logo AzMina

Tinder das Eleições: conheça as plataformas para encontrar a candidata ideal

Para eleger mais mulheres nas Eleições 2018, iniciativas ajudam a aproximar eleitoras e eleitores de candidaturas, no melhor match possível

Nós fazemos parte do Trust Project

Apps e sites ajudam eleitoras e eleitores a encontrar candidatas. Crédito: Rawpixel/Unsplash

Depois dos relacionamentos amorosos, os aplicativos para dar match no seu par ideal (ou ao menos possível) chegaram à política. Diversas plataformas foram lançadas nas Eleições 2018 para ajudar os eleitores na escolha do mar de possibilidades de candidatas e candidatos. No dia 7 de outubro, o encontro com as urnas eletrônicas promete ser daqueles encontros demorados, com direito a entrada e sobremesa. Isso porque teremos que escolher candidatas a cinco cargos: presidente, governador, senador (em alguns Estados mais de um), deputado federal e deputado estadual. E sim, falamos em candidatas porque a Revista AzMina defende a maior representatividade das mulheres na política.

As iniciativas são das mais variadas. Desde programas que procuram candidatas a partir de parâmetros estabelecidos pela eleitora ou eleitor, até plataformas que dão suporte a campanhas com materiais e consultoria, passando por iniciativas de jornalismo para dar maior cobertura a candidaturas femininas. A maioria dos projetos é independente de partidos e todos pleiteiam aumentar o número de mulheres em cargos políticos nessas eleições.

A desigualdade de gênero nas relações de trabalho, assim como nos demais segmentos da sociedade, tem sido uma pauta central da luta das mulheres ao longo da história. Mas a reduzida participação feminina na política, em especial, possui importância fundamental, uma vez que impacta diretamente nas demandas femininas por direitos essenciais.

Leia mais: Como o feminismo e as mulheres podem influenciar as eleições em 2018

“Partimos do diagnóstico que elegemos em 2014 o Congresso Nacional mais conservador da história democrática do país e temos visto várias pautas que representam o retrocesso aos direitos humanos, das mulheres, LGBTs, indígenas. Precisamos mostrar que hoje, o que é um desvalor na política, no caso os direitos humanos, precisa se tornar na verdade uma força política, um valor”, diz Evorah Cardoso, co-diretora da plataforma #MeRepresenta.

O Brasil enfrenta um quadro histórico de baixa representatividade de políticas eleitas, que começa na tardia conquista pelos direitos políticos das mulheres, adquiridos só em 1932, quando foi permitido o direito do voto. No quadro comparativo internacional, o país possui pouco mais de 10% de deputadas federais. A média mundial é de 26,3%. Os dados são da Inter-Parliamentary Union – uma associação dos legislativos nacionais de todo o mundo.

Esse apontamento coloca o país na 152ª posição entre 193 países do ranking elaborado pela associação, atrás de todos os países desenvolvidos e à frente apenas de alguns países árabes, do Oriente Médio e da África. Os números são igualmente baixos quando se trata de mulheres que ocupam cargos no executivo e em pastas ministeriais.

Leia mais: Mulheres no Congresso aumentam confiança na democracia, diz especialista de gênero da OEA

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apenas um terço das candidaturas registradas nas eleições de 2018 são de mulheres. Para ser exata, 30,7%, ou seja, pouquíssimo mais do que o mínimo estabelecido pela Lei nº 12.034, de 2009, que estipula que cada partido ou coligação deve preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidatura de cada sexo.

Ainda que as candidaturas femininas tenham crescido nas últimas eleições – para atender à nova exigência da lei de 2009 –, o percentual relativo de votos recebidos pelas mulheres caiu no mesmo período. Isso acontece devido às “candidaturas-laranja”, quando os partidos políticos praticam fraude eleitoral e inscrevem mulheres para cumprirem a cota, mas são na verdade candidaturas forjadas. O TSE investiga esses casos.

