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Emprego formal ainda é exceção entre pessoas trans

No Brasil, 90% da população transexual e travesti tem a prostituição como fonte de renda e possibilidade de subsistência

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Gabriela Augusto, Monique Rodrigues e Yggy Escobar: mulheres trans e travesti levam discussão para dentro das empresas (Crédito: Divulgação/Transcendemos Consultoria)

A publicitária Monique Rodrigues desceu na estação do metrô Sumaré, em São Paulo, para uma entrevista de emprego bastante apreensiva. Além das preocupações comuns de ter qualificação e se encaixar no perfil pedido pela empresa, seu maior temor era outro: por ser uma travesti, não sabia que tipo de tratamento iria receber quando chegasse na agência de publicidade. Mas respirou mais aliviada quando viu uma bandeira do orgulho trans pendurada na janela do prédio. “Foi algo que me trouxe conforto”, diz Monique, hoje gerente de comunidades da agência W3haus. 

Mas Monique ainda é uma exceção entre a população travesti e transexual no mercado de trabalho formal. No Brasil, 90% desta população tem a prostituição como fonte de renda e possibilidade de subsistência, segundo levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). “Até pouco tempo, não se via pessoas trans à luz do dia, só nas esquinas escuras durante a noite”, diz a advogada Gabriela Augusto, presidente e fundadora da Transcendemos, consultoria especializada em diversidade. 

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O problema costuma surgir já no momento de as profissionais trans entrarem na empresa. Isso porque nem sempre a pessoa tem o nome retificado nos documentos, o que gera problemas com o seu acesso e com a segurança. Uma vez dentro, ainda passam pelo constrangimento de serem anunciadas pelo seu nome de registro, não o nome social.

“Pode parecer algo pequeno, mas a maioria das pessoas nunca teve que se preocupar com o nome para fazer qualquer coisa”, diz Yggy Escobar, assistente de arte e colega de trabalho de Monique. Yggy é uma mulher trans.

Empresas precisam ter postura ativa

Mesmo sendo contratada por empresas para prestar consultoria de diversidade, esse é um problema que Gabriela continua enfrentando nas recepções das empresas. “Chego e o atendente diz: então você é o fulano? E me anuncia com um nome que as pessoas que estão me esperando não sabem de quem é”, conta.

Gabriela diz que as empresas precisam rever seus processos, o que envolve a questão da adoção do nome social nos documentos dos funcionários e em toda a sua identificação nos processos da empresa. Além disso, elas precisam promover uma cultura de acolhimento e mecanismos de promoção. 

Não existe receita pronta para construir um ambiente de trabalho mais inclusivo. Segundo Gabriela, para cada empresa é necessário pensar em uma estratégia aplicável para o contexto e cultura da organização. Mas o primeiro passo é assumir uma postura ativa, procurar soluções.

“Ouço as empresas dizerem que não contratam pessoas trans porque não recebem currículos dessas pessoas, mas será que esses profissionais sabem que eles serão bem-vindos?”, questiona Gabriela. Para ajudar a promover o encontro de profissionais com empresas inclusivas, a Transcendemos lançou a Certificação Empresas de Respeito.

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Além de assumirem esse compromisso, as empresas precisam comunicá-lo ao mercado e nos anúncios de suas vagas. E após a contratação, é preciso criar condições para que esse profissional possa crescer dentro da organização, com a promoção de  mentorias, sugere a consultora.

Também é preciso preparar o terreno para promover um ambiente de trabalho inclusivo, com formações, rodas de conversa e campanhas de conscientização para funcionários e lideranças. “A conversa precisa ser na linha da responsabilidade: o que estou fazendo para promover a inclusão da população T?”, diz Gabriela.

Alta evasão escolar

Além do preconceito, a baixa escolaridade dificulta o acesso da população trans às vagas de emprego. Apenas 0,02% das trans estão na universidade e 72% não concluiu o ensino médio, segundo dados do Projeto Além do Arco-Íris, da AfroReggae.

Ter chegado até a universidade também coloca Monique no grupo das exceções, mas ainda assim se formar não foi trivial como pode ser para pessoas cisgêneras. Ela teve que esperar quatro anos após concluir suas matérias do curso de publicidade para participar da cerimônia de colação de grau. 

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A instituição de ensino não respeitava seu nome social e ela decidiu que só completaria esta etapa da vida se pudesse vivenciá-la sem constrangimentos. “Não respeitavam meu nome, pronome, quem sou. É o tipo de coisa que nós enfrentamos sozinhas, pois na minha faculdade não tinham outras pessoas trans ou travestis”, conta. 

A mesma razão levou Yggy a não terminar seu curso de moda. Mesmo após a retificação do nome em seus documentos, ela continuava sendo tratada pelo nome de registro. “Eu continuava sendo chamada por um nome que não era o meu.” Ela avalia agora se vai retomar o mesmo curso ou migrar para outro.

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