A menopausa significa o fim da possibilidade reprodutiva das pessoas com útero devido à diminuição da função ovariana. Assim como os demais eventos fisiológicos de mulheres e pessoas com útero, essa fase também está sujeita a uma disputa de narrativas, e, atualmente, de tabus. A menopausa passou a ser um grande nicho de mercado com conflitos de interesse explícitos.
É certo que essa transição ou travessia pode ser desafiadora diante de sintomas como calores, insônia e irritabilidade. Com isso, as respostas milagrosas pareçam sedutoras. Mas o que vemos é um mercado desregulado de influenciadores vendendo promessas que vão desde suplementos a ‘chips’ (implantes hormonais), passando pelos marketeiros ‘bioidênticos’ vendidos como naturais.
Em uma sociedade capitalista como a nossa, o envelhecimento é desvalorizado e a menopausa descrita como constrangimento e decadência, da qual se pode fugir como se fosse uma ‘escolha’. Uma visão etarista e elitista já que a vivência da menopausa é altamente influenciada por recursos materiais e simbólicos.
Estudos mostram que quem pior pontua em questionários de qualidade de vida nessa fase são as mulheres com menor nível socioeconômico. Mulheres sobrecarregadas com trabalho doméstico e de cuidado, sem acesso a lazer, atividade física e alimentação saudável, expostas a todo tipo de abuso e exploração. Ainda assim, é o discurso consumista das camadas médias da população que ganha as redes sociais.
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Por um debate mais honesto
Pra viver melhor a menopausa, a gente precisa de uma sociedade mais justa, principalmente com divisão de trabalho reprodutivo mais equitativa. A gente precisa de profissionais de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) melhor treinados para oferecer cuidados adequados. Infelizmente ainda é grande a resistência em instituir terapia hormonal quando indicada, e quando há contra-indicação, os profissionais não sabem o que oferecer.
O SUS também precisa ampliar a gama de terapia hormonal. Hoje, pacientes com risco metabólico como hipertensão e diabetes não recebem terapia hormonal porque só temos disponível por via oral. A via transdérmica (adesivo ou gel) seria uma opção com menor risco para esse público.
Temos que tecer redes comprometidas em melhorar esse debate, com adequada tradução de evidências científicas. Construir uma gramática alternativa para menopausa para que esse período possa ser visto como possibilidade de ressignificação. E o fortalecimento do SUS como espaço de cuidado para pessoas vivendo esse período. São demandas desafiadoras, mas antídotos de longa duração contra a picaretagem capitalista que insiste em lucrar com nossos medos.
Abriremos caixinhas de perguntas no Instagram (perfis @ginecologiafeminista e @revistaazmina) para saber quais são suas dúvidas e angústias, sobre esse tema. Volto aqui para responder na próxima coluna.
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Enquanto isso, compartilho 5 pontos importantes sobre terapia hormonal na menopausa:
1- Terapia Hormonal na menopausa não é uma panaceia (remédio para todos os males). Mas pode melhorar os calores, a insônia causada pelos calores, a depressão leve transicional dessa fase, e prevenir osteoporose em pacientes selecionadas com risco aumentado.
2- Terapia Hormonal na menopausa aumenta o risco de câncer de mama e AVC. Ainda que esses riscos sejam baixos, eles devem ser colocados na balança em comparação com seus sintomas.
3 – Não há até o momento evidência de que a Terapia Hormonal na Menopausa possa ser recomendada para prevenção de doenças cardiovasculares ou metabólicas, a exceção é a prevenção de osteoporose.
4 – Hormônios não devem ser manipulados em nenhuma hipótese. Cuidado!
5 – Quem tem útero e faz terapia hormonal com estrógeno precisa sempre proteger o endométrio com progestágeno.