Quem senta no Divã de hoje é a Clara Roman.

Esse texto é um chamamento. Ou pelo menos é isso o que eu queria com ele. Semana passada foi o amigo do namorado, esta semana o colega do trabalho. A gente volta pra rotina rápido e aí coloca tipo uma carapaça, que é o que a gente usa o dia todo na cidade grande. A gente vai se acostumando com ela.
Esse texto é sobre a solidão. Não sobre ficar só. Mas sobre sentir-se só. É sobre o tempo, aquele que a gente já não tem na hora de dar a mão pro amigo. Eu não sei se é a idade, se são os tais tempos modernos.
Quando eu era criança, minha mãe tinha depressão. O pai dela, meu avô, deu um tiro na própria garganta. Bem na hora que ela entrou em casa. Minha mãe sucumbiu. Ainda tento lidar com a ausência dela nesses anos. Por isso eu decidi uma vez: nunca vou entrar em depressão.
Foi fácil falar isso aos 15 anos. Aos 20. Agora eu tô com 27 e não anda tão fácil assim. Eu estou bem, antes que me perguntem. Mas está difícil ficar bem. Eu me sinto no meio de uma epidemia. É como se tudo me levasse a cair, mas por algum motivo eu ainda tô em pé. Por quanto tempo?
Há algumas semanas, acendeu um sinal amarelo para mim. Dois casos de suicídio, um colega do trabalho saiu de licença. Quando eu soube, fiquei com vontade de chamar ele para morar em casa, adotar um cachorro, assistir uma comédia ruim com pipoca e brigadeiro. Mas não fiz nada.
Toda vez que eu escuto falar de alguém que se foi por causa da depressão, eu penso: perdemos mais um. Como sociedade mesmo. A nossa sociedade não deu conta.
Esse texto é um chamamento. Eu não sei porque tanta gente está deprimida, mas eu tenho umas teorias. Eu também não sei a solução, mas tenho umas sugestões. Uma delas é começar a falar sobre isso.
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