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26 de abril de 2017

Roller Derby, um esporte de velocidade, esbarrões e tombos ‘dominado’ por mulheres

Modalidade está em crescimento no Brasil e combina estratégia e resistência sobre patins. Grupo em São Paulo é pioneiro

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Fotos de Vinicius Bock

Independentemente do biotipo, cor do cabelo, tatuagens e tipos de roupas que a mulher tenha: todas são bem-vindas!!! Esse é o lema do Roller Derby, esporte que não para de crescer no Brasil.

O Roller Derby nasceu na década de 1930 como um jogo de corrida sobre patins. Com o tempo, mudou para um esporte de ataque, defesa, estratégia e resistência. Hoje em dia, ele é praticado majoritariamente por mulheres que utilizam patins quad – ou tradicionais – em uma pista ovalada.

As partidas, chamadas de bouts, são divididas em dois tempos de 30 minutos. Com até cinco patinadoras por jam — período de até dois minutos dentro dos períodos —, a pontuadora (ou jammer) precisa ultrapassar o quadril das quatro bloqueadoras (ou blockers) do time adversário para garantir os pontos.

É aí que a diversão começa: velocidade, esbarrões e tombos pela pista na conquista ou na defesa dos pontos.

LADIES OF HELLTOWN

No Brasil já temos um registro de mais de 60 membros ativos nessa modalidade, mas um dos pioneiros em São Paulo são as “Ladies of Helltown”. Criada em 2009, é uma liga membro pleno da WFTDA (Women’s Flat Track Derby Association), campeã brasileira em 2016 e conta com 61 membros ativos.

O treinamento das “Ladies of Helltown” é dividido entre base, para quem precisa aprender do zero, às terças, aos sábados e aos domingos; e o avançado, às segundas, quartas, aos sábados e aos domingos. Além de campeonatos em outras cidades do Brasil, participam em outros países, como no “Torneo Violentango 2017” em Buenos Aires, que rolou nos dias 13,14, 15 e 16 de abril.

Por se tratar de um esporte “independente”, muitas vezes as Ligas sofrem com a falta de estrutura para treinos e jogos. E, apesar dos sete anos de treinos em locais que fogem do ideal para a prática do esporte, as Ladies of Helltown conquistaram o apoio de uma das casas de patinação de São Paulo. Desde o fim de 2016, a Mega Roller Skate Park se tornou a casa das Ladies. Com um piso mais adequado e maior segurança por conta do espaço privado, os treinos e jogos se tornaram mais profissas.

JOGADORAS

Michelle Gallon, 28 anos, diretora de Arte — que tem os derby names (nomes “de guerra” que as jogadoras adotam) de “Metal Milicious #23” e “Sailor Doom #755” —, conta que começou a praticar o esporte em 2011. Fez uma pausa entre 2014 e 2016 e, quando retornou, decidiu adotar o segundo derby name, mas explica que vive dividida entre os dois.

Sobre seu começo no esporte, Michelle conta como foi:

“Uma amiga postou uma foto com outras duas meninas toda equipada, e fiquei curiosa. Combinamos de ir a um treino e achei que era só pra aprender a patinar, ou patinar em um grupo de meninas. No dia, ela me explicou que era um esporte, e contou um pouco sobre as Ladies. Cheguei na quadra ainda sem entender muita coisa, era uma quadra apertadíssima na Vila Mariana. Foram uns cinco minutos de conversa, e de repente já estava com patins e equipamento emprestados, participando do treino e fazendo um scrimmage (tipo uma simulação de jogo), pois no dia estavam gravando alguma matéria sobre o esporte”.

E continua:

“Saí de lá ainda meio confusa, mas, pesquisando em casa, comecei a me apaixonar. Continuei a aparecer nos treinos e, bom, tô aqui até hoje.”

Outra jogadora das Ladies of Helltown é a Isabela DeLemos Buck, 28 anos, chefe de cozinha. “Lady Dyke #08” nas quadras, ela pratica Roller Derby há dois anos. Para quem se interessa pelo esporte, Isabela indica o filme “Whip It” (Garota Fantástica). Em um momento do roteiro, ela destaca o conselho que dá para qualquer garota: “Uma das garotas, ao conhecer o mundo do Roller Derby, fala para as meninas do time: ‘Vocês São minhas heroínas’, e a outra garota responde:

 ‘Ponha o seu patins e vire sua própria heroína’.

“O derby é um esporte construído por mulheres e para mulheres onde encontramos apoio esegurança para nos libertarmos de muitos receios e sermos quem realmente somos. Não há expectativas quanto ao tipo físico e os padrões de beleza”, ressalta Isabela, sobre como o roller derby empodera as mulheres.


Como um senso comum entre as jogadoras, as menina acabam virando uma família. em que treinam e crescem juntas. “Em pouco tempo, passamos a confiar mais em nós mesmas e confiamos umas nas outras dentro do time. Os treinos vão rolando, e percebemos que nossos corpos são capazes de coisas incríveis. Cada conquista, cada coisa que a gente aprende mostra o quando somos capazes. Temos meninas de todos os biotipos, as que são mais ágeis e as que são praticamente uma pedra e dão o maior trabalho pra conseguir quebrar o bloqueio. Essa percepção de que cada uma é incrível do seu jeito é muito libertadora. Você se inspira em várias delas, e ao mesmo tempo sabe que tem seu valor”, conta Michelle.

Sobres os preconceitos que as jogadoras sofrem, Michelle conta que já ouviu muitos comentários homofóbicos e machistas a respeito.

“Por ser um esporte de contato, já ouvi coisas do tipo: as minas que jogam devem ser meio machonas, que deveria tomar cuidado pra não virar lésbica, que é um lugar cheio de feminazi”.

Para ela, muita besteira:

“Sempre aquela confirmação do que a gente já sabe: tem um certo tipo e gente que não consegue ver mulher saindo do padrão e fazendo o que quer. Incomoda né?”.

Ficou a fim de conhecer e participar dos treinos? Entre em contato com elas e visite a Mega.

Mega Roller Skate Park
Rinque de patinação de 40×20 e pista para esportes radicais. **Nos dias de jogos das Ladies tem desconto na entrada.
Horário: das 14:00 às 22:00
Endereço: Rua José de Oliveira, 1011 -Casa Verde – São Paulo – SP
Facebook Mega Roller Skate Park

Ladies of Helltown:
Facebook Ladies of Helltown

Para quem tiver interesse em treinar:
afiliacao.helltown@gmail.com

Fotografias por Vinicius Bock

 

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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