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12 de dezembro de 2017

15 livros incríveis lançados por mulheres em 2017

Confira uma seleção de obras literárias de autoria feminina lançadas no Brasil este ano. "Esta é apenas a ponta do iceberg - ou melhor, da fogueira! - de obras inflamam nossas letras"

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Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Elena Favilli e Francesca Cavallo (Foto: Divulgação - D); Natália Timerman (Arquivo pessoal - AP); Scholastike Mukasonga (D.); Jarid Arraes (AP); Seane Melo (AP); Amara Moira (D); Conceição Evaristo (D); Gilka Machado (D); Maria Valéria Rezende (D); Paloma Franca Amorim (Gabriela Carreira); Lívia Natália (AP); Luíza Romão (Sérgio Silva); Nina Rizzi (Mariana Botelho); Margareth Atwood (D); Yaa Gyasi (D); Adelaide Ivánova (D).

“Talvez eu estivesse menos informada quando fiz a lista de melhores livras – um jeito carinhoso de chamar livros escritos por mulheres, oras! – de 2016, mas este ano foi particularmente difícil reunir apenas 15 delas. Os retrocessos na política nacional parecem ter impulsionado a gana de escrever e publicar das manas por toda parte. Por aqui, agradecemos às deusas, afinal, quanto mais livras saindo, mais coisa boa pra ler, mais descobertas, estranhamentos e reconhecimentos nas vozes de outras que bem poderiam ser nossas.

Se boa parte dos prêmios literários continuou deixando muito a desejar no quesito representatividade em 2017 (o que foi até tema de paródia por aqui), o mesmo não aconteceu com as editoras, especialmente as pequenas e independentes, salvadoras da diversidade. Foram tantos lançamentos de livras que ficou difícil acompanhar – nem eu escapei! Depois de anos no prelo, meu algo a declarar.;’ finalmente saiu pela pequena notável Editora Com-Arte. Além das nacionais, importantes obras de autoras estadunidenses a africanas finalmente ganharam edições brasileiras e compõem a lista deste ano.

Algumas edições ficaram de fora por não serem literárias, não menos importantes: Calibã e a bruxa, um estudo sobre a relação entre a caça às bruxas e a construção do machismo capitalista da italiana Silvia Federici, editado pela Elefante; Políticas do Sexo, ensaios sobre gênero e sexualidades da estadunidense Gayle Rubin, pela pequena e promissora Editora Ubu; Os Homens Explicam Tudo Para Mim, da estadunidense Rebeca Solnit, pela Cultrix; e Para educar crianças feministas, da celebrada nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, pela Companhia das Letras – que também lançou uma nova edição de Um útero é do tamanho de um punho, da poeta Angélica Freitas. Fora o último volume da famosa tetralogia napolitana da italiana Elena Ferrante, que também foi assunto na coluna.

Esta é apenas a ponta do iceberg – ou melhor, da fogueira! – de obras literárias de autoria feminina que inflamam nossas letras:

 

Desterros, Natália Timerman, Elefante

Psiquiatra no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário de São Paulo, Natália estreou no mundo das letras transformando histórias de pacientes em literatura. A criativa edição foi tema da coluna e saiu pela Elefante, uma dessas pequenas editoras militantes dos bons livros que tem nos presenteado com ótimas surpresas.

 

Dia bonito pra chover, de Lívia Natália, Malê

Poemas com a força e a leveza do amor pelas mãos da professora da Universidade Federal da Bahia Lívia Natália. Ao lado dela, autoras e autores negros contemporâneos iniciantes e consagrados reúnem-se na corajosa editora Malê, voltada para a publicação obras literárias brasileiras, africanas ou da diáspora.

 

E se eu fosse puta?, Amara Moira, Hoo

E se eu fosse você?“, provoca a travesti, prostituta, doutoranda em literatura e colaboradora d’AzMina Amara Moira. Sua autobiografia sem papas na língua foi editada pela Hoo – livros sem barreiras de gênero, nessa tão necessária missão de tirar a literatura LGBT+ do armário.

 

Eu Preferia Ter Perdido Um Olho, Paloma Franca Amorim, Alameda

Primorosa reunião de crônicas originalmente publicadas no jornal O Liberal, em que a autora paraense narra em tom confessional suas vivências e percepções da realidade humana, compondo um texto fluido como um romance. Tivemos o prazer de gravar ela mesma lendo um trecho do livro para o projeto Só das Vivas, neste link.

 

Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis, Jarid Arraes, Pólen

A jovem autora cearense quer ser exemplo para deixar de ser exceção no meio machista do cordel, como nos contou em entrevista à coluna. As histórias reunidas na obra reconstroem as trajetórias de 15 primordiais, porém silenciadas personagens da nossa história, em um essencial trabalho de resgate, memória e empoderamento.

 

Histórias de ninar para garotas rebeldes, Elena Favilli e Francesca Cavallo, V&R

100 fábulas sobre escritoras, cientistas, atletas, presidentas, rainhas, guerreiras, mulheres extraordinárias do mundo inteiro reunidas pelas italianas Elena Favilli e Francesca Cavallo. O livro para todas as idades foi publicado graças a um financiamento coletivo que contou com mais de 20 mil apoiadores. Além das histórias inspiradoras, conta com ilustrações originais de mais de 60 artistas de vários países. Aqui, lemos um trecho dele.

