Todos nos tornamos geradores de conteúdo trabalhando de graça para Mark Zuckerberg, fundador do Facebook. Compartilhamos informações, sentimentos, vídeos, fotos, reflexões e conhecimentos. Em contínua expansão no mundo todo, a rede social tem mais de um bilhão de usuários e lucrou US$ 4,7 bilhões no último trimestre. Mas Zuckerberg quer mais. A empresa vai praticamente eliminar da linha do tempo das pessoas todas as postagens de páginas jornalísticas e de empresas que não forem patrocinadas ou compartilhadas por amigos.
Já não é mais suficiente alimentar a maior rede social do mundo com conteúdo gratuito e exclusivo. Agora é preciso pagar para disseminá-lo. Como as páginas de ONGs, movimentos sociais e da imprensa independente sobreviverão a essa nova exigência?
Para as mulheres, essa mudança terá um impacto político ainda mais duro e difícil de calcular. Nos últimos anos, nós nos organizamos para discutir temas importantíssimos, como assédio, estupro e violência doméstica, usando as redes sociais.
Lembre das páginas que são tão importantes para te ajudar a formar opinião e se informar: Blogueira Negras; Nós, Mulheres da Periferia; Think Olga; Blogueiras Feministas; Não me Kahlo, Empodere Duas Mulheres, Gênero e Número. E, claro, a Revista AzMina. Às vezes, o Facebook nos faz esquecer que informação de qualidade custa caro e que a imprensa independente e a luta por igualdade de gênero têm recursos escassos.
Segundo o jornal The Guardian, em países como Eslováquia, Sri Lanka e Sérvia, onde a rede social criou um piloto desse projeto, páginas de pequeno e médio porte viram seu engajamento cair entre 60 e 80% da noite para o dia.
Há apenas alguns meses, a rede social havia garantido que, por enquanto, não havia planos de tornar a mudança mundial e que estaria apenas “testando se as pessoas preferem conteúdo público e pessoal separado em sua linha do tempo”. O sistema estava em vigor desde outubro de 2017 na Bolívia, Eslováquia, Guatemala, Sérvia e no Sri Lanka, onde veículos de mídia independente relataram forte queda em sua audiência e alcance.
Quando os moradores desses locais abriam os seus feeds, só viam posts de amigos e anúncios pagos. Todas as demais postagens ficavam escondidas, em uma linha do tempo alternativa.
Para nós, esse é o cenário de um pesadelo. Utilizamos nosso site e também nossas redes sociais para impulsionar as histórias de centenas de mulheres que, normalmente, são invisíveis para a sociedade: indígenas que sofrem assédio, crianças quilombolas vítimas de tráfico sexual, travestis que morrem ao usar silicone industrial.
Como posso ajudar?
A audiência d’AzMina depende em mais de 80% do fluxo do Facebook. Por isso, pedimos a você, leitora e leitor, que assine esta petição exigindo que a rede não deixe nossa voz ser sufocada pela de anunciantes.
Você também pode assinar nossa newsletter e receber, semanalmente, o melhor d’AzMina no seu email. No Facebook, compartilhe este editorial, compartilhe nossas reportagens, colunas e divãs e, na nossa página do Facebook, selecione a opção “Ver primeiro”.
O que diz o Facebook?
A rede social afirma que o novo sistema é diferente daquele que estava em teste e que ainda haverá conteúdo das páginas na linha do tempo de usuários, embora cada vez menos.
O objetivo, afirma Zuckerberg, é “o bem estar das pessoas” ao usar a rede social. “Queremos garantir que nossos produtos não são apenas divertidos, mas também bons para as pessoas”, disse Zuckerberg.
Desde a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a empresa tem sido alvo de críticas por seu papel na proliferação de notícias falsas. Com a mudança, só terá destaque na rede quem produzir material que se destaque na interação com o usuário.
E o que dizem AzMina e os especialistas?
O problema é que o movimento arrisca afogar não só as notícias falsas, mas também conteúdo jornalístico de qualidade. “Paradoxalmente, um efeito possível de imediato é que as notícias falsas ganhem espaço, ficando relativamente mais visíveis no newsfeed das pessoas. É muito mais fácil interagir com uma mentira divertida sobre Bolsonaro do que encarar uma reportagem dissecando seu patrimônio”, exemplifica Roberto Dias, na Folha.
Além disso, quem garante que o conteúdo com mais interações significa conteúdo melhor e que traz mais “bem-estar”?. “A ideia de que a importância de uma notícia é definida pelos comentários, que não há valor em receber uma informação sem entrar em um debate com seu tio, é na verdade uma declaração profundamente ideológica”, afirma Joshua Benton, diretor do Nieman Lab, centro de estudos sobre a mídia.
Nós, da Revista AzMina, acreditamos que, no longo prazo, seria importante reduzir o impacto de uma empresa tão poderosa na circulação e divulgação do jornalismo de qualidade. Mas, enquanto isso não acontece, permitir que somente o conteúdo de quem pode pagar chegue aos cidadãos é criar uma barreira para a democracia e para o debate social justo e equilibrado.
Como sempre, resistiremos.