
Pensando no dia da Consciência Negra, que não deve ser apenas lembrada no dia 20 de novembro, decidi propor esse espaço de diálogo com as companheiras feministas aliadas da luta das mulheres negras. Falando enquanto feminista, ativista e mulher negra no mundo, quero trazer cinco ideias que podem funcionar como um guia contra erros na caminhada antirracista e na construção de uma prática feminista interseccional.
1-Não dá pra ser antirracista e achar que racismo é mimimi
Não dá para falar de consciência negra, de ser antirracista e continuar achando que racismo é mimimi. Eu sei, eu sei… A gente nem devia tá falando sobre isso, né? Mas você não imagina a quantidade de gente suuuuper antirracista que, no miudinho, e ali perto da branquitude amiga, solta coisas como: “Ah, mas também hoje em dia tudo é racismo! Também não é bem assim, as pessoas estão muito sensíveis.” As pessoas negras não são hipersensíveis, não estão fazendo tempestade em copo d’água. Se você se afastar da branquitude passadora de pano que existe dentro de você, vai rapidinho sacar que pensar no racismo como mimimi é só mais uma expressão do próprio racismo.
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2-Eu sou antirracista, mas acho que as manas negras às vezes são muito raivosas
Sim, essa é um clássico. Porque não falta no rolê aquela galera que, diante das reações das mulheres negras, tenta enquadrá-las nos estereótipos de angry black woman, falar que as manas pretas são raivosas e elas causam confusão onde chegam… Ninguém quer parar pra pensar nos episódios de microagressões e violências que as pessoas negras passam todo dia. Sério que alguém quer exigir sorrisinho de mulheres que estão vendo seus pais, filhos, irmãos sendo mortos pelo Estado?
3-Ser antirracista e achar que pode protagonizar tudo
Essa dica é muito importante para as manas feministas interseccionais: nem tudo é sobre você. Ser uma aliada das mulheres negras não significa poder falar ENQUANTO mulher negra ou falar em nome delas. Uma atitude muito massa é chamar atenção para as ausências negras nos lugares, questionar a falta de participação/representatividade, indicar mulheres negras para compor os espaços e, sim, denunciar o racismo, mas da posição de aliada.
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4-Você é antirracista, mas a sua dor não é maior que a de quem sofre racismo
Não quero fazer uma competição de miséria, mas querer comparar o quanto uma pessoa não negra fica triste e machucada em saber que existe racismo ao sofrimento de quem passa o racismo… Ah, não era a intenção? Mas é isso que você faz a cada hora que passa descrevendo o quanto é afetada pela dor de saber que alguém sofre racismo. Desse jeito, você cria uma narrativa de que o racismo só é um problema porque te afeta, e que isso é maior que o racismo em si.
5-Ser antirracista e ser contra cotas é pior que confundir Star Wars com Star Trek
Pois é, essa aqui eu não podia deixar de falar, porque ser antirracista e ser contra cotas raciais é um erro tão errado, mas tão errado, que eu não saberia nem por onde começar a explicar. Aliás, sei: pela falta de coerência. Então, me explique como resolver um problema histórico sem atualização de dívida histórica? Sem medidas que possam reparar aquilo que foi histórica e estruturalmente construído?
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Agora que você já sabe tudo isso, passa a palavra antirracista pra todo mundo. Vamos juntas construir espaços com mais representatividade e participação de mulheres negras!?