“Considero as Eleições de 2018 muito importante para a tomada de consciência da ‘eleitorada’, como chamo as eleitoras mulheres”, diz a ativista e roteirista Antônia Pellegrino. Ela compartilha em sua rede social (no highlight do story, no Instagram) vídeos curtos com uma lista que contempla indicações de candidatas de todos os Estados. A ideia do #PraVotarNelas surgiu a partir da procura de pessoas que pediam a ela sugestões de em quem votar. “Escolho mulheres comprometidas com a agenda de direitos das mulheres. Contribuir com isso é fundamental e faz parte do meu ativismo feminista”, afirma Antônia.

Confira a seguir as iniciativas que podem te ajudar nessas eleições:

Me Representa

A plataforma #MeRepresenta conecta eleitoras e eleitores a candidaturas que se posicionam sobre temas relevantes para a sociedade civil. Para escolher a candidata(o), a eleitora ou eleitor deve clicar na opção “Sou eleitor/a”. O primeiro passo é escolher entre os nove temas que sejam importantes para sua escolha: (1) gênero, (2) raça, (3) LGBTs, (4) povos tradicionais e meio ambiente, (5) trabalho, saúde e educação, (6) segurança e direitos humanos, (7) corrupção, (8) drogas, (9) migrantes. Após a escolha, o site lista as principais candidatas com o perfil escolhido e informações relevantes sobre a candidata(o), o partido e a coligação.

Você pode colocar ainda filtros para cargos (deputada/o estadual, deputada/o federal e senador/a), identidade (mulher, negro, indígena e LGBT) e partido. “Colocamos esses filtros porque para nós não basta encontrar candidaturas que sejam apenas representativas e favoráveis a determinadas pautas de direitos humanos, queremos promover uma representatividade de corpo”, diz Evorah Cardoso, uma das idealizadoras da plataforma.

O #MeRepresenta é uma iniciativa de uma ONG de mesmo nome formada por coletivos de mulheres, pessoas negras e LGBT+ que buscam promover igualdade de gênero, luta antirracista e respeito à diversidade sexual e à identidade de gênero na política. A iniciativa existe desde 2016 e é fruto da parceira da Rede Feminista de Juristas (DeFEMde), #VoteLGBT, Blogueiras Negras e Fundação Cidadania Inteligente. Em 2018, a iniciativa ganhou mais apoiadoras, entre elas a Revista AzMina.

Vote Nelas


“De direita, de centro ou de esquerda, não importa de que lado do espectro. O importante é eleger mais mulheres nas Eleições 2018”, diz o site Vote Nelas, um movimento que se define como “suprapartidário, feminino e feminista” e que faz campanha por mais mulheres na política. O site indica candidatas de 11 Estados e as ajuda em suas campanhas. As candidatas chegam, inicialmente, por meio das redes das voluntárias que compõem o Vote Nelas e, posteriormente, por uma pesquisa nacional, com a priorização dos recortes de raça, gênero e pessoas com deficiência, que defendem a democracia, o combate à violência contra a mulher e o apoio de mulheres no mercado de trabalho.

“A lista de candidatas é produto de uma preocupação suprapartidária em garantir pluralidade de pautas e visibilidade para as campanhas de mulheres nas eleições 2018”, afirma o site. Elas observaram que haviam movimentos de renovação na política, mas nenhum que lutasse para que mais mulheres fossem eleitas. “O que queremos é trazer esses dados absurdos [do baixo número de mulheres na política] e fazer campanhas para elevar esse percentagem ínfimo que temos no legislativo, o que deixa o Brasil entre as 20 piores democracias no mundo em relação a representatividade da mulher”, disse Duda Alcântara, co-fundadora da plataforma junto com Marina Helou. Duda é candidata a deputada federal e Marina a deputada estadual, ambas pela Rede de São Paulo. Duda explica que a plataforma escolheu focar em poucas candidatas para conseguir, de fato, ter espaço de fala para essas.

