Quem senta no Divã de hoje é a redação da Revista AzMina.
Perder faz parte da vida de quem topa a luta, mas algumas derrotas vêm com um baque mais duro porque são injustas. A Revista AzMina experimentou isso nas últimas semanas quando foi condenada a pagar uma indenização de R$ 2 mil a um homem por criticar comentários machistas que ele fez publicamente.
O caso correu em menos de dois meses, uma velocidade impressionante para um mundo em que pessoas pobres ficam na cadeia além da pena sob a desculpa de que não há juízes para julgar os casos. Não podemos revelar a identidade de quem nos atuou na Justiça e nem dar detalhes do processo por perigo de sofrermos ainda mais retaliações.
O sentimento é de desalento com a Justiça e com a nossa sociedade.
A postura de uma pessoa em posição privilegiada que é criticada por perpetuar a opressão de um outro grupo que vem sofrendo com violências há milênios deveria ser a de se desculpar e se deixar transformar e não a de penalizar ainda mais este grupo. A verdade é que, às vezes, parece que o correto seria que este homem nos indenizasse por pregar publicamente as coisas que defende.
Isso ter acontecido pelo menos nos ensinou algo sobre a lei. É um conceito legal, o de difamação. Nós achávamos que difamação ocorria apenas se nós publicássemos uma mentira sobre uma pessoa. Mas aprendemos que falarmos qualquer coisa que manche a reputação de alguém pode ser difamação, independente de ser mentira ou verdade. Ou seja: o homem foi machista e nós falamos isso, mas pela lei, nós estamos erradas. Para nós que fazemos jornalismo e temos de lidar com denúncias constantes de machismo, entender isso é importante.
Mas nós também achamos um absurdo que a justiça não considere uma difamação contra todas nós mulheres quando um homem diz algo machista na internet.
A Revista AzMina só é viável financeiramente a muito custo e esse baque orçamentário terá um peso na luta feminina por liberdade que só nós podemos medir. Neste momento, teríamos que retirar os recursos de um curso para treinar professores para prevenir estupros de crianças. Não queremos fazer isso.
Tampouco queremos nos intimidar e passar a não criticar o machismo por medo de retaliações.
Por isso, pedimos a ajuda de vocês para recolher, com um pouquinho de cada um de nós que acredita na injustiça dessa decisão, o valor da indenização. Quem quiser colaborar deve fazer um depósito ou transferência na conta bancária da revista, cujas informações seguem abaixo. Se recebermos qualquer doação acima do valor estipulado, ele será guardado em um fundo de segurança para processos judiciais.
Agradecemos ao apoio desta linda comunidade que temos construído e reafirmamos nossa confiança na comunicação não violenta e nossa fé de que, juntas e juntos, podemos balancear um pouco as injustiças de um mundo cão.
* Muitas pessoas têm nos questionado porque não recorremos da decisão ou buscamos nos defender de forma mais incisiva. Nós fomos aconselhadas por diversos advogados de que não teríamos chance de ganhar o caso e que sairia mais barato pagar a indenização do que pagar advogados de defesa, considerando o perfil do caso e da decisão do juiz.
Também tem um desabafo para fazer ou uma história para contar? Então senta que o divã é seu! Envie seu relato para helena.dias@azmina.com.br