 

Nossa senhora do Nilo, Scholastique Mukasonga, Nós

Inédita no Brasil, a escritora franco-ruandesa Scholastique Mukasonga narra os conflitos sócio-políticos entre as etnias tutsi, da qual faz parte, e hutu. No romance autobiográfico, um liceu para meninas retrata um microcosmo de Ruanda na década de 1970, onde se desenrolavam os antecendentes do genocídio de 1994. Premiada internacionalmente, a autora veio este ano à Flip para lançar Nossa senhora do Nilo e A Mulher dos Pés Descalços, ambos pela editora Nós.

 

O caminho de casa, Yaa Gyasi, Rocco

Romance que marca a estréia da jovem e premiada escritora Yaa Gyasi, nascida em Gana e criada nos Estados Unidos, também inédita no Brasil. A narrativa épica acompanha as trajetórias de duas irmãs ganesas e seus descendentes do século XVIII até os dias de hoje: enquanto uma se casa com um fazendeiro britânico, outra é vendida como escrava no EUA. Cada capítulo revela a perspectiva de um novo personagem, através de oito gerações.

 

O conto da aia, Margareth Atwood, Rocco

Tradução do romance The Handmaid’s Tale, de 1985, da grande escritora canadense Margareth Atwood, transformado na aclamada série de TV homônima este ano pelo serviço de streaming Hulu. A narrativa constrói uma distopia num futuro não muito distante, em que os Estados Unidos são dominados por uma seita fundamentalista cristã que obriga as raras mulheres férteis a servirem como escravas de reprodução para as famílias da elite. Um clássico feminista indispensável!

 

O martelo, Adelaide Ivánova, Garupa

Pernambucana residente na Alemanha, a fotógrafa, jornalista e poeta Adelaide Ivánova abalou as estruturas da Flip 2017 com sua performance de poesia e fotografia Fruto Estranho. Sua poesia cortante não tem medo de dizer o que se entala na garganta. Lançado em 2015 pelo Selo Douda Correa em Portugal, O Martelo é o terceiro livro de poemas da autora e chegou ao Brasil este ano pela Garupa Edições.

 

Outros Cantos, Maria Valéria Rezende, Alfaguara

Freira, educadora e militante de esquerda são apenas alguns dos adjetivos que tentam dar conta da trajetória de Maria Valéria. Santista radicada em João Pessoa, a autora de 75 anos não para de surpreender com suas palavras e ações. Foi ela uma das principais idealizadoras do encontro Mulherio das Letras, que reuniu mais de 500 produtoras de literatura na capital paraibana em outubro. Com uma boa dose de autobiografia, seu quarto romance Outros Cantos levou nada menos que os prêmios Casa de las Américas, Jabuti e São Paulo de Literatura em 2017.

 

Poesias completas, Gilka Machado, Demônio Negro

Em 1928, a carioca Gilka Machado chocava a sociedade com Meu Glorioso Pecado, primeiro livro de poesia erótica lançado por uma mulher no Brasil. Eleita a maior poeta do país em 1933, indicada como primeira escritora ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras em 1977 – posto que declinou -, a autora permaneceu esquecida durante décadas pelas editoras e pela crítica. Ao entrar em contato com a família de Gilka para uma pesquisa acadêmica, a estudante Jamyle Rkain foi convidada a reeditar suas Poesias completas. Este essencial resgate da nossa história literária saiu pelo selo Demônio Negro.

 

Ponciá Vicêncio, Conceição Evaristo, Pallas

Uma das mais celebradas autoras negras brasileiras dos últimos tempos, a mineira Conceição Evaristo dispensa apresentações, mas foi uma das primeiras indicadas aqui na coluna. Lançado em 2003, Ponciá Vicêncio narra a trajetória de uma menina negra que sai de uma fazenda onde ainda havia escravidão e emigra em busca de seus sonhos. Esgotada há anos nas livrarias, a obra finalmente ganhou uma nova edição pela Pallas, junto a outros livros da autora, como Becos da Memória e Olhos D’água.

 

Quando vieres ver um banzo cor de fogo, Nina Rizzi, Patuá

Paulista radicada em Fortaleza, a historiadora e tradutora Nina Rizzi nos surpreende com um novo livro de poemas fluidos, daqueles que convidam a interromper a correria pra ouvir uns causos na calçada. A obra saiu pela Patuá, uma das editoras que mais têm contribuído para a propagação de novas vozes literárias nos últimos anos. Sempre comprometido com a diversidade, Eduardo Lacerda edita os “patuás” praticamente sozinho e lançou mais de 40 livros escritos por mulheres só em 2017.

 

Sangria, Luiza Romão, Selo do Burro (Edição da autora)

Um soco no estômago do patriarcado é uma maneira delicada de descrever o segundo livro de poesia da atriz e diretora paulista Luiza Romão. Em 28 poemas que remetem às fases do ciclo menstrual, a poeta remonta a história do Brasil sob a perspectiva de um útero. O livro que virou vídeo-série e performance foi tema de uma coluna especial com entrevista à autora.

 

BONUS:

Ao Vivo em Goiânia, de Seane Melo

Mini e-book com quatro contos eróticos em que a jovem autora maranhense inventa histórias possíveis para famosas letras do feminejo – o sertanejo cantado por mulheres. Delicioso, pode ser lido de uma só vez acompanhado pela playlist feita pela autora.

 

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**As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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