Caso 1: Líder político cria censo para saber quantos romanis existe em seu país. Seu plano é poder expulsar quantos forem necessários, com uma plataforma de governo para “devolver a Itália para os italianos”.
Caso 2: Crianças Romanis são obrigadas a frequentar uma escola aonde aprendem a viver como “pessoas civilizadas” e com os costumes certos.
Caso 3: Uma mulher influente declara a um jornal que comparar ela a outras profissionais de seu ramo é como comparar “Deus a um cigano”. No mesmo jornal, em outra edição, outra diz que “o Flamenco não pertence aos ciganos ” e que “ciganos não deviam sair de seus guetos”.
Você poderia imaginar essas declarações sendo feitas há muito tempo, talvez no período da Segunda Guerra, quando ocorreu o Holocausto Cigano (0 Porrajmos). Espera-se que o anticiganismo já tivesse sido extinto. Porém, todas essas declarações foram feitas entre junho e julho de 2018.
Na Itália, o ministro do Interior Matteo Salvini está firmemente determinado a expulsar os ciganos do país, nada muito diferente das políticas de Silvio Berlusconi ou de Nicolas Sarkozy, na França, que expulsou até mesmo romanis nascidos franceses.
A escola “civilizatória” fica na Dinamarca. Sim, um país que costumamos apontar como “defensor de direitos humanos”.
Mas para quem seriam esses direitos? Será que nós temos direitos a eles?
A terceira e quarta declarações foram de personalidades espanholas, que mesmo sendo de um país com a cultura entremeada com a nossa, continua negando o nosso direito à existência.
Racismo
Em 2015, o relatório mundial da Anistia Internacional apontava que o anticiganismo, o ódio a romanis, perdia unicamente para a xenofobia contra imigrantes africanos, e suplantava a islamofobia e o antissemitismo em pelo menos sete países europeus.
E aqui cabe uma comparação interessante: judeus e romanis foram sistematicamente exterminados nos mesmos episódios. Contudo, o senso comum entende o antissemitismo como um ato criminoso.
As declarações do ministro italiano foram debatidas na União Europeia na última semana. Romanis em vários países foram para a frente das embaixadas italianas para protestar. Porém, apoiado por italianos que concordam com a expulsão em massa de romanis, Salvini usou de ironia e continua afirmando que fará o censo.
A maioria dos países da União Europeia continua fingindo que o anticiganismo não existe em seus territórios.
Daí nasce o risco de estar se desenhando um novo Porrajmos. Contudo, como dizem na Espanha, “somos o sal da Terra”. E mal eles sabem que dessa vez temos estudos, voz e meios. E faremos a Terra estremecer em nosso nome.