Uma palavra – para muitos fora de moda – define exemplarmente o conturbado espírito de época em que vivemos: dialética. Ao longo da última década, não há como negar que as mulheres, os negros, a comunidade LGBT e outros segmentos sociais estigmatizados conquistaram importantes vitórias. Elas vão desde as políticas públicas afirmativas, como os sistemas de cotas, passando por legislações protetivas, como a Lei Maria da Penha, até as decisões judiciais progressistas – como a garantia do casamento civil a pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como causa e efeito desses importantes marcos institucionais, os brasileiros foram obrigados a repensar suas posturas: felizmente, já não pega bem – como num passado não tão distante – expor publicamente preconceitos contra “vadias”, “macacos” ou “bichas”.
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Por outro lado, também não há como negar que a conquista de direitos por parte de grupos sociais historicamente negligenciados pelo Estado e apartados pela sociedade tem sido recentemente acompanhada de uma pesada reação, orientada em boa medida pelos valores dos fundamentalistas cristãos. Desde as históricas jornadas de junho de 2013, e com picos de eletricidade durante as eleições gerais do ano passado, uma verdadeira caça às bruxas impera sobretudo nas redes sociais, mas também nos debates de carne e osso.
Resumindo a ópera, o que está em curso no Brasil é – para usar um termo consagrado na Inglaterra e nos Estados Unidos – uma guerra cultural. De um lado, estão aqueles e aquelas que desejam escancarar as portas de todos os armários: as mulheres que já não toleram serem culpadas pelo estupro de seus corpos ou os gays e lésbicas que desejam andar de mãos dadas e beijar em público sem o risco de terem suas cabeças alvejadas por uma lâmpada.
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Do outro lado, aparecem aqueles que, em nome da “família tradicional” e de uma suposta moralização da sociedade, desejam impor ideais baseados, em última instância, no ideário do cristianismo fundamentalista. Em tempo: é importante ressaltar que nem todos os cristãos comungam desses valores. Mas são justamente os fundamentalistas que têm roubado a cena política para pautar projetos de lei declaradamente conservadores, como o famigerado Estatuto do Nascituro, que restringe os direitos das mulheres sobre seus próprios corpos em caso de estupro, ou o recente Estatuto da Família – que visa a transformar em lei a noção de que apenas pai, mãe e filhos podem de fato formar uma família.
É justamente um retrato desse contexto de guerra cultural que o documentário #Eu_JeanWyllys busca compor. Usando a trajetória do deputado no Congresso Nacional como fio condutor da história, mas sem fazer propaganda política gratuita, o filme pretende abrir as entranhas do coração do poder no país e direcionar o refletor para debates importantes que têm absolutamente tudo a ver com o dia-a-dia das pessoas. É, enfim, um documentário sobre um momento político decisivo do país que precisa ser feito e ser visto. Por isso, a equipe de #Eu_JeanWyllys iniciou uma campanha de crowdfunding para ressarcir os custos e finalizar o filme. Se você se identifica com o tema, colabore e ajude a divulgar: catarse.me/eujean.
Confira o teaser do filme!