“Nunca fui muito boa de ditados. Por isso, recorro ao Google, a amigos ou familiares toda vez que preciso fazer uso de alguma expressão no dia a dia.
Também não tenho grande talento para atividades manuais. Adoro artesanato, mas percebi desde cedo que, por mais que me esforçasse, pintar cerâmica não seria para mim.
Mesmo para cozinhar, atividade que passei a adotar nas horas vagas, conheço minhas limitações e invariavelmente recorro a uma ajuda da Rita Lobo para que as receitas efetivamente funcionem.
E tudo bem. Não tenho que ser boa em tudo nessa vida e o importante é ter consciência do que é essencial para o funcionamento da vida. E desde cedo me dei conta que, gostando ou não, cuidar do dinheiro deveria estar entre as minhas prioridades, minhas rotinas.
Veja, não estou dizendo que desde cedo vislumbrei algum talento para investir. Esse nunca foi o objetivo. Mas sempre tive consciência de que a organização financeira poderia pautar grande parte das minhas possibilidades e da minha liberdade para tomar decisões.
Talvez por necessidade, dada a morte precoce do meu pai, sempre observei com atenção a maneira como minha mãe conduziu a disciplina da nossa família para que nada de essencial fugisse a mim ou ao meu irmão. Ela foi essencial para minha compreensão do valor do dinheiro.
E imagino que seja assim em grande parte das casas brasileiras, afinal, 45% dos lares são chefiados por mulheres.
Cresci vendo minha mãe falar abertamente do alto custo da energia elétrica (com o clássico bordão do “não sou sócia da Light” repetido aos quatro cantos), fazendo livro caixa toda semana para registrar suas despesas, reclamando do custo do telefone, falando sobre as concessões necessárias para manter os gastos no que importava (educação e saúde, essencialmente) e dividindo, comigo e com meu irmão, preocupações para termos o melhor padrão de vida possível.
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Por mais que na época eu não tivesse essa compreensão, atribuo a ela a principal parte da minha formação. Vivi na pele o efeito que uma disciplina financeira proporcionou no meu dia a dia.
Sou jornalista de formação e caí no mundo da Economia por uma mera questão de ser a única vaga disponível em tempos de estágio em jornal. Como não queria me formar sem ter a experiência de redação, topei o desafio e tive que enfrentar algumas aulas em casa sobre Selic, inflação, grandes empresas, regimes financeiros e muitas siglas das quais não tinha a menor ideia do que significavam.
Fato é que essa vida doida me fez trilhar uma carreira no mundo econômico, acabei tomando gosto pela coisa e me especializando na seara dos investimentos. Sempre fui uma investidora, mas durante boa parte do tempo fui ultra conservadora por desconhecimento e também por preguiça, até que decidi assumir as rédeas e mudar essa dinâmica.
Além de jornalista, hoje sou planejadora financeira e tenho o maior prazer em escutar e poder ajudar as pessoas a darem o primeiro passo. Não é algo natural, não é um talento que passa de geração para geração, mas é importante ficar claro: todo mundo pode aprender a lidar com dinheiro.
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Seja você uma pessoa conservadora, arrojada, do mundo das “humanas” ou filho de pais gastões. Todo mundo pode aprender. É claro que vivemos num país com desigualdades sociais enormes, com pessoas que precisam vender o almoço para pagar o jantar. Mas se como eu, o seu caso não é esse, é hora de afastar a preguiça, o medo ou a acomodação, e mudar. Ir atrás, ver vídeos, ler livros, abrir conta em uma corretora, começar.
Nós, mulheres, não representamos sequer um quarto dos investidores da Bolsa de Valores e somos penas 31% dos cadastrados no Tesouro Direto. Como mulher, torço para que cada vez mais mulheres entrem nesse grupo e ajudem a diminuir o “clube do bolinha” que tanto domina o mercado financeiro. Sem abordagens estereotipadas por gênero, infantilizadas, que apelem para o consumo ou a “musas” inspiradoras.
Torço para o nosso lugar ser cada vez mais bem ocupado e que encontremos a melhor forma de convencer mais e mais amigas de que o dinheiro deve entrar para a lista das nossas rotinas, até que o sacrifício inicial vire prazer.”
Quem senta no Divã de hoje é a Beatriz Cutait
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