O Divã de hoje é da Rúbia Suzuki.
Lembro-me como se fosse ontem da primeira vez que frequentei um ambiente LGBT: uma matinê no Largo do Arouche, em São Paulo. Ao lado do muro preto onde a fila se formava, eu sentia uma mistura de libertação e receio de alguém passar por ali atirando em todos da fila. Para minha felicidade, nada de mau aconteceu – diferentemente da última madrugada de sábado para domingo em Orlando, na boate Pulse.
Considerado como o pior massacre da história dos Estados Unidos, com 50 mortos confirmados e 53 feridos, novamente a comunidade LGBT é o foco do noticiário. Apesar de no Brasil serem raros tiroteios como esse, é comum homossexuais não se sentirem confortáveis ou seguros.
Nosso país nos cobra, através dos impostos, o mesmo que qualquer outro cidadão, mas não nos fornece uma segurança similar.
Andar de mãos dadas com quem se ama, para nós, não é tão simples quanto deveria ser. O medo é constante: receamos o olhar que recrimina, o comentário pejorativo ou até mesmo a violência física. E eles vêm, mesmo assim, seja no ambiente familiar ou no profissional – principalmente quando a bebida entra e as piadas desnecessárias e desrespeitosas saem.
A violência física, motivada pela intolerância, é justificada pelo homofóbico como um ato de correção do mau comportamento da humanidade – seja com base religiosa ou apenas por uma percepção distorcida de seu próprio papel na sociedade. Ao ver casais gays juntos, o “justiceiro” alega que tal lugar não é próprio para isso. O que parece, na verdade, é que ele deseja que nós, gays e lésbicas, nem existíssemos para não incomodá-lo – afinal, egoísmo e homofobia andam juntos.
O mais perturbador é que, aos olhos desta gente, a orientação sexual parece ser a característica definidora de quem somos. Resumir vidas por uma única variável é extremamente simplista e irracional. Enquanto a empatia não prevalece nos que se acham “justiceiros da sociedade”, a vida de pessoas é colocada em risco apenas porque amam alguém do mesmo sexo.