Feminismo é uma palavra que está no vocabulário de quase todo mundo – para falar bem ou mal. E não só a palavra, né? Imagens e símbolos do feminismo também estão por todo lado. Na internet, em filtros nas redes sociais, em muros nas ruas e até em tatuagens.
Mas você sabe mesmo o que cada um deles significa?
Todos esses símbolos têm uma história e um significado específico. Abaixo, contamos um pouco sobre os mais conhecidos.
Espelho de Vênus
Na verdade, não é bem um símbolo feminista e sim uma representação do feminino. Mas ao longo do tempo foi abraçado pelas mulheres como uma valorização do poder feminino. Consiste em um círculo com uma cruz embaixo e é o símbolo astrológico do planeta Vênus.
A origem do símbolo está na mitologia grega: o círculo apoiado na cruz representa o espelho da deusa Afrodite (Vênus, na mitologia romana). Afrodite é a deusa do amor e da feminilidade. Ele foi criado ao mesmo tempo que o símbolo do masculino, que tem um círculo com uma seta, representando o escudo do deus da guerra, Áries (Marte).
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Feminismo Negro
Muita vezes é confundido com o símbolo de Vênus, e acaba sendo apropriado por feministas brancas. Os dois são muito parecidos, mas o do feminismo negro leva um punho no meio do círculo.
O punho erguido é um símbolo de diversas lutas de esquerda e movimentos pelos direitos dos trabalhadores, mas ficou mundialmente conhecido como gesto do movimento negro.
O gesto de erguer o punho foi usado pelo movimento dos Panteras Negras e ganhou fama nas Olimpíadas de 1968, no México, quando dois atletas negros, Tommie Smith e John Carlos, protestaram no pódio contra a discriminação racial com os punhos fechados erguidos, cobertos com luvas pretas. Naquele ano, Martin Luther King havia sido assassinado. O gesto se tornou um símbolo inconfundível do movimento Black Power.
Inserido dentro do espelho de Vênus, o punho passou a representar também o movimento das mulheres negras.
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Transfeminismo
Representando a luta das mulheres trans dentro do movimento feminista, esse ícone une vários símbolos em um só. Nele, o espelho de Vênus, que representa o feminino, está unido com a representação do masculino, que é o símbolo do deus Marte.
Foi acrescentado ainda uma outra flecha com um risco, que representa um terceiro gênero na união do masculino e o feminino. Por fim, o punho em riste se soma ao símbolo, trazendo a mensagem de luta.
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We Can Do It!
O cartaz com uma operária de macacão azul, lenço vermelho na cabeça e, literalmente, arregaçando as mangas com a frase “We can do it!” (Nós conseguimos, em português) é tão icônico que já virou até fantasia de Carnaval. Antigo, o desenho foi criado nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial para incentivar mulheres a trabalharem nas indústrias enquanto os homens estavam em combate.
Na verdade, nem foi uma grande propaganda, muito menos feminista. Era uma forma de incentivar a mão de obra feminina, mas só enquanto os soldados estavam na guerra. Na época, a ilustração não teve lá grande repercussão e ganhou força nas décadas de 1970 e 1980, com o fortalecimento do movimento feminista.
Quem é essa mulher?
A personagem do cartaz é conhecida como “Rosie, a Rebitadeira” (Rosie the Riveter) e a modelo que posou para a ilustração foi Naomi Parker Fraley, uma garçonete da Califórnia, em 1942. Sua identidade ficou desconhecida por mais de 70 anos até que o acadêmico norte-americano James Kimble, da Seton Hall University, traçou uma epopeia em busca da modelo do cartaz.
Ele só a encontrou em 2015, quando a imagem já havia ganho o mundo. Em 2017, a ilustração estava na capa da revista The New Yorker, mas com uma mulher negra no lugar de Naomi, ganhando cada vez maiores proporções.
Em entrevista à revista People, em 2016, Naomi, já com seus 94 anos, disse que nunca pensou em ser um símbolo feminista, mas se sentia honrada em ter a imagem relacionada ao empoderamento feminino. “As mulheres deste país precisam de ícones. Se elas acham que sou um, fico feliz”, contou à publicação. Ela faleceu em janeiro de 2018, com 96 anos.
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Contemporâneos
A quarta onda do feminismo, que é considerada a retomada pelo interesse sobre a luta feminista com a potencialização trazida pela internet, traz consigo novos símbolos. A maior parte deles são frases que, de tão famosas que se tornaram, passaram a ter potência visual.
A frase Lute como uma Garota (Fight Like a Girl, em inglês), que estampa camisetas e perfis nas redes sociais, é uma ressignificação da antiga provocação “você bate como uma garota”, em um imaginário sexista de que mulheres são fracas e comparar um homem a uma mulher é uma forma de rebaixá-lo.
Outra que está cada vez mais popular e virou até um movimento é “Não É Não”. Adesivos e tatuagens foram espalhados durante o Carnaval com os dizeres em uma tentativa de combater os assédios. A frase remete também a uma ideia popular de que “quando a mulher diz não, ela quer dizer sim” – uma ideia que estimula o abuso sexual.
Outros desenhos como ilustrações de úteros e vulvas também entram para quebrar paradigmas que cercam o gênero feminino. É uma maneira de quebrar o estigma de que a menstruação, a sexualidade e a genitália feminina são sujos, frágeis, tabu ou qualquer outra colocação pejorativa que a sociedade venha a fazer sobre o corpo da mulher.