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25 de maio de 2017

‘Tá vendo aquela gordurinha na minha cintura? Eu amo’

'Ela me incomodou a vida inteira, e eu nem sei se ela esteve a vida inteira ali, mas, na minha mente, sim, esteve. Mas aí a gente cresce e começa a valorizar o que é'

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Foto: Arquivo pessoal

Quem senta no Divã hoje é a Nicole Biggi Lemes.

“Tá vendo aquela gordurinha ali na minha cintura? Ela me incomodou a vida inteira, e eu nem sei se ela esteve a vida inteira ali, mas, na minha mente, sim, esteve. Eu cresci com a imagem da amiga gordinha da rainha do baile, carreguei isso (sim, como se fosse um fardo) por 24 anos a fio.

Ouvi frases inocentes do tipo ‘eu te emprestaria, mas não cabe em você’, e frases duras do tipo ‘você parece o Incrível Hulk’. Isso me irrita até hoje. Um dos meus namorados teve a pachorra de virar pra mim e dizer que eu jamais conseguiria outro namorado porque eu era gorda. Gente, na época eu nem era.

Daí eu me armei com humor. Antes de alguém falar, eu falava. Malhava de mim, me escondia, escondia minha raiva, e não percebia as marcas que isso deixava em mim. Ainda hoje tenho dificuldades em receber elogios.

Não percebia que não se tratava de ser gorda, se tratava de não me aceitar, não me entender e de realmente acreditar que eu era errada. Em boa parte da minha vida eu nem gorda era, eu só era realmente maior que minhas pequeninas amigas.

Mas eu não me via assim, e ainda hoje me olho no espelho cheia de incertezas sobre meu corpinho. Mas aí a gente cresce e começa a valorizar o que é. Tive e tenho várias pessoas na minha vida que sempre reforçam tudo que há de mais positivo em mim (por exemplo, meu sorriso, meu olhar intimidador, meu bom humor etc).

Aí eu pensei ‘se tanta gente consegue ver isso em mim, eu tenho que ver também’. E tem dias que eu vejo.

Esse depoimento vai parecer super presunçoso, e eu vou te aplaudir se você tiver chegado ao fim. Mas essa foto é um desabafo, essa foto é uma vitória pessoal, esse texto é só um terço do que passa em minha mente todo dia, esse texto é sobre amor — o amor mais difícil de compreender: o amor a si mesmo.

Às vezes alguém do nosso convívio íntimo sente o mesmo que a gente e não fala. A internet promove essa aproximação. Nunca comentei nada disso com muitas pessoas, nem minha mãe tinha noção, ela ficou bem impressionada quando leu o que escrevi.

Esse texto é sobre me encontrar, e tudo bem ser presunçosa quanto a isso. Talvez alguém me diga ‘arrasou gata!’ E provavelmente eu vou tirar uma onda, porque, por mais evoluída que eu esteja, ainda não lido bem com elogios. Mas não se pode ganhar todas.

Um passo de cada vez. Por ora, olha ali aquela curvinha da cintura, tá vendo? Eu amo aquela curvinha…”

 

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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