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8 de fevereiro de 2018

Resistência, afirmação, representação: nesse carnaval tem bloco feminista para todos os gostos!

Luisa Toller lista os blocos feministas pelo Brasil, e conta um pouco da história de cada um

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Crédito Fernando Frazão Agencia Brasil

Ah, o carnaval!

Queridinho de uns, terror de outros. Dizem que dura quatro dias, mas várias cidades já estão em festa há semanas.

E como podemos aproveitar a folia para falar de feminismo? A lista de assuntos é grande! Podemos falar de assédio, fantasias, objetificação das mulheres, escolha de repertório, representatividade e hierarquias de trabalho dentro dos blocos.

Antes comecemos pelo teatro italiano: Colombina, Pierrô e Arlequim.

Quem nunca se fantasiou ou cantou marchinhas desses três personagens?

Bom, não vou me ater à questão do triângulo amoroso nem aos estereótipos de desejo e relacionamento. Só escolhi fazer essa introdução para contar que depois de conversar com muitas mulheres que organizam e participam de blocos de carnaval cheguei à conclusão de que novamente caímos no conflito de sermos reduzidas a um único papel. Explico:

Além de contatos em São Paulo e no Rio de Janeiro (que são lugares confortáveis para mim por serem residência atual e cidade natal respectivamente) conheci histórias de blocos em Macapá, João Pessoa, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre – registro aqui apenas os que me responderam.

O curioso é que ao dar início às perguntas eu já tinha certa expectativa com as respostas para poder escrever meu texto. E adivinhem? A  colombina não é uma só!

De fato existem alguns pontos em comum: a maioria dos blocos nasceu nos últimos dez anos (com exceção do Ilu Obá de Min) a partir do desejo de ocupar a rua e espaços que o carnaval até então não tinha dado para as mulheres, seja produzindo, compondo, cantando ou tocando instrumentos de percussão e sopro.

Sim, já houve o tempo em que tudo era mato mas hoje podemos listar diferentes caminhos e é por aí que te convido a pular.

Os blocos podem ser:

  • Espaço educativo de formação musical (principalmente de ritmistas). É o caso d’As Calungas (João Pessoa) e d’As Batucas (Porto Alegre).
  • Uma das vias para a militância política e proteção social das mulheres. Filhas da Luta (Macapá) e Bloco das Perseguidas (Brasília) são exemplos que colocam pautas políticas nos temas de seus desfiles e até sofrem ofensas e perseguição.
  • Experimentação de novas formas de organização horizontais, ou seja, não hierárquicas. O Siribloco (Curitiba) teve seu nome escolhido por inúmeras razões, dentre elas a ideia de andar para os lados e explorar o trabalho colaborativo.
  • Afirmação e preservação de identidade cultural e religiosa. O Ilu Obá de Min é um dos blocos mais famosos e respeitados da cidade de São Paulo e tem como objetivo alimentar a força e o protagonismo das mulheres negras através de música, religião e história.
  • Espaço para falar e representar a sexualidade. Toco-Xona (Rio de Janeiro) e Siga Bem Caminhoneira (São Paulo) nasceram para lutar pela visibilidade lésbica.
  • Uma forma bem-humorada de criticar pensamentos e ações machistas cristalizados em nosso cotidiano. O início do Mulheres Rodadas (Rio de Janeiro) foi graças a um comentário machista de rede social que dizia “eu não mereço mulher rodada”. Hoje elas comemoram os 4 anos de existência e as multidões que as seguem.

Os desafios? Vou focar em três torcendo para daqui a um ano não serem os mesmos. Em primeiro lugar a questão levantada por Verônica Borges (ritmista de vários blocos em São Paulo e da escola Nenê de Vila Matilde) de termos poucas mulheres puxando baterias.

Este é um espaço de liderança que ainda resiste no argumento da “falta de pessoas capacitadas”, o que me soa duvidoso visto os inúmeros blocos e oficinas de percussão que existem.

E isso porque não tenho tempo nem linhas suficientes para problematizar a participação feminina nas baterias de escolas de samba. Então fiquemos nas puxadoras.

Em segundo, que permaneça forte a luta pelo direito ao festejo – ou como dizem as Mulheres Rodadas, o “direito de ralar a tcheca”. Vários comerciais de produtos relacionados ao carnaval tem abordado a questão do assédio e a opinião pública segue assustadoramente batendo na tecla de que “a mulher tem que se dar o respeito”.

Por último, que os blocos organizados por mulheres se espalhem por aí, para que cada vez menos sejam enxergados como excentricidade ou reduzidos a um único papel de colombina entre pierrôs e arlequins. A ponto de eu nem precisar escrever esse texto. Imagina?

Serviço:

MACAPÁ

Filhas da Luta – saída 13/02 às 14h no Teatro das Bacabeiras

JOÃO PESSOA

As Calungas – saída 08/02 às 18h no Beco da Cachaçaria da Philipéia

BRASÍLIA

Bloco das Perseguidas – saída 10/02 às 15h em frente ao edifício BB (201 norte)

RIO DE JANEIRO

Mulheres Rodadas – saída 14/02 às 9h

SÃO PAULO

Ilu Obá de Min – saída 09/02 às 19h na Praça da República

Siga Bem Caminhoneira – saída 18/02 às 14h na Rua Treze de Maio 886

ITABIRITO (MG)

Sagrada Profana – 12/02 às 20:30 na Travessa Domingos Pereira

CURITIBA

Siribloco – saída 08/02 às 18:43 na Rua Doutor Claudino dos Santos 44

Agradecimentos: Renata Rodrigues, Cida Airam, Mariana Duarte, Katiusca Lamara, Constance Madureira, Biba Meira, Debora Thome, Ana Cecilia Assis, Baby, Verônica Borges, Anne Pariz e Jul Pagul.

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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