, é nas capitais que estão os holofotes. Aqui no Brasil, o eixo São Paulo-Rio acaba sempre concentrando as referências. Ainda assim, Afonsina prefere ver o lado positivo e questionada sobre as alegrias e dificuldades responde “às vezes, tenho a alegria de encontrar um lugar pra minha arte, às vezes tenho a tristeza de não encontrar um lugar pra minha arte”, nos lembrando que a vida é cheia de altos e baixo e todas as situações vivenciadas são de um profundo aprendizado. Luisa completa,
“Vejo o cenário musical latinoamericano como algo muito rico e bebo demais dessa fonte . Grandes artistas (principalmente mulheres) me inspiram”.
Para as garotas da demonia o cenário vem crescendo “em especial, existe uma forte cena punk na Venezuela pela crise que tá acontecendo por lá. A música surge da necessidade de se expressar, vivemos tempos difíceis, e a tendência do crescimento do cenário é um pouco maior”, conclui Isabela.
Essas três potências da música (e da representatividade feminina à frente dos palcos) estará reunida no M.A.D.A. (Música Alimento da Alma), um dos principais festivais do país, que acontece dias 12 e 13 de outubro no estádio Arena das Dunas (em Natal-RN), numa edição especial de 20 anos. Com a programação contando com 50% de artistas mulheres, Jomardo Jomas, diretor do festival, comenta “sempre tivemos a sensibilidade e preocupação de ter uma programação igualitária entre os gêneros”.
Essa é a terceira participação no festival de Luisa, “o MADA nos apoia desde o início e foi fundamental pra nos conectar com pessoas que estão fora da nossa rede de atuação no cenário underground. É uma grande vitrine, uma super festa e estamos muito empolgados!”
Afonsina, que recebeu o convite através de seu produtor no Brasil, Rafael Lopes, da Música a Vapor, diz que “o festival é muito importante pra mim, vai começar um diálogo com muitas pessoas jovens interessadas realmente em sons novos. Esse momento de abertura me dá sentido“.
Para as demina, convite foi recebido com muita empolgação. Karla nos conta “é um festival que está há 20 anos no cenário musical do RN, e é de suma importância pra gente fazer parte de uma de suas edições, e sendo a edição comemorativa estamos mais lisonjeadas ainda” e Nanda finaliza, “Vamos fazer história nesse rolé!“.
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