“Sinto um misto de tristeza e vergonha de, em plena semana do orgulho LGBT, estar escrevendo um texto anônimo sobre ser bi. Mas a verdade é que ainda não falei para a minha família que sou bissexual e tenho muito medo do momento em que vou fazer isso.
Há alguns meses, Diego Hypolito publicou um relato assumindo ser gay. Uma parte desse texto me marcou muito, quando ele diz que o maior problema sempre foi contar para a família. “A gente passava por tanta dificuldade em casa… nem sempre tinha o que comer, chegamos a ficar meses sem energia elétrica. Como é que eu ia levar mais um problema para eles?”, escreveu o atleta.
“Como é que eu ia levar mais um problema para eles?”.
É exatamente isso que eu sinto quando penso em contar para meus pais que me relaciono também com mulheres. E sei que não sou a única. Já ouvi de amigas e amigos LGBT o mesmo, essa preocupação de que contar sobre sua orientação sexual vá gerar algum tipo de problema na família.
Não tem nada de errado com meus afetos
Já sou adulta, pago minhas contas e, na verdade, nem preciso dar satisfação de nada para eles. A vontade de contar vem mais do desejo de poder expressar meus afetos com liberdade nos momentos em família, como sempre fiz quando me relacionei com homens. E também para manter o laço de honestidade que sempre foi parte da minha relação com eles.
Sinto que tudo que é feito às escuras o é porque tem algo de errado. Mas não tem nada de errado com meus afetos.
Leia mais: Trans e gay é a mesma coisa? Entenda a diferença
Mas, poxa, e se eles ficarem estressados? Ou preocupados demais comigo? E se eles não conseguirem aceitar e ficarem mal com a situação toda? Já são tantas preocupações com dinheiro, saúde, família, eu não quero ser mais uma.
Mas por que preciso ser?
Queria que fosse algo banal
Às vezes eu tento me convencer de que chegar em casa e falar “então, galera, eu gosto de mulheres e homens” é algo banal. Eu acho que devia ser. Mas não é. Não é banal numa sociedade que mata uma pessoa LGBT por dia. Não é banal num mundo onde ainda existem estupros corretivos.
E não é banal para mim. Se fosse, eu não teria levado tantos anos para aceitar meu desejo e afeto por mulheres também, não teria reprimido por tanto tempo metade da minha sexualidade e tantos amores que fiz de tudo para não aceitar. Se eu gosto de homens, como podia estar apaixonada por aquelas mulheres?
Leia mais: A crush é bissexual. E agora?
Se precisei de tempo para superar meu próprio preconceito, já estou preparada para que ele venha de todos os lados, inclusive dos meus pais. O triste é viver nesse mundo em que aceitar a própria orientação sexual demore tanto tempo e que, mesmo depois disso, ela ainda fique no escuro por medo de assumir.
Então comemoro a semana do orgulho LGBT dividida. Metade de mim é orgulho de ter aceitado minha orientação sexual e estar podendo vivê-la plenamente, a outra metade só não quer “levar mais um problema” para os meus pais”.
Também tem uma história para contar? Senta no Divã D´AzMina! Envie para liane.thedim@azmina.com.br