“Fui chefe por 13 meses, de uma equipe a qual fazia parte há cinco anos, e da qual continuei integrando depois de sair desta função. Éramos um grupo que variou de nove a treze pessoas, a maioria mulheres, sendo três homens, que nomearei como F., C. e B., com idades entre 21 e 60 anos.
Logo que assumi o cargo, percebi que durante as reuniões que fazíamos periodicamente os homens tinham comportamentos diferentes. Primeiro, se atrasavam. Depois, passaram a esquecer dos encontros, mesmo tendo um cronograma previamente definido e à vista de todos.
Além disso, levavam chimarrão (hábito comum no sul do Brasil porém não em ambientes de trabalho em empresas), conversavam entre eles e com frequência interrompiam a mim e às demais mulheres. Na hora do cafezinho, passaram a fazer, em alto e bom som, comentários machistas e preconceituosos:
“Bom mesmo era na década de 40, quando as mulheres ficavam em casa cuidando da cozinha”.
“Sim, posso trocar o galão de água. As mulheres reclamam por direitos iguais mas daí têm que pedir para um homem trocar o galão”.
C. tinha 20 anos a mais de idade e de empresa do que eu. Quando ele me interrompia e eu não parava de expor minhas ideias, ele aumentava o tom de voz ou saía da sala. Depois soube que esse comportamento se repetia com outras colegas do setor, sendo bem frequente com as estagiárias na minha ausência.
Ele pedia diversos “favores”, ou seja, tarefas não pertinentes ao estágio. Gritava por elas no corredor e, quando elas se negavam a realizar as tarefas, as ameaçava, dizendo que, com sua influência na instituição, elas perderiam o estágio.
F. e B., os outros dois homens do setor, não se pronunciavam. Era como se nada estivesse acontecendo. Eles conversavam bastante e tinham contato social fora do trabalho. As mulheres, no entanto, foram percebendo o que estava acontecendo e aos poucos se articulando para se protegerem. Vieram falar comigo e eu reportei à minha chefia imediata – também uma mulher.
No entanto, somente após dez meses de inúmeras reclamações à diretoria, C. foi convidado a se retirar e transferido para outro local. Mas quando retornei à minha função anterior, a meu pedido, F. assumiu a chefia, ele voltou a participar das reuniões e a colaborar prontamente com todas as diretrizes e solicitações de F.
Vale lembrar que o convite para ser ser chefe surgiu de outra mulher. Ela conhecia meu modo de trabalhar e acreditou que eu poderia desempenhar bem a função. Ela estava certa, foi uma experiência desgastante, mas que me fez crescer profissionalmente e emocionalmente. E que ampliou meu panorama sobre os desafios de ser mulher, de ser uma trabalhadora. Me tornou mais forte e corajosa.
Então, para as manas eu digo: Não tenham medo, sejam chefes!”
Quem senta no Divã hoje é a Juliane.
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