Meu Voto Será Feminista


É uma campanha para promover candidaturas de mulheres com pautas feministas, por meio de ações nas redes e nas ruas. “Queremos que a nossa pauta esteja garantida nas plataformas eleitorais e nas reivindicações por mudanças profundas. Queremos ocupar nosso espaço, nas ruas, nos muros, nos parlamentos e nos mandatos executivos”, diz o site. A iniciativa lista as candidatas que querem ocupando o poder, todas de partidos de esquerda. Para a campanha #meuvotoserafeminista conseguiram arrecadar, por meio de um site de financiamento coletivo, 27 mil reais. O dinheiro foi investido em materiais de comunicação e vídeo para engajar mais mulheres nos espaços de poder.

A ação é organizada pela #PartidaFeminista, coletiva suprapartidária e orientada à esquerda, como mesmo se define, que “busca ocupar a política com, para e por mulheres feministas que pensam um projeto de democracia, enfrentamento com justiça social, diálogo e inegociável a todas as formas de desigualdade e opressão”.

Appartidárias 2.0


O Grupo Mulheres do Brasil, que incentiva o protagonismo da mulher na sociedade, lançou o aplicativo Apartidárias 2.0. A ideia é mapear e divulgar as candidaturas de mulheres nas eleições de 2018. Tanto no site quanto no app é possível fazer a busca de candidatas por Estado, partido, cargo e pautas (34 no total, de combate a violência contra a mulher até reforma política, passando por economia). “Nós, mulheres, somos 51,5% da população brasileira e 52% de todo o eleitorado do país, mas somos apenas 10% no legislativo. Políticas públicas para mulheres são melhor pensadas e elaboradas por mulheres”, diz o site.

A intenção é divulgar informações também nas redes sociais com dados das candidatas, inclusive em casos que possam envolver denúncias. Em sua descrição, o projeto fala em caráter investigativo, afirmando uma parceria com o Ministério Público para informar partidos que não estejam repassando a verba para campanhas de mulheres. O site traz um infográfico mostrando o percentual de mulheres candidatas por partido, assim como o percentual de dinheiro destinado a essas candidaturas.

Iniciativas regionais

Mapa das Minas


É uma plataforma digital que aponta candidaturas de mulheres no Estado do Rio de Janeiro. A partir de 15 pautas pré-determinadas, a eleitora seleciona quais são importantes para o seu voto, escolhe partidos de interesse (estão disponíveis quatro, todos de esquerda), e aparecem opções de 37 candidatas no mapa. “Fizemos uma filtragem nas decisões partidárias entre 2016-2017, em especial no congresso federal, sobre votações em pautas referentes aos direitos humanos (e, destes, tendo especial foco nos direitos das mulheres). A partir daí, chegamos a lista final dos quatro partidos que hoje estão no #mapadasmina”, explicam os idealizadores do Mapa Julia Rensi, Cristiane Vianna Amaral e Felipe Kusnitzki.

O Mapa é uma iniciativa de um coletivo de mesmo nome criado em setembro de 2017 a partir de um laboratório de hacking cívico, a #hackatonA, realizada em parceria com as Pyladies, iniciativa que busca incentivar mulheres na área de tecnologia.

Somos Muitas

Iniciativa de Minas Gerais, o Somos Muitas é uma campanha coletiva de candidatas e candidatos do Psol. São pessoas que lutam pelo direito à moradia, legalização das drogas, segurança cidadã e justiça social. Em 2016, a campanha coletiva teve o apoio de 35.756 pessoas e conseguiu eleger as vereadoras Áurea Carolina e Cida Falabella em Belo Horizonte. Neste ano, a campanha está maior e promove 12 candidatos, 5 deputadas(os) federais e 7 deputadas(os) estaduais, todos pelo Psol. 

