O termo interseccionalidade foi escrito pela primeira vez num artigo da professora americana de teoria crítica de raça Kimberlé Crenshaw, em 1989. Ela criou esse conceito depois de conhecer a história de Emma DeGraffenreid, que anos antes tinha processado uma fábrica por não aceitá-la em uma vaga de emprego. Emma alegava que o motivo das portas fechadas tinham a ver com o fato de ela ser mulher e negra.
O juiz não acatou a denúncia porque na fábrica trabalhavam homens negros. E mulheres. Ele só não contou que todas as mulheres que eram contratadas pela fábrica eram brancas, e trabalhavam no escritório. E que os funcionários negros estavam todos na manutenção da fábrica, onde só tinham homens. Ou seja, o sistema judiciário não foi capaz de fazer justiça, pois não conseguiu reconhecer que a intersecção entre machismo e racismo causava uma opressão específica em mulheres negras.
Kimberlé Crenshaw inaugura, então, o termo interseccionalidade ao escrever um artigo sobre as violências causadas pelo cruzamento entre raça e gênero. Ela explicou isso assim: por ser mulher, Emma anda numa rua na qual ela sofre todas as opressões ligadas ao seu gênero – como o machismo. Sendo negra, ela também anda por uma rua em que sofre as opressões ligadas à sua raça. Essas ruas se cruzam o tempo todo, por isso, na vida de Emma as opressões de raça e de gênero estão interligadas.
A “interseccionalidade” é um instrumento político e serve para entender que o racismo, o capitalismo e cisheteropatriarcado são parte de uma mesma estrutura social. Por isso não adianta lutar contra um, sem lutar contra todos. No vídeo desta semana, no canal do YouTube d’AzMina, você descobre mais sobre o assunto na parceria da Revista AzMina com a ativista Karina Vieira.
MULHERES NEGRAS E A INTERSECÇÃO DE OPRESSÕES
Antes mesmo de virar um conceito definido, a ideia de interseccionalidade sempre esteve presente nos discursos e na luta de mulheres negras. Um bom exemplo disso é a forma com que a intelectual e ativista Lélia Gonzalez relacionava raça e gênero para denunciar como o racismo e o sexismo oprimem mulheres negras de maneiras específicas.
Em 1851, a ativista e ex-escravizada Sojourner Truth também acusou os efeitos do capitalismo e do racismo em sua vida durante a Convenção dos Direitos das Mulheres de Ohio, em Akron. “Eu tive treze filhos e vi a maioria ser vendida para a escravização”, afirmou ela em discurso que é lembrado até hoje.
No nosso vídeo no Youtube, você também entende o que a interseccionalidade tem a ver com o surto de microcefalia, causado pelo Zika Vírus, em 2015.