Quem senta no Divã de hoje é a Amanda Ferronato.
Otema escolhido para ser a porta de entrada para o tão sonhado mercado de trabalho me acompanha desde os tempos de escola, quando tive a certeza de que o jornalismo esportivo não era apenas um hobby na minha vida, e não foi preciso acréscimos para ter a certeza que essa escolha marcaria muitos gols no campeonato que chamo de graduação.
Ser mulher é ser sinônimo de luta. Ser mulher e escolher o futebol é ter a convicção que todos os dias a bandeira do impedimento irá subir e que, por isso, precisamos estar sempre no posicionamento correto.
O amor pelo futebol me tornou uma mulher resistente e nesse processo eu aprendi o significado da palavra sororidade. Aprendi também a me fortalecer ao lado de outras mulheres que também lutam diariamente para conquistar seu espaço.
A produção do documentário “Escaladas: o jornalismo esportivo sob o olhar feminino” como Trabalho de Conclusão de Curso da minha graduação surge partir da minha percepção e vontade em dar voz e visibilidade a essas protagonistas no jornalismo esportivo.
Uma escolha desafiadora e ousada, que aos poucos foi revelando meus medos e incertezas. Mesmo diante dos desafios, o desejo sempre foi de ser sujeito na busca por igualar os direitos e acabar com o discurso sexista que “futebol é coisa de homem”.
Agora, a bandeira aparece também na campanha #Deixaelatrabalhar, lançada pelas jornalistas esportivas. É um ‘manifesto contra o assédio e o machismo nos estádios, nas redações, no ambiente de trabalho e onde quer que aconteçam!’, como elas descrevem.
Se por um longo tempo o esporte passou longe das editorias compostas por mulheres, hoje elas têm demonstrado que é possível atuar nessa área com credibilidade e com domínio esportivo. Ao longo dos anos, as mulheres vêm lutando com resistência no rompimento de barreiras e estereótipos sobre a figura feminina e sua participação na cobertura futebolística.
A entrada do gênero feminino nessa área consolida um momento importante da história das mulheres jornalistas, a conquista de um espaço que sempre esteve ocupado por homens.
A partir da produção desse documentário, foi possível perceber que, mesmo com avanço nas questões de gênero, a presença da mulher nesta editoria ainda é motivo de julgamentos e provações diárias, e infelizmente esse cenário é encontrado de Norte ao Sul do Brasil, da América à Europa.
Os mais de 4 mil quilômetros percorridos para gravação e o diálogo com as 11 jornalistas reforçam que o simples fato de ser mulher e estar neste ambiente exige uma força ainda maior, porque a todo momento são testadas e se tornam motivo de dúvidas pelo seu profissionalismo.
Mas elas têm provado que, mesmo diante de todos esses enfrentamentos, é possível fazer um jornalismo sem distinção de gênero.
É muito bonito e esperançoso ver como as mulheres têm se unido na profissão e que hoje a luta por esse espaço é algo coletivo. E pode-se dizer que este documentário parte dessa mesma luta. O processo de empoderamento das mulheres jornalistas é decorrente também da constante luta do movimento feminista, que combate o patriarcado e dá abertura e possibilidade para a discussão de igualdade de gênero.
Reconhecer as lutas diárias das mulheres que constituem a maior parte da população brasileira, e que também são maioria no jornalismo, é fundamental para construção de uma sociedade mais justa e igualitária, livre de preconceitos, machismo e discriminações. Fruto do encorajamento e da persistência, essa produção se propõe a ser ferramenta de luta e de empoderamento para outras mulheres conquistarem seu espaço.
Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no futebol! #Deixaelatrabalhar!
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