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8 de junho de 2017

‘Estou há três meses limpa: parei de tomar anticoncepcional’

'Tudo são flores nessa minha nova empreitada? Claro que não. Mas parei por querer voltar a entender o meu corpo'

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Foto: Priscilla Panizzon

Quem senta no Divã hoje é a Priscilla Panizzon.

“Agravamento da depressão; risco de embolia pulmonar; de infarto do miocárdio e de acidentes vasculares cerebrais; aumento da pressão arterial; do risco de câncer de colo do útero, de mama; cefaleia (dor de cabeça); vaginite (inflamação na vagina), incluindo candidíase; alterações de humor, incluindo depressão; alterações de libido; tontura; náuseas; vômitos; dor abdominal; acne; dor nas mamas; aumento do volume mamário; cólica menstrual; retenção hídrica (inchaço); alterações de peso (ganho ou perda).

A lista continua, mas vou parar por aqui. Afinal, está tudo na bula. E, você, com certeza já leu com atenção a bula do seu anticoncepcional, certo? Espero que sim. Só para deixar claro, esse texto não é para demonizar o uso da pílula. Não. Ela é um remédio, de tarja vermelha, ou seja, serve para tratar doenças, como a síndrome do ovário policístico, que aflige inúmeras mulheres.

Por motivos como esse, é óbvio que a pílula não deve ser dizimada da face da Terra. E cada mulher sabe o que é melhor para si. Merece respeito e acolhimento, como todas merecemos. Isso é sororidade. Dito isso, esse texto é sobre a minha experiência pessoal, e você não precisa concordar, nem discordar. Se for útil para refletir, já está ótimo.

Depois de cinco anos e dez meses tomando um comprimidinho todo santo dia (tirando os dias de pausa), parei. Foi no dia 20 de fevereiro, um dia depois do meu aniversário e de acabar a cartela. Já são mais de três meses ‘limpa’. No começo, foi estranho. Parecia que faltava algo na minha rotina.

Antes disso, quando pensei em parar, li vários textos na internet. Em um deles, a autora falava que, para a mulher, a pílula passou de sinônimo de liberdade — quando foi lançada nos anos 1960 — para sinônimo de prisão. E faz todo o sentido. Hoje, em um namoro, normalmente, qual é a responsabilidade do homem em não engravidar a parceira, se ela toma anticoncepcional? Zero.

A mulher fica 100% responsável por não ocorrer a fecundação. Eis mais uma faceta do machismo nosso de cada dia. Não é por acaso que a pílula anticoncepcional masculina não foi liberada até hoje.

Certa vez, fui à ginecologista e comentei que não sabia se devia continuar com a pílula. A médica nem ouviu direito e respondeu: ‘Não se mexe em time que está ganhando’. E eu fiquei com vergonha de continuar no assunto. Não ouvi: ‘Você conversou com o seu parceiro sobre a melhor proteção para vocês?’

Tudo são flores nessa minha nova empreitada? Claro que não. Minha pele ficou mais oleosa e as espinhas deram o ar da graça. Muitas, principalmente internas, típicas de disfunções hormonais. Meu cabelo ficou mais oleoso e começou a cair bem mais do que o normal. Até emagreci. Ou, mais corretamente, perdi líquido. Desinchei.

A insegurança de não saber quando a menstruação virá incomoda. Antes era muito mais fácil. Sabia exatamente quando começava e quando terminava. Mas, com o tempo, acostuma.

E os aplicativos de celular estão aí pra isso. É só dar um Google e listas de apps para controlar o ciclo menstrual surgem. Hoje, já sinto melhora na pele, no cabelo. Nada que um pouco de paciência e uma visita à dermatologista não ajudem.

Não é uma decisão fácil. Nem deve ser tomada de um dia para o outro. Pense, avalie, reflita, leia, converse, pense mais um pouco e só então decida. Tudo bem tomar a pílula, mas tome por ser uma decisão sua. É seu direito. Eu parei pelo longo tempo que já estava tomando, pelo medo dos efeitos colaterais e por querer voltar a entender o meu corpo, meus humores e minha natureza. Tomava por conveniência.

Nesse ano de mudanças na minha vida, antes de tudo, vi que elas precisam vir de dentro. O fato é que as mulheres precisam saber que há outras opções. A minha foi parar.”

 

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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