Rede de apoio é quando um grupo de pessoas se organiza para amparar de forma contínua uma família que cresceu. A função dessa rede é oferecer tempo e afeto para as crianças, auxiliando os cuidadores oficiais, enquanto eles se dedicam a outras atividades, como trabalhar, fazer compras ou até mesmo ir a uma festa.
É diferente de ajuda, que é uma ação pontual para resolver um problema específico, como buscar o filho de uma amiga na escola, enquanto ela termina um trabalho. Para ser rede de apoio é fundamental que tenha, antes de tudo, uma relação permanente de segurança e confiança com quem se pode contar em outros momentos também.
O termo rede apoio se popularizou nos últimos anos e serviu para naturalizar o fato de que a criação de filhos não pode ser um processo solitário e nem de uma única pessoa. Mas, ao mesmo tempo, criou-se uma demanda, endereçada diretamente às mulheres, gerando mais culpa e sensação de fracasso quando ela não consegue auxílio.
Mulheres no papel de cuidadoras
Colocar no colo da mãe a criação e tudo que diz respeito a ela, não é algo que vem de agora, como a gente conta neste vídeo. Até o século 19 a maioria das famílias vivia e trabalhava em ambientes rurais. Com a urbanização e o crescimento das cidades, essas pessoas começam a morar longe de suas famílias e comunidades. Ao mesmo tempo, acontece uma divisão sexual do trabalho: os homens ficam com o papel de provedor e as mulheres com o de cuidadora.
Elas viram as responsáveis por todo o cuidado com os filhos, que serão a futura força de trabalho para a indústria. Mas quando as mulheres entram no mercado de trabalho, essas funções se acumulam.
Sem aparatos públicos de qualidade, como creches e políticas efetivas – a exemplo de uma licença paternidade suficiente -, fica no ambiente doméstico o trabalho de suprir todas as necessidades desse Estado ausente. No lugar dele, entraria a rede de apoio. Só que essa solução, para muitas mulheres, é falha.
Expectativas frustradas
Um dos desafios de encontrar pessoas disponíveis para formar rede de apoio tem a ver com o discurso individualista, fruto da sociedade contemporânea que desencoraja a ideia de comunidade. “A gente está há muito tempo vivendo de forma narcisista, dizendo que não é obrigado a nada, pregando o distanciamento de tudo”, argumenta a psicanalista Fê Lopes. Ao mesmo tempo, existe um imperativo para que se busque ajuda e companhia.
A interpretação machista do conceito rede de apoio, que sempre associa figuras femininas a esse lugar, é mais um obstáculo na formação dessas conexões, com as mulheres já sobrecarregadas, desempenhando outras funções de cuidado. É comum que seja delas a responsabilidade de acompanhar outros familiares em consultas ou tratamentos, por exemplo.
“A gente onera mais as relações entre mulheres, eu não vejo homens discutindo como criar uma rede”, pontua Fê. Não é raro que homens participativos na criação dos filhos fiquem na posição de “apoio” da mãe, quando, na verdade, são os responsáveis, inclusive legalmente, pelas crias.
Choque de opiniões
Há ainda outros possíveis confrontos que dificultam color essa ideia de “aldeia” em prática. O choque de geração e de vivências, por exemplo, pode tensionar essa relação de suporte muitas vezes. A frase “rede de apoio não opina”, que circula em redes sociais, vem daí. “Às vezes, tudo o que aquela avó acreditava vai ser revisto e pode ser um lugar de dor, não só de amor”, pontua Lua Barros, especialista em parentalidade e mãe de 4 filhos.
A estudante de direito, Monike Braga, mãe de Enrico, 2 anos, que conta com uma familiar na rotina diária, passou por isso. “Eram perguntas do tipo: ah, mas ele ainda não come doce? Também recebi críticas porque ele dormia na minha cama”, além dos questionamentos, ainda havia as ordens que a faziam se sentir destituída do lugar de mãe. Situações que fizeram com que ela aderisse ao bordão de que apoio não é conselho. Cansadas de conflitos como esses, muitas mães optam por babás, creches e escolinhas, quando podem.
Para não abrir mão do suporte dado por familiares e amigos, mas evitar conflitos, especialistas em parentalidade sugerem diálogos claros sobre o que cada pessoa entende por apoio, o que é esperado pela família e o que pode ser oferecido pela rede.
Rede de apoio paga?
Babás são profissionais que precisam ser identificadas como trabalhadoras, porque é assim que ofícios são regulamentados e direitos são respeitados. Embora seja chamada de rede de apoio paga – por cumprir uma função importante no maternar -, é fundamental que esses serviços sejam reconhecidos.
É possível manifestar afeto e gratidão sem recorrer a frases como a: “é praticamente da família”, que acabam borrando os limites de uma relação que precisa ser profissional e, portanto, bem remunerada, como AzMina já pontuou neste vídeo.
Rede de apoio não deve ser um assunto só de mulheres, e nem um privilégio. Cobrar os pais pelo cuidado dos filhos, e o Estado por direitos e aparatos públicos, é um jeito de colocá-los no centro da discussão. Mães precisam de amparo para continuar com as suas carreiras, mas também para sair com as amigas, fazer exercício e terem tempo para si.