Mais representatividade

Há também projetos que incentivam a maior representatividade de mulheres na política, mas sem necessariamente fazer o match entre candidaturas e eleitoras e eleitores. Conheça algumas delas:

Mulheres Negras Decidem

“Em 2018, confie em mulheres negras, construa com mulheres negras, fortaleça mulheres negras”. Mulheres Negras Decidem é uma campanha pra fortalecer a candidatura de mulheres negras. Sem indicar candidatas, o site propõe divulgar o longo legado de movimentos de mulheres negras que lutam pelo avanço dos direitos por meio do fortalecimento de processos eleitorais.

O site busca desmitificar frases machistas, racistas e preconceituosas sobre mulheres negras pleiteando cargos políticos. Como “negros não votam em negros” e “existem poucas mulheres negras eleitas porque elas não se candidatam”. Na seção “Diagnóstico” é possível entender as trajetórias das mulheres negras nas políticas por meio de dados. Há também um podcast sobre o sistema político das candidatura de Léila González, Jurema Batista e Marielle. A campanha é uma iniciativa da Rede Umunna e o site desenvolvido pela Fundação Cidadania Inteligente.

A Candidata

A Candidata é um projeto dedicado a aumentar o número de mulheres em cargos políticos, estimular aquelas que ainda tem dúvidas sobre seu potencial eleitoral, e preparar aquelas que estão em campanha. A plataforma apoia e ajuda nas campanhas de mulheres que já são candidatas em 2018. Tem três frentes de atuação. A primeira é a construção de uma rede que permita a conexão com outras mulheres que estejam neste mesmo caminho. Para compartilhar trajetórias políticas, trocar conhecimento e se apoiar. A segunda é oferecer workshops sobre assuntos que desmistificam o processo político. A terceira é auxiliar no planejamento de campanhas. Para isso, disponibiliza cursos para que as candidatas aprendem a lidar com as burocracias e questões contábeis e jurídicas de uma candidatura.

Campanha Libertas

É um site jornalístico lançado por jornalistas mineiras focado na cobertura de candidaturas femininas. A equipe produz reportagens, apresenta propostas, participa de rodas de conversas e fiscaliza recursos para dar mais visibilidade às candidatas a cargos eletivos por Minas Gerais. O projeto conseguiu decolar graças a um financiamento coletivo.

Para o grupo, formado por 14 jornalistas já engajadas na luta por igualdade de gênero, a representatividade importa. “O Parlamento precisa ser um reflexo de quem ele representa e precisamos garantir a igualdade de oportunidades em todos os níveis”, diz a equipe do site. “A participação das mulheres não é somente uma exigência democrática, mas uma condição necessária para que os nossos interesses, nossas pautas e nossas perspectivas sejam considerados sempre, a cada nova decisão.”

Campanha de Mulher

É um projeto de comunicação idealizado pelo Mídia Ninja para apoiar mulheres candidatas em 2018. O objetivo é dar suporte (design, fotografia, audiovisual, assessoria de imprensa, redes sociais) para campanhas escolhidas via edital e romper com a ideia de que mulheres não pertencem à política. O site indica candidaturas de partidos de esquerda por regiões do país ou Estados. “A cada ano eleitoral a Mídia Ninja disponibiliza seus comunicadores para difundir candidatos que entendemos como alinhados à defesa da democracia, aos direitos da população e à luta pelo fim da desigualdade. Neste ano, nos sentimos pessoalmente provocados a enfrentar uma delas: a disparidade de gênero em todo nosso sistema eleitoral”, siz o site.

Deixamos de fora alguma iniciativa importante? Conta pra gente nas redes sociais!

Leia mais: Como seria um governo de Bolsonaro para as mulheres?  

Faça parte dessa luta agora

Tudo que AzMina faz é gratuito e acessível para mulheres e meninas que precisam do jornalismo que luta pelos nossos direitos. Se você leu ou assistiu essa reportagem hoje, é porque nossa equipe trabalhou por semanas para produzir um conteúdo que você não vai encontrar em nenhum outro veículo, como a gente faz. Para continuar, AzMina precisa da sua doação.   

APOIE HOJE