“Faço 65 anos semana que vem, mas vivo o processo da menopausa praticamente desde os 40. Um ano após ter a minha terceira filha, fui diagnosticada com mioma no útero. E na época, o tratamento para mioma era retirar o útero. Hoje se sabe que eles só requerem intervenção quando há sintomas muito incômodos.
Na minha geração, também os médicos tinham uma ideia de que, após ter filhos, o útero não tinha mais função reprodutiva, então tudo bem retirá-lo. Cheguei a consultar dois médicos, mas como a recomendação do dois foi a mesma, eu retirei o útero e, assim, parei de menstruar perto de completar 40 anos.
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A parte parar de menstruar eu achei maravilhosa, foi um conforto enorme. Passei a ter 30 dias úteis no mês, com disposição para fazer tudo. Antes, no período menstrual, eu tinha muita cólica, mal estar e uma TPM terrível. Era quase uma semana perdida por mês. Então em um primeiro momento foi muito bom.
Mas é claro que também teve os desconfortos físicos, calorões que pareciam que eu seria consumida em fogo, acordava no meio da noite lavada de suor. Para lidar com os sintomas, como eu não gosto da medicina alopática, parti para a homeopatia.
Também passei a fazer uso das medicinas indígenas, porque sou de Pernambuco e meus ancestrais são indígenas. Usei tratamentos à base de ervas que ajudam no equilíbrio do corpo, rapés, e depois conheci o kambô (a secreção de um sapo com efeitos medicinais) com indígenas de outras etnias.
Nessa época eu comecei a mudar muitas coisas na minha vida. Comecei a praticar meditação zen budista e yoga, fazer análise e a estudar psicanálise.
Antes disso, eu trabalhei no serviço público por muitos anos em Pernambuco. Fui perseguida por minha atuação na política sindical durante a ditadura e também no impeachment do presidente Fernando Collor, por ter trabalhado em processos que vieram a tona durante o impedimento.
Vim para São Paulo meio fugida, depois de pedir transferência para cá. Vim com os três filhos e um marido sem emprego. Foi bem penoso. E tudo isso aconteceu junto com a menopausa. Fiquei um pouco deprimida nessa época, mas nada demais, até porque sempre fui uma pessoa meio melancólica.
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Encarei a menopausa como uma coisa natural. Na Idade Média as pessoas viviam só até os 40 anos, acredito que as mulheres nem chegavam até a menopausa. Mas hoje vivemos muito além dos 40. Hoje muitas mulheres têm filhos depois dessa idade, inclusive.
Mas o que fazer depois que o chamado ciclo reprodutivo se encerra? Estou com 65 anos e tenho uma vida amorosa, sexual e social ótima. Me sinto jovem para viver ainda mais 20 anos. Minha mãe, por exemplo, hoje tem 88 anos.
A menopausa não mexeu com a minha atividade sexual. Tive o baque do organismo, é claro, mas não interferiu na minha libido. Eu sou uma sapatão bissexual, que é o que melhor define minha sexualidade e história. Tinha uma relação aberta com o pai dos meus filhos e hoje sou casada com uma mulher.
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Eu sempre procurei formas criativas de lidar com as mudanças do corpo e de humor que vieram com a menopausa. Passei a organizar a vida de forma diferente. Entender que não vou mais ter a disposição de quando tinha 20 anos.
Procurei viver a vida da melhor forma possível, de acordo com o que cada fase traz de novo, de diferente. É mesmo uma construção. Envolve autocuidado, mudanças na vida. Entender que não vai mais ter tanta disposição para algumas coisas, mas que também vai trazer outras que vão passar a te alimentar.”
Quem senta no Divã hoje é a psicanalista Sonia Alexandre
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