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15 de agosto de 2019

“Dei no primeiro encontro e a culpa me consumiu por meses”

"Era como se achasse o discurso 'meu corpo, minhas regras' válido para outras mulheres, mas não pra mim", diz a mina que senta no Divã

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O Divã de hoje é anônimo (Foto: Pixabay)

“Pensei muito antes de escrever este desabafo. Não que seja algo extraordinário, mas é muito complicado lidar com as ideias machistas que muitas vezes estão incutidas em nós mesmas.

Sempre estive sob a influência de mulheres fortes e independentes da minha família. Mas, por mais fortes que fossem, sempre havia um homem ao seu lado. Assim como em toda história de filme: por mais independente que a mulher seja, no fim o príncipe encantado sempre aparece.

Nunca me vi muito representada por essas histórias. Isso fez com que, mesmo durante a adolescência, eu focasse mais nas amizades, muitas que mantenho até hoje. Não surgiu, e eu não procurava, meninos para namorar. Assim, terminei o ensino médio sem nunca ter beijado na boca e muito menos feito sexo.

Quando entrei na faculdade, aos 18 anos, e já me identificando como feminista, me senti preparada para começar a desvendar minha sexualidade. Mas sem aquelas ideias românticas de primeira vez. Eu queria apenas que fosse com um cara que eu soubesse que iria respeitar minhas escolhas.

Minha meta era que fosse prazeroso e não traumático. Mas como perder a virgindade sem estar namorando? Nossa cultura machista torce o nariz para a ideia de mulheres perdendo a virgindade (essa coisa na qual colocam tanto valor) em um sexo casual, o que era a minha meta.

Pensei que a maneira mais confortável, para mim, seria se fosse com alguém que eu não conhecesse de início. Assim, me rendi ao aplicativo Tinder. Conversei com alguns caras e gostei de um, que era simpático e atraente. Deixei claro para ele que eu não pretendia necessariamente ter algo mais sério e que eu era virgem.

Nosso primeiro encontro foi na casa dele. É claro que tomando aquelas precauções que toda mulher é obrigada a tomar quando está saindo com um cara que não conhece, de passar a foto e o nome dele para as minhas amigas, além da localização em tempo real.

Mas, diferente do que eu pensava, depois que tudo aconteceu, por mais que tenha sido uma experiência legal, a única coisa que ficava em minha cabeça, era como eu havia tido coragem de “dar” no primeiro encontro.

A culpa tomava conta de mim de uma maneira surpreendente. Logo eu, com todo o discurso de “meu corpo, minhas regras”. Era como se eu achasse isso válido para as outras mulheres, mas não para mim. Como eu iria contar para minha mãe? Ela nem é conservadora, mas não iria gostar.

Passei uns dias muito arrependida, mas com total noção que fiz uma escolha consciente. E somente agora, quatro meses depois, eu caí na real de que não tem nada demais no que aconteceu.

Eu quis, eu fiz, eu posso desfrutar do prazer com quem eu bem entender, sem ter que dar satisfação, nem mesmo para minha mãe, e continuo levando minha vida. Estudo, trabalho e sou solteira, não preciso e não me faz falta alguém do meu lado.

Muita gente ao meu redor questiona por que aos 19 anos eu nunca namorei, mas tenho estou tranquila com isso. Eu tomo minhas próprias decisões e sou dona da minha sexualidade, sem ter que da satisfação para alguém sobre o que vivo.”

O Divã de hoje é anônimo.


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* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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