Amanda Demétrio senta no divã de hoje.

P or anos, eu fui parte do problema. Eu pedia permissão, desculpas e seguia ordens. Foi preciso algo drástico acontecer pra eu acordar e ver a importância de fazer parte da irmandade feminina.
Feminismo sempre me pareceu uma palavra radical demais. Coisa de gente que não gosta de homem, certo? Coisa que a gente não precisa mais, eu pensava. Mas a vida é muito louca e eu descobri a necessidade disso após anos de lágrimas e terapia – e “anos” não é um exagero aqui, infelizmente.
Estou escrevendo este texto na esperança de talvez atingir quem ainda é parte do problema, mas não sabe. Por vocês, confesso aqui meus “pecados”. Identifiquem-se. Encontrem-se. Vocês não estão sozinhas.
Eu cresci achando que a boa parte das mulheres ao meu redor eram minhas competidoras. Todas correndo na direção de ser a mais magra, a mais bonita e a mais desejada do lugar onde entrassem. A competição também envolvia os homens, é claro. Achava todas estávamos disputando o cara mais bonito do lugar.
Também pensava que os caras eram muito mais legais que as meninas. Na minha opinião infantil, as meninas eram “frescas” — isso, eu generalizava mesmo. Eu me pergunto quantas amigas eu deixei de fazer por ter essa cabeça fechada por tantos anos.
Essa mentalidade colocou minha autoestima abaixo de zero. Não tem como se amar quando você vive numa competição constante com todas ao seu redor. E a inveja te consome. E a falta de conexão te isola.
Foram anos na busca constante por uma perfeição inalcançável. As revistas me diziam que eu tinha que ter grandes olhos azuis, as novelas me mostravam que era preciso ter um corpo perfeito para ousar vestir um biquíni na praia, os anúncios de cerveja argumentavam que eu só mereceria atenção se usasse uma blusinha minúscula e um shortinho… Mas eu nunca ia ser (ou me vestir) assim.
Até que a minha vida virou 180 graus e eu estava chorando sentada no chão. Às vezes, o único jeito de fazer a dor ir embora é repensar tudo. Repensar porque eu tinha me sujeitado a certas coisas. Repensar porque eu havia me diminuído a uma coadjuvante da minha vida.
E foi quando eu aprendi que a moça que está do meu lado não é minha competição, inimiga ou tão diferente de mim. Ela é parte da irmandade. Ela é um ser humano cheio de camadas, como eu. Podemos achar que ela tem tudo nessa vida, mas ela provavelmente também tem seus momentos de insegurança.
Meu maior aprendizado foi: seja gentil. Com elas e comigo mesma.
Vou falar a verdade: Eu ainda peço desculpas o dia todo. Mas eu estou tentando não ser mais parte do problema. Existe muita coisa a se enfrentar lá fora.