Conversa vai, conversa vem, num informal papo de bar, quando um amigo-enciclopédia começou a contar sobre o podcast “Som das torcidas”, idealizado pela Central 3, que explicava o fenômeno da cantora Gilda nos cânticos das torcidas argentinas.
Gostei da dica, ouvi o podcast como sugerido e continuei pesquisando sobre a vida de Gilda, que muito me interessou, tanto que decidi conceder a ela o cargo de musa inspiradora dessa humilde coluna.
Pra quem não sabe, assim como eu não sabia, Gilda foi uma cantora portenha, rainha da música tropical nos anos 1990, que infelizmente teve sua vida interrompida aos 34 anos, em 1996, no auge de seu sucesso, num trágico acidente que tirou ainda a vida de sua mãe, sua filha, de três integrantes da banda e do motorista que os levavam para um show.
Gilda, na verdade, somos todas nós e basta uma pequena busca para descobrir o porquê
Portanto, #manaamanaindica: um bom Google e um play em suas canções farão muito bem para o seu coração. Um spoiler para aguçar a curiosidade: a hermana era empoderada, quebrava inúmeros tabus, peitou os estereótipos masculinos da época, entre eles o de que as cantoras do mundo “cumbiero” – estilo latino que embalavas suas músicas -, precisavam ser loiras, ter seios fartos e bundas enormes e usar calça lycra apertada para marcar as curvas.
Além de ter acumulado milhões de fãs e alguns discos de ouro, a biografia da cantora se estende ao futebol por ser a principal inspiração para os temas das “hinchadas” (termo do espanhol sul-americano para designar torcedores das uniformizadas). É no mínimo curioso, pra não dizer contraditório, que um ambiente machista como é o futebol argentino entoe nos estádios paródias das canções de uma artista que quebrava estereótipos conservadores.
Nós, com toda certeza, estaremos aqui, nas arquibancadas (ou aonde quisermos) para lembrar sempre quem foi Gilda e quais são as músicas dessa mulher que saem da boca a plenos pulmões dos loucos torcedores argentinos quando esgoelam nos estádios “No me arrepiento de este amor” e outras muitas músicas de autoria da cantora portenha.
Envolvida por essa história, resolvi acompanhar a polêmica e interminável final da Copa Libertadores da América, do inédito clássico argentino entre Boca Juniors e River Plate, com o olhar voltado para os cânticos da torcida, mas acabei me desviando do propósito quando soube que Renata Silveira seria a primeira mulher a narrar um dos torneios mais importantes do futebol.
Sim, esse fato ocorreu apenas em 2018 e você certamente não dormiu todos esses anos e nem leu errado. A verdade é que em meio à tanta luta para que as mulheres ocupem os mesmos lugares que os homens, também temos motivos e manas de sobra para enaltecer mensalmente nesta coluna e é por isso que escrevemos, sorrimos e ouvimos Gildas e Renatas.
Elas são as histórias de mulheres que queremos contar: as das que lutam, que quebram recordes e paradigmas, que matam o machismo no peito, o botam no chão, chutam para a rede e saem a comemorar como se fosse o primeiro.
E é basicamente assim que nos sentimos a cada gol e vitória que conquistamos.
Também é por isso que comemoramos com imensa alegria e esperança (essa não pode faltar) quando a CONMEBOL determina que a regra de times femininos será cumprida (agora) rigorosamente.
Mesmo estando em vigor desde 2016, a medida que obriga que clubes participantes tenham uma equipe feminina inscrita corria frouxa. Um aviso aos engravatados poderosos e senhores do futebol: estaremos de olhos bem abertos!
Agora, se você chegou até aqui, temos um “grand finale” que merece todos as champagnes que certamente não beberemos na virada do ano por motivos de: zero reais no bolso. Mas, que fique claro, isso não nos impedirá de seguirmos plenas e comemorativas, até porque não é toda Copa do Mundo Feminina que a Rede Globo anuncia que irá transmitir os jogos da seleção brasileira, né?
Temos milhões de motivos para fazer uma análise crítica e mercadológica em cima dessa notícia? Temos. Nos cria uma mistura de ranço e antipatia pensar que até pouco tempo ninguém dava muita bola para esses mulherões? Cria.
Mas, amigas e amigos, esse dia chegou e vamos comemorá-lo e muito. Vamos empoderar e incentivar o trabalho de anos dessas atletas guerreiras, assistir de camarote as inúmeras conquistas que estão por vir e como bem lembrou as manas “Dibradoras”: o Mundial de 2019 promete ser histórico em inúmeros sentidos, desde o recorde nas vendas de ingresso até a oportunidade de mostrar o potencial do futebol feminino – que nós já conhecemos, mas muitos ainda não.
Por fim, deixo minha promessa para 2019: vai ter muito futebol feminino, mulheres e feminismo na telinha, na mídia e principalmente aqui no Mana a Mana.
Um brinde e Feliz 2019!