“A China é um gigante adormecido. Deixe-a dormir, pois quando ela acordar, o mundo irá tremer”.
Esta é uma tradução da frase atribuída ao Napoleão Bonaparte, que mesmo sem ter conhecido a China, estudou com muito interesse todo o seu potencial. Também é a abertura do filme “Podres de Ricos” (Crazy Rich Asians), de 2018, primeira produção hollywoodiana com casting 100% asiático.
Até aqui, duas coisas devem ter chamado a sua atenção.
Primeiro, o uso do artigo feminino ao se referir à China como “ela” ao invés de “ele”. Principalmente em inglês, que contaria neste caso com o pronome assexuado “it”. Mas não, usaram “she” mesmo.
Segundo, que o primeiro filme hollywoodiano a ser produzido no ocidente com todos os papéis principais sendo representados por atores asiáticos sair apenas em 2018, sendo que Hollywood se tornou pólo de produção cinematográfica por volta de 1910. Ou seja, levou mais de 100 anos até que a diversidade no quesito Ásia chegasse aos cinemas.
Existe um conceito no inconsciente coletivo que expressa-se através da frase atribuída a Napoleão. É a associação de uma força adormecida com o poder feminino; um contraste de potência e delicadeza em complemento que causa movimento. Movimento tremendo. Esta é também a proposta do Tao: um caminho que contempla a dualidade complementar em movimento para realizar o potencial individual, que não pode ser dito, apenas vivido.
Em meio às discussões do feminino, da igualdade, da liberdade, da expressão, do sistema e do poder, com essa coluna quero lançar um olhar asiático para compor o universo da diversidade. Porque branco ou preto é binário. E quando nos limitamos à apenas duas formas de propor o mundo, nos tornamos extremistas. Mas a diversidade é múltipla, infinita e cheia de possibilidades.
Está na hora de expandirmos as possibilidades de ser e perceber o mundo além do binário para contemplar o dual.
Este mês, a China comemora o ano 4717. O seu calendário lunar não propõe uma visão de estar à frente dos tempos atuais, mas de honrar a sua história contabilizando a sua existência desde o começo da sua civilização.
Ser a sociedade viva mais antiga existente traz um grande diferencial: ter tido mais tempo para errar e aprender em coletivo. A evolução deste processo de aprendizado culmina com o poder de influência que a China exerce hoje no mundo em aspectos econômicos e cotidianos.
Reflexões
Em meio ao despertar desse gigante, proponho reflexão ao invés de respostas. Como a filosofia, língua, medicina, tradição, arte e cultura chinesa pode complementar o nosso olhar aqui no ocidente? Existe força na suavidade e na delicadeza? O que é ser feminino a partir do olhar “yin” proposta no Oriente? Como o yin se expressa em tempos de transformação e conscientização? A busca é pela igualdade ou pelo equilíbrio? Se o gigante já acordou, onde ficam as “she” neste tremer?
Acredito que o Tao passa por fazer as perguntas certas. E neste novo ano, que chega até o outro lado do mundo agora, lanço algumas das questões que cutucam a minha alma yin, na busca por criar espaços onde possamos nos encontrar, diversas e únicas como somos, e complementares nos nossos contrastes.
Estamos vivendo tempos de transição e mudanças profundas de consciência e presença. Já entendemos que a força yang não sustenta mais o movimento que o mundo pede, mas não compreendemos ainda todos os mistérios que a energia sutil do yin propõe. A China demonstra por experiência que a chave está na nossa união. Errando e aprendendo. Mas juntas é que influenciamos o mundo.