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24 de setembro de 2021

Parem de achar que o gozo das mulheres pertence aos homens

Quando o prazer de uma pessoa livre incomoda, há algo de errado

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PAREM DE ACHAR QUE O GOZO DAS MULHERES PERTENCE AOS HOMENS
Arte: Nazura Santos/Azmina

“A síndica do meu prédio veio me dar uma dica de que alguns moradores estavam reclamando de ruídos que vinham do meu apartamento e também de algumas coisas que viam quando olhavam pela minha janela na hora H. O engraçado é que quando eu era casada, ninguém nunca reclamou”

Sim, você entendeu certo. Esse é um relato de uma mulher que foi constrangida por supostamente incomodar pelo que faz enquanto mulher solteira que goza.

O relato foi partilhado no Instagram @prazerela e revela um conteúdo violento, mas naturalizado: O controle exercido pela sociedade sobre o corpo e a sexualidade das mulheres.

Questionar o comportamento sexual de uma mulher solteira, e não se incomodar com esse comportamento quando ela é casada, é profundamente revelador da mentalidade que acredita que, se essa mulher está com um marido, ninguém deve se meter, e por quê?  Porque esse gozo não é dela, é dele, e esse homem não pode ser questionado naquilo que é sua propriedade: a mulher e o seu prazer.

Quando a sociedade questiona essa mulher, agora solteira, a respeito da sua performance, isso também reafirma que esse gozo não pertence a ela, porque se pertencesse ninguém a questionaria.

Eu sei que algumas pessoas podem dizer: ah, mas quando se mora em apartamento, deve-se levar em conta os barulhos, é fácil incomodar as pessoas. Eeu posso até concordar, mas eu também pergunto: por que será que o barulho da violência doméstica não incomoda? Esses dias eu participei de uma live na qual a pessoa comentava que, diante de gritos e barulhos de alguém sendo espancada, ela ligou para o porteiro para informar e o mesmo avisou que ela não ligasse para a polícia porque ele iria acionar o contato de emergência da moradora. E os gritos e espancamentos continuaram.  Então, não é sobre barulho que estamos falando, né?

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Mulheres transam, sentem prazer, gozam. Podem fazer isso sozinhas, acompanhadas de alguém que acabaram de conhecer – homens, outras mulheres, homens e mulheres, mulheres e mulheres…  ou podem dividir esse momento com alguém com quem tenham um relacionamento mais longo -,mas ainda assim: seu gozo lhes pertence.

Se você se incomoda com gente gozando só porque é alguém que não é casada, ou está com uma pessoa do mesmo sexo, então, não é o barulho que incomoda, é a moral e a ética fajuta de uma sociedade patriarcal, misógina, cisheteronormativa.

E o que está te incomodando não é o gemido ou grito de gozo, é principalmente o som que indica a presença de uma pessoa sexualmente livre. Então, além de convidar essa galera que se incomoda com mulher solteira gozando a criar vergonha na cara e deixar de ser violadora e pactuadora de uma dinâmica perversa, que tenta submeter a vida das mulheres a um desejo e pseudo-direito masculino, eu diria duas palavras:

Para a sociedade: Se Acostume

Para a Mulher: Apenas Goze